Depois de uma dura infância chegou a tocar para o Papa
Actualizado 25 de Agosto de 2013
Danilo Picart / Portaluz
Quando o jovem Jorge Salamanca Filgueira interpretou pela primeira vez a peça musical «O Oboé de Gabriel» - a recordada melodia da película A Missão - o fez perante uma multitudinária audiência na cidade de Valdivia (Chile). Os emotivos sons da melodia, tocaram de tal forma a sua intimidade espiritual que lhe pareceu estar só, ali, perante Deus, tocando o seu violino. A delinquência começava assim a ser parte do passado…
Infância dolorosa e com antecedentes delituosos
Os abusos e os maus-tratos do seu padrasto, fizeram que Jorge se revelasse violento e aos 8 anos de idade o seu nome aparecia já como delinquente infantil nos registos policiais por roubo e furto. “Eu vivia com a minha mãe, o meu pai faleceu quando eu era menino, produto de um ataque ao coração. Nisso, chegou o meu padrasto, com quem tivemos uma má relação. Lutávamos, discutíamos, havia sempre discussões, e assim começou tudo… Consumia neoprene (cola volátil) na bolsa”.
Não se sentia amado nem protegido e a sociedade pagava o preço. Faltava o alimento em casa e tudo era discussão ao ponto que – assinala o jovem – o seu padrasto atirava-lhe os pratos à cara. “Foi uma etapa forte, cheia de dor e sofrimento, onde eu me aferrei ao lado das amizades por fora, onde andei por maus caminhos, roubando, delinquindo”.
E assim, sem amor e convivendo com a vadiagem, numa das suas tantas detenções, Salamanca recebeu o veredicto do tribunal da cidade, quem determinou o seu ingresso num centro de reabilitação. “Estava numa etapa onde me perguntavam porque fazia essas coisas. Nesse então não queria nada, não suportava ninguém, e aí disseram-me que me integrara num centro de aprendizagem, onde eu poderia aprender, e mudaria a minha mente, onde me dariam conselhos que foram efectivos para mim”.
Os bons samaritanos e um violino
Assim, com a intenção de superar-se, Jorge ingressou no Centro Integral amilia-Niño (Cifan) do bispado de Valdivia. “Quando me enviaram, receberam-me com os braços bem abertos. Sempre preocupados connosco, davam-nos muito apoio psicológico, amoroso, integral; líamos, estudávamos muito, incentivavam-nos a fazer coisas interessantes, saíamos e assim nós nos esquecíamos dos problemas que tínhamos em casa e já não andávamos delinquindo, porque tínhamos a mente ocupada noutras coisas”.
Estando no centro, Jorge aproveitava as suas jornadas para fazer tarefas, praticar desportos de salão e divertir-se. Mas a experiência vital estava por chegar. Foi o ano 2002 quando o convidaram a enfrentar um desafio onde encontraria algo mais que música. “No princípio não encontrei muito sentido em formar parte de uma orquestra, não sabia para que me ia servir a música, além disso não tinha ideia do que era um violino”.
O rezar do Pai Nosso
Mas venceu os seus temores e ingressou a estudar violino. Os ensaios, as partituras e as cordas, sem querê-lo, originaram o nascimento do novo Jorge. “A mudança mais importante começou com um tutor que eu tinha, quando um dia me disse «tu sempre tens que olhar para cima». Tinha razão, eu podia aspirar a algo melhor. Como não tinha pai, serviam-me os seus conselhos. Muitas vezes ele me disse que fosse mais comunicativo com Deus”.
A sua identificação com aquele tutor, bom samaritano, dobrou as suas resistências e com fé simples começou a balbuciar diariamente o Pai Nosso. “Sempre pedia ao meu paizinho que nos cuidasse”. Em pouco tempo, quando cumpriu os 19 anos, Jorge recebeu os seus primeiros sacramentos… “Não tinha a minha primeira comunhão, nem a minha confirmação, nem baptismo. Tudo isso o fiz quase junto, foi precioso”.
Música para o Papa
Os avances que conquistava lentamente com o seu empenho e fé, foram coroados com uma inédita proposta. “Começamos a tocar em diferentes igrejas da região de Valdivia, partilhando a nossa música, o que sabíamos. Nesse percurso deu-se-nos a possibilidade de que uma fundação italiana, que apadrinha crianças em risco social, nos visse quando estávamos recém-começando… E levaram-nos a tocar à Itália!”.
A data ansiada tinha chegado e o ano 2009 Jorge era um dos dezasseis meninos-músicos que tiveram a possibilidade de visitar Milão e entregar uma saudação musical ao Papa Bento XVI na Praça de São Pedro em Roma. “Tocámos quando o Papa passou no seu carro, abençoou-nos e fazia-nos sinais, como se soubesse que íamos a estar ali. Mostrámos a nossa arte, a nossa música para ele”, recorda com emoção.
Hoje com os seus 23 anos, sonhando em trabalhar em algum depósito mineiro para ser um bom pai de família, Jorge reconhece que Deus, através da música, mudou a sua vida. “A entrega à música foi-me mudando o sentido das coisas. Aprendi o que era o respeito, a confiança, os valores, Deus… Que antes não conhecia”.
A música levou-o à paz |
Danilo Picart / Portaluz
Quando o jovem Jorge Salamanca Filgueira interpretou pela primeira vez a peça musical «O Oboé de Gabriel» - a recordada melodia da película A Missão - o fez perante uma multitudinária audiência na cidade de Valdivia (Chile). Os emotivos sons da melodia, tocaram de tal forma a sua intimidade espiritual que lhe pareceu estar só, ali, perante Deus, tocando o seu violino. A delinquência começava assim a ser parte do passado…
Infância dolorosa e com antecedentes delituosos
Os abusos e os maus-tratos do seu padrasto, fizeram que Jorge se revelasse violento e aos 8 anos de idade o seu nome aparecia já como delinquente infantil nos registos policiais por roubo e furto. “Eu vivia com a minha mãe, o meu pai faleceu quando eu era menino, produto de um ataque ao coração. Nisso, chegou o meu padrasto, com quem tivemos uma má relação. Lutávamos, discutíamos, havia sempre discussões, e assim começou tudo… Consumia neoprene (cola volátil) na bolsa”.
Não se sentia amado nem protegido e a sociedade pagava o preço. Faltava o alimento em casa e tudo era discussão ao ponto que – assinala o jovem – o seu padrasto atirava-lhe os pratos à cara. “Foi uma etapa forte, cheia de dor e sofrimento, onde eu me aferrei ao lado das amizades por fora, onde andei por maus caminhos, roubando, delinquindo”.
E assim, sem amor e convivendo com a vadiagem, numa das suas tantas detenções, Salamanca recebeu o veredicto do tribunal da cidade, quem determinou o seu ingresso num centro de reabilitação. “Estava numa etapa onde me perguntavam porque fazia essas coisas. Nesse então não queria nada, não suportava ninguém, e aí disseram-me que me integrara num centro de aprendizagem, onde eu poderia aprender, e mudaria a minha mente, onde me dariam conselhos que foram efectivos para mim”.
Os bons samaritanos e um violino
Assim, com a intenção de superar-se, Jorge ingressou no Centro Integral amilia-Niño (Cifan) do bispado de Valdivia. “Quando me enviaram, receberam-me com os braços bem abertos. Sempre preocupados connosco, davam-nos muito apoio psicológico, amoroso, integral; líamos, estudávamos muito, incentivavam-nos a fazer coisas interessantes, saíamos e assim nós nos esquecíamos dos problemas que tínhamos em casa e já não andávamos delinquindo, porque tínhamos a mente ocupada noutras coisas”.
Estando no centro, Jorge aproveitava as suas jornadas para fazer tarefas, praticar desportos de salão e divertir-se. Mas a experiência vital estava por chegar. Foi o ano 2002 quando o convidaram a enfrentar um desafio onde encontraria algo mais que música. “No princípio não encontrei muito sentido em formar parte de uma orquestra, não sabia para que me ia servir a música, além disso não tinha ideia do que era um violino”.
O rezar do Pai Nosso
Mas venceu os seus temores e ingressou a estudar violino. Os ensaios, as partituras e as cordas, sem querê-lo, originaram o nascimento do novo Jorge. “A mudança mais importante começou com um tutor que eu tinha, quando um dia me disse «tu sempre tens que olhar para cima». Tinha razão, eu podia aspirar a algo melhor. Como não tinha pai, serviam-me os seus conselhos. Muitas vezes ele me disse que fosse mais comunicativo com Deus”.
A sua identificação com aquele tutor, bom samaritano, dobrou as suas resistências e com fé simples começou a balbuciar diariamente o Pai Nosso. “Sempre pedia ao meu paizinho que nos cuidasse”. Em pouco tempo, quando cumpriu os 19 anos, Jorge recebeu os seus primeiros sacramentos… “Não tinha a minha primeira comunhão, nem a minha confirmação, nem baptismo. Tudo isso o fiz quase junto, foi precioso”.
Música para o Papa
Os avances que conquistava lentamente com o seu empenho e fé, foram coroados com uma inédita proposta. “Começamos a tocar em diferentes igrejas da região de Valdivia, partilhando a nossa música, o que sabíamos. Nesse percurso deu-se-nos a possibilidade de que uma fundação italiana, que apadrinha crianças em risco social, nos visse quando estávamos recém-começando… E levaram-nos a tocar à Itália!”.
A data ansiada tinha chegado e o ano 2009 Jorge era um dos dezasseis meninos-músicos que tiveram a possibilidade de visitar Milão e entregar uma saudação musical ao Papa Bento XVI na Praça de São Pedro em Roma. “Tocámos quando o Papa passou no seu carro, abençoou-nos e fazia-nos sinais, como se soubesse que íamos a estar ali. Mostrámos a nossa arte, a nossa música para ele”, recorda com emoção.
Hoje com os seus 23 anos, sonhando em trabalhar em algum depósito mineiro para ser um bom pai de família, Jorge reconhece que Deus, através da música, mudou a sua vida. “A entrega à música foi-me mudando o sentido das coisas. Aprendi o que era o respeito, a confiança, os valores, Deus… Que antes não conhecia”.
in
Sem comentários:
Enviar um comentário