Entrevista com Oliver Rey, matemático francês: Não existe razão sem fé
Roma, 20 de Agosto de 2013
O que a ciência tem a ver com a verdade da qual Cristo nos
fala? É suficiente o conhecimento científico para se chegar à verdade?
Por que a ciência parece tão distante da caridade e do amor? Como foi
possível que a ciência se tornasse tão dogmática, justo ela, que,
dizia-se, iria resolveria todos os problemas do mundo? E acima de tudo:
por que o conhecimento científico evita as perguntas sobre o sentido da
vida humana e sobre a hipótese da existência de Deus?
Estas e outras perguntas recebem algumas respostas de Oliver Rey,
doutor em matemática do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França
(CNRS), autor do livro Itinerário da Desorientação: O Papel da Ciência no Absurdo Contemporâneo [livre tradução do título original Itinéraire de l'égarement: Du rôle de la science dans l'absurdité contemporaine], cuja edição italiana foi apresentada no último domingo durante o Meeting de Rímini.
Flora Crescini, professora de literatura e de história, provocou
durante a apresentação do livro: “Por que o homem de hoje considera mais
importante que a terra gire em torno do sol do que procurar o
significado da existência?”.
Para aprofundar, ZENIT conversou com o professor Oliver Rey, hoje professor de filosofia na Sorbonne.
“O meu livro não é contra a ciência. Ele critica o lugar que a
ciência ocupa na sociedade moderna. Pascal distinguia três ordens de
conhecimento: a ordem do corpo; a do espírito; e a da caridade. A
desorientação que eu aponto acontece porque, quando a ciência é
considerada como fonte principal e única da verdade, ela chega a
aniquilar a diferença das ordens e, em particular, passa a marginalizar a
ordem da caridade”.
“A verdade é um conhecimento exacto que confirma o que se ama. O
problema da ciência moderna, como princípio, é pôr os seus objectos fora
do bem e do mal e cortar a relação afectiva que nos coloca em contacto com
a realidade”.
“Pode-se dispor de conhecimentos exactos, mas eles não são suficientes
para conhecermos a totalidade da verdade. Isto não quer dizer que a
ciência não tenha valor, já que os conhecimentos exactos são extremamente
úteis”.
“O problema acontece quando a ciência é entendida como o manancial da
verdade. É evidente que, quando Cristo diz 'Eu sou a verdade', a
verdade tem um sentido que tem pouco a ver com a ciência como nós a
entendemos hoje. O problema não é a ciência em si mesma, mas o papel que
se dá à ciência”.
Quanto à pergunta sobre a relação entre ciência e Deus, o professor
explica que, durante milhares de anos, os seres humanos pesquisaram a
realidade indagando sobre o Criador. As primeiras universidades na
Europa se interessaram pelo conhecimento da natureza porque ela era
criação divina. O próprio Darwin, antes de fazer as observações sobre a
natureza, tinha estudado teologia para ser pastor. Na época moderna, tem
prevalecido a tendência a se contrapor a ciência à religião, o que fez
nascer muitos problemas de desorientação.
“A ciência é um modo de amar a Deus”, diz Rey, “e, por isso, a
desorientação que eu menciono é precisamente o fato de que a ciência
virou uma forma de detestar a Deus”. Sobre a oposição entre ciência e
fé, promovida por alguns, o professor francês afirma: “Pessoalmente, eu
não entendo as razões da oposição entre fé e razão. Eu acho evidente que
é a fé que dá fundamento à razão”.
in
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