Não é a primeira vez que o Twitter entra em cena nos momentos de culto
Roma, 19 de Agosto de 2013
Baptizada de “Domingo Twitter”, embora a sua periodicidade
seja mensal, uma iniciativa do pastor inglês da comunidade Saint Paul,
em Weston-Super-Mare, convida seus fiéis a twittar durante a cerimónia
religiosa. O pastor interage lendo e comentando os twittes durante a
pregação. Com que objectivo? Atrair mais pessoas, especialmente os
jovens, mediante o uso das novas tecnologias.
Não é a primeira vez que o Twitter entra em cena nos momentos de
culto. Na Páscoa de 2009, o pastor da igreja de Next Level fez uma
campanha que previa o uso do Twitter para as pessoas compartilharem a
sua experiência de Deus (veja um vídeo sobre a campanha em http://youtu.be/Kk8ucBlkMRo).
Esses dois exemplos vêm do âmbito protestante, onde a concepção da
ceia do Senhor é diferente da missa no âmbito católico: para o católico,
a missa é “o” momento de culto a Deus por excelência e exige a máxima
das atenções. Na Eucaristia, por meio do sacerdote, Cristo actualiza o
seu sacrifício na cruz.
Mas tem havido experiências parecidas de uso do Twitter durante a
celebração eucarística em contextos especificamente católicos: por
exemplo, em grandes encontros como a JMJ de Madrid em 2011 e do Rio de
Janeiro em 2013, quando, tanto na vigília quanto na missa de
encerramento, as equipes de redes sociais enviaram actualizações para
milhares de pessoas fisicamente distantes, para ajudá-las a experimentar
e “viver” aqueles momentos.
É uma prática adequada? A argumentação a favor do uso das redes
sociais durante actos litúrgicos, incluindo a missa, costuma apresentar
motivos de comunhão: “Não é uma forma de aproximar da Igreja as pessoas
que estão afastadas dela?”, pergunta-se.
Esse tipo de experimento parece ambíguo. Na tentativa de incluir os
ausentes na experiência em andamento, esquece-se que a missa é “o” ato
de culto a Deus, e não um espectáculo a ser compartilhado virtualmente.
Além disso, a comunhão na Igreja é comunhão com Cristo, e o seu lugar e
momento eminente são os sacramentos, de modo especial a Eucaristia, que
precisam de uma presença física real, não virtual.
É verdade que as redes sociais podem facilitar a experiência
psicológica, mas a missa não pode se reduzir a uma experiência desse
tipo. Quem participa nela pode se privar de estímulos e sentimentos
durante o desenvolvimento do ato litúrgico e nem por isso a missa perde o
esplendor do seu significado; o sacramento, afinal, não depende de
estados emocionais.
Se o aspecto psicológico fosse a base de uma experiência de comunhão,
a eficácia de um twitte ou de uma actualização de status no Facebook
dependeria mais do momento emotivo das pessoas do que da graça
sobrenatural, derivada, no caso específico da missa, do sacramento da
Eucaristia, ou seja, da acção de Deus nas pessoas.
É significativo que as várias contas associadas à Santa Sé no Twitter
não postem mensagens durante as missas do papa, mas somente depois
delas, com finalidade informativa.
No caso de grandes eventos como a Jornada Mundial da Juventude, o
Encontro Mundial das Famílias, os Congressos Eucarísticos
Internacionais, etc., as pessoas que alimentam as redes sociais durante
as missas já assistiram ou assistirão a outra missa no mesmo dia
(afinal, as missas de domingo são sempre de preceito).
E resta uma questão: o uso das redes sociais equivale ao que acontece quando se transmite a missa pela televisão ou pelo rádio?
São duas situações diferentes.
A transmissão via TV ou rádio deve “deixar o sacramento falar”, sem
outros intermediários. As missas não têm “narradores”: o protagonista é o
sacramento. Ainda assim, deve ficar claro que acompanhar uma
transmissão da missa não substitui a participação do crente na igreja.
Pelo rádio ou pela TV não é possível receber a Eucaristia, que é o
centro da missa, e é sabido que as transmissões se voltam principalmente
às pessoas que não podem ir até a igreja por motivos de doença ou por
impedimento grave. Nos casos normais, prevalece o preceito de assistir à
missa todo domingo.
A propósito de todo este assunto, é muito valioso o documento
“Transmissões das celebrações litúrgicas por rádio e televisão: directrizes e recomendações”, do Secretariado de Meios de Comunicação
Social da Conferência Episcopal Espanhola, em tradução de documento
original alemão.
No livro Cyberteologia (p. 100-101), o pe. Antonio Spadaro
vai até a essência do tema ao falar da relação entre as redes sociais e a
liturgia: “O risco fundamental das experiências litúrgicas em rede é o
de uma concepção ‘mágica’, capaz de diluir, até cancelar, o sentido da
comunidade e da mediação eclesial ‘encarnada’, para, em vez disso,
exaltar o papel da técnica que torna o evento possível”. O aqui e agora,
o tempo e o espaço real, continuam sendo o critério de autenticidade e
de orientação.
Não parece que twittar durante a missa, portanto, seja aconselhável.
in
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