A racionalidade da fé, na Universidade de Pequim
Actualizado 27 de Agosto de 2013
Tempi.it
Como cada Verão, em Rímini, Itália, congregaram-se muitos milhares de pessoas atraídas pelas actividades deste encontro anual que organiza o movimento católico Comunhão e Libertação. Encheram o Auditorium para escutar Tianyue Wu, docente de filosofia na mais prestigiada universidade chinesa, a Universidade de Pequim. Tempi.it o recolhe assim.
Família católica, mas ele não tinha fé
«Procedo de uma família de tradição católica, mas foi difícil para mim abraçar a religião», conta no Auditorium do Meeting de Rímini Tianyue Wu, docente de filosofia na mais prestigiada universidade chinesa, a Universidade de Pequim.
«No colégio ensinavam-nos que as religiões são só superstições, monstros que pertencem a um passado morto e enterrado», explica Tianyue Wu.
Uma sociedade de cinismo e utilitarismo
«A sociedade chinesa é uma sociedade totalmente secularizada, na qual está vigente o lema “Carpe diem” e os chineses, devido ao grande crescimento económico unido a um empobrecimento espiritual, assumiram uma atitude cínica e utilitarista».
Num país onde já os primeiros missionários tiveram dificuldade para «introduzir a ideia de um Deus transcendente entre gente convencida de que só existe a vida na terra e nada mais», Tianyue explica como o «governo comunista piorou a situação, assumindo o ateísmo como parte essencial da sua ideologia, expulsando os missionários, encerrando igrejas e impedindo aos sacerdotes que ficaram o exercício da sua função».
Apesar da mudança que teve lugar depois da morte de Mao e a reabertura das igrejas «o clima na China continuou sendo hostil à religião. Isto representa para um crente, por uma parte, uma dificuldade e, por outra, uma vantagem, porque obriga a interrogar-se sobre as razões da própria fé e a ter uma profunda consciência de si mesmos».
Morreu o avô... E escutou as orações
Tianyue, que «cresceu cantando a Internacional» enquanto os seus pais tentavam transmitir-lhe essa fé «que eu não conseguia entender», mudou há 14 anos «quando morreu o meu avô e eu, na igreja, ouvi os cânticos e as orações dos fiéis. Finalmente entendi essas palavras e senti a profunda tranquilidade que só Deu, que está sempre comigo, podia dar-me».
Depois de ter devorado todos os livros cristãos que podia encontrar na pequena cidade na qual tinha nascido, próxima da metrópole de Guangzhou, Tianyue decidiu inscrever-se em filosofia, «apesar de que a tradição da minha família me empurrava para a medicina: mas eu pensava que curar as almas era tão importante como curar o corpo».
Filosofia medieval, católica... Para chineses
Convertido já em docente de filosofia antiga e medieval da Universidade de Pequim, Tianyue começou a propor aos seus estudantes um argumento insólito para os chineses:
«Partilhava cursos sobre Santo Tomás, São Agostinho e Aristóteles. Mas o seu pensamento e as suas argumentações racionais distam muito da tradição filosófica chinesa».
Não foi uma casualidade que nos primeiros anos se apresentassem pouquíssimos estudantes aos seus cursos. Mas se Tianyue insistiu foi por causa de uma ideia muito concreta: «Creio que a razão e o pensamento racional, numa sociedade secularizada como é a sociedade chinesa, representam a melhor maneira de aproximar-se da fé. Se houvesse abandonado, utilizando argumentos mais da moda, não haveria dado a possibilidade aos meus estudantes de descobrir quão unidas estão a fé e a razão. E hoje são muitos os que frequentam os meus cursos».
"Não escondo a ninguém a minha fé"
E assim, mediante a filosofia, Tianyue leva hoje o seu «testemunho de católico à sociedade»:
«Não sou tão ingénuo como para pensar que um enfoque teórico possa fazer que uma pessoa acredite», explica diante de umas duas mil pessoas, «mas a muito entusiasta insistência protestante não me convence. Não escondo a ninguém a minha fé, mas não quero obrigar a abraçá-la».
«Estou convencido de que mostrando a racionalidade da fé, também mediante a leitura da Summa teológica de Santo Tomás, lanço uma semente ao coração dos meus estudantes que lhes ajudará a enfrentar-se numa época secularizada como a nossa, tão cheia de desafios».
Tianyue Wu explicou no Meeting de Rímini como Tomás de Aquino e Santo Agostinho aproximam fé e razão dos estudantes chineses |
Tempi.it
Como cada Verão, em Rímini, Itália, congregaram-se muitos milhares de pessoas atraídas pelas actividades deste encontro anual que organiza o movimento católico Comunhão e Libertação. Encheram o Auditorium para escutar Tianyue Wu, docente de filosofia na mais prestigiada universidade chinesa, a Universidade de Pequim. Tempi.it o recolhe assim.
Família católica, mas ele não tinha fé
«Procedo de uma família de tradição católica, mas foi difícil para mim abraçar a religião», conta no Auditorium do Meeting de Rímini Tianyue Wu, docente de filosofia na mais prestigiada universidade chinesa, a Universidade de Pequim.
«No colégio ensinavam-nos que as religiões são só superstições, monstros que pertencem a um passado morto e enterrado», explica Tianyue Wu.
Uma sociedade de cinismo e utilitarismo
«A sociedade chinesa é uma sociedade totalmente secularizada, na qual está vigente o lema “Carpe diem” e os chineses, devido ao grande crescimento económico unido a um empobrecimento espiritual, assumiram uma atitude cínica e utilitarista».
Num país onde já os primeiros missionários tiveram dificuldade para «introduzir a ideia de um Deus transcendente entre gente convencida de que só existe a vida na terra e nada mais», Tianyue explica como o «governo comunista piorou a situação, assumindo o ateísmo como parte essencial da sua ideologia, expulsando os missionários, encerrando igrejas e impedindo aos sacerdotes que ficaram o exercício da sua função».
Apesar da mudança que teve lugar depois da morte de Mao e a reabertura das igrejas «o clima na China continuou sendo hostil à religião. Isto representa para um crente, por uma parte, uma dificuldade e, por outra, uma vantagem, porque obriga a interrogar-se sobre as razões da própria fé e a ter uma profunda consciência de si mesmos».
Morreu o avô... E escutou as orações
Tianyue, que «cresceu cantando a Internacional» enquanto os seus pais tentavam transmitir-lhe essa fé «que eu não conseguia entender», mudou há 14 anos «quando morreu o meu avô e eu, na igreja, ouvi os cânticos e as orações dos fiéis. Finalmente entendi essas palavras e senti a profunda tranquilidade que só Deu, que está sempre comigo, podia dar-me».
Depois de ter devorado todos os livros cristãos que podia encontrar na pequena cidade na qual tinha nascido, próxima da metrópole de Guangzhou, Tianyue decidiu inscrever-se em filosofia, «apesar de que a tradição da minha família me empurrava para a medicina: mas eu pensava que curar as almas era tão importante como curar o corpo».
Filosofia medieval, católica... Para chineses
Convertido já em docente de filosofia antiga e medieval da Universidade de Pequim, Tianyue começou a propor aos seus estudantes um argumento insólito para os chineses:
«Partilhava cursos sobre Santo Tomás, São Agostinho e Aristóteles. Mas o seu pensamento e as suas argumentações racionais distam muito da tradição filosófica chinesa».
Não foi uma casualidade que nos primeiros anos se apresentassem pouquíssimos estudantes aos seus cursos. Mas se Tianyue insistiu foi por causa de uma ideia muito concreta: «Creio que a razão e o pensamento racional, numa sociedade secularizada como é a sociedade chinesa, representam a melhor maneira de aproximar-se da fé. Se houvesse abandonado, utilizando argumentos mais da moda, não haveria dado a possibilidade aos meus estudantes de descobrir quão unidas estão a fé e a razão. E hoje são muitos os que frequentam os meus cursos».
"Não escondo a ninguém a minha fé"
E assim, mediante a filosofia, Tianyue leva hoje o seu «testemunho de católico à sociedade»:
«Não sou tão ingénuo como para pensar que um enfoque teórico possa fazer que uma pessoa acredite», explica diante de umas duas mil pessoas, «mas a muito entusiasta insistência protestante não me convence. Não escondo a ninguém a minha fé, mas não quero obrigar a abraçá-la».
«Estou convencido de que mostrando a racionalidade da fé, também mediante a leitura da Summa teológica de Santo Tomás, lanço uma semente ao coração dos meus estudantes que lhes ajudará a enfrentar-se numa época secularizada como a nossa, tão cheia de desafios».
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