Depois de seis meses, a decisão de "esconder do mundo" ainda leva a reflectir. Mas a verdade, como afirmou o papa emérito, é que esta escolha é o resultado de uma "experiência mística" com Deus
Roma, 19 de Agosto de 2013
Talvez ele precisasse de respirar um ar diferente daquele
dos Jardins do Vaticano, ou, ao terminar o verão, ele quisesse rever a
casa onde passou oito Verões e apreciar a vista do Lago Albano. O fato é
que, ontem à tarde, Bento XVI se permitiu uma curta viagem até Castel
Gandolfo, vila que é a residência de verão dos papas desde o papa Urbano
VIII, onde passou os primeiros dois meses após a renúncia do ministério
petrino.
O papa emérito - de acordo com relatos de fontes do Vaticano -
passou cerca de três horas na cidade, caminhou nos jardins do palácio,
recitou o rosário e assistiu a um concerto de piano. Retornou à noite
para o mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano, onde decidiu viver
"escondido do mundo" após a decisão histórica de 11 de Fevereiro.
Acompanharam Bento XVI na tarde de ontem, seus “anjos da guarda": as memores domini, Loredana,
Carmela, Cristina e Manuela, quatro leigas consagradas, do movimento
Comunhão e Libertação, que cuidavam do apartamento, da capela e do
guarda-roupa de Ratzinger nos anos de seu pontificado, e continuam a
ajudá-lo, mesmo agora, após a renúncia.
Papa Francisco teria"cedido" o lugar ao predecessor, convidando-o para
passar o verão, nas colinas Albani, já que ele ficaria em Roma por
"compromissos de trabalho". O papa emérito recusou o convite, evitando
assim o possível rumor de uma transferência e mantendo o perfil
discreto.
Cerca de seis meses após o anúncio que chocou o mundo, a decisão de
Ratzinger de viver uma vida oculta ainda suscita reflexões e
questionamentos. Alguns tiveram o privilégio de ouvir dos lábios do papa
emérito as razões desta escolha. Apesar da vida de clausura, Ratzinger
concede, esporadicamente, e apenas em certas ocasiões, algumas visitas
muito particulares no Mater Ecclesiae. Durante estes encontros, o
ex-pontífice não revela segredos, não faz declarações que podem pesar
como "as palavras do outro papa",e mantém a discrição que sempre o
caracterizou.
No máximo observa com satisfação as maravilhas que o Espírito Santo
está fazendo com o seu sucessor, ou fala sobre si mesmo, de como a
escolha de renunciar foi inspiração de Deus.
Assim teria dito Bento XVI a um convidado destes encontros raros que
teve a graça de encontrá-lo algumas semanas atrás, em Roma. "Deus me
disse", foi a resposta do papa emérito à pergunta sobre por que ele quis
renunciar. Ele imediatamente esclareceu que não houve qualquer tipo de
atitude por aparência ou algo parecido, mas foi uma"experiência
mística", em que o Senhor suscitou em seu coração um “desejo absoluto"de
ficar a sós com Ele, recolhido em oração.
A atitude de Bento XVI, portanto, não foi uma fuga do mundo, mas um
refúgio em Deus para viver do Seu amor. Ratzinger disse -revelou a
fonte,que prefere permanecer anónima - que esta "experiência
mística"perdura por todos esses longos meses, aumentando cada vez mais o
desejo de uma relação única e directa com o Senhor. Além disso, o papa
emérito revelou que quanto mais observa o carisma de Francisco, mais
compreende o quanto essa escolha foi a vontade de Deus.
in
Sem comentários:
Enviar um comentário