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terça-feira, 20 de agosto de 2013

Bento XVI em Castel Gandolfo entre caminhada, rosário e concerto

Depois de seis meses, a decisão de "esconder do mundo" ainda leva a reflectir. Mas a verdade, como afirmou o papa emérito, é que esta escolha é o resultado de uma "experiência mística" com Deus


Roma, 19 de Agosto de 2013


Talvez ele precisasse de respirar um ar diferente daquele dos Jardins do Vaticano, ou, ao terminar o verão, ele quisesse rever a casa onde passou oito Verões e apreciar a vista do Lago Albano. O fato é que, ontem à tarde, Bento XVI se permitiu uma curta viagem até Castel Gandolfo, vila que é a residência de verão dos papas desde o papa Urbano VIII, onde passou os primeiros dois meses após a renúncia do ministério petrino.

O papa emérito - de acordo com relatos de fontes do Vaticano - passou cerca de três horas na cidade, caminhou nos jardins do palácio, recitou o rosário e assistiu a um concerto de piano.  Retornou à noite para o mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano, onde decidiu viver "escondido do mundo" após a decisão histórica de 11 de Fevereiro.

Acompanharam Bento XVI na tarde de ontem, seus “anjos da guarda": as memores domini, Loredana, Carmela, Cristina e Manuela, quatro leigas consagradas, do movimento Comunhão e Libertação, que cuidavam do apartamento, da capela e do guarda-roupa de Ratzinger nos anos de seu pontificado, e continuam a ajudá-lo, mesmo agora, após a renúncia.

Papa Francisco teria"cedido" o lugar ao predecessor, convidando-o para passar o verão, nas colinas Albani, já que ele ficaria em Roma por "compromissos de trabalho". O papa emérito recusou o convite, evitando assim o possível rumor de uma transferência e mantendo o perfil discreto.

Cerca de seis meses após o anúncio que chocou o mundo, a decisão de Ratzinger de viver uma vida oculta ainda suscita reflexões e questionamentos. Alguns tiveram o privilégio de ouvir dos lábios do papa emérito as razões desta escolha. Apesar da vida de clausura, Ratzinger concede, esporadicamente, e apenas em certas ocasiões, algumas visitas muito particulares no Mater Ecclesiae. Durante estes encontros, o ex-pontífice não revela segredos, não faz declarações que podem pesar como "as palavras do outro papa",e mantém a discrição que sempre o caracterizou.

No máximo observa com satisfação as maravilhas que o Espírito Santo está fazendo com o seu sucessor, ou fala sobre si mesmo, de como a escolha de renunciar foi inspiração de Deus.

Assim teria dito Bento XVI a um convidado destes encontros raros que teve a graça de encontrá-lo algumas semanas atrás, em Roma. "Deus me disse", foi a resposta do papa emérito à pergunta sobre por que ele quis renunciar. Ele imediatamente esclareceu que não houve qualquer tipo de atitude por aparência ou algo parecido, mas foi uma"experiência mística", em que o Senhor suscitou em seu coração um “desejo absoluto"de ficar a sós com Ele, recolhido em oração.

A atitude de Bento XVI, portanto, não foi uma fuga do mundo, mas um refúgio em Deus para viver do Seu amor. Ratzinger disse -revelou a fonte,que prefere permanecer anónima - que esta "experiência mística"perdura por todos esses longos meses, aumentando cada vez mais o desejo de uma relação única e directa com o Senhor. Além disso, o papa emérito revelou que quanto mais observa o carisma de Francisco, mais compreende o quanto essa escolha foi a vontade de Deus.



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