Stefano Gennarini C-Fam conta como a ideologia contrária à vida e à família natural é capaz de formular e condicionar os documentos das Comissões das Nações Unidas
Roma, 07 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) Junno Arocho
Tem causado polémica no âmbito internacional o Relatório do Comité das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança que critica
fortemente a Igreja Católica. O que é mais surpreendente é que o Comité
da ONU não se limitou apenas a lançar críticas venenosas, mas pretendeu
que a Santa Sé se retire da oposição às políticas abortivas e pare de se
opor aos casamentos e adopções por casais homossexuais. Mons. Silvano
Maria Tomasi, Observador permanente da Santa Sé junto aos Departamentos
da ONU em Genebra, argumentou que o relatório em questão foi formulado e
escrito por pessoas que têm fortes preconceitos contra o Vaticano.
Stefano Gennarini, director do Centro de Estudos Legais C-FAM ,
também está convencido de que o relatório da Comissão tenha sido escrito
e utilizado como uma ferramenta contra a Igreja Católica. C-FAM,
"Instituto para a família e os Direitos Humanos" com sede em Nova York e
Washington, foi fundada em 1990 como resposta ao apelo do Beato João
Paulo II para que os católicos estejam presentes em praça pública. Para
saber mais detalhes, ZENIT entrevistou Stefano Gennarini.
***
ZENIT: O que é o C-FAM e qual é o papel que desempenha na ONU?
Gennarini: C-FAM está comprometida todos os dias em seguir e
aprofundar tudo o que acontece nas Nações Unidas, com particular ênfase
para as questões da família e da vida. As informações e entrevistas
recolhidas são difundidas por um boletim semanal conhecido como "Friday
Fax" (O fax da sexta-feira). Como associação, C-FAM participou dos
principais encontros e conferências relativas aos temas sociais, como a
Conferência do Cairo do 1994, e é reconhecida junto ao Conselho Económico e Social das Nações Unidas.
ZENIT: O que você acha das recomendações divulgadas pelo Comité das Nações Unidas sobre os direitos da Criança?
Gennarini: Eu estou acostumado a ver como os funcionários dos
departamentos das Nações Unidas conseguem elaborar documentos
extravagantes. Neste caso, estou preocupado com aqueles que irão ler
estas observações. É uma pena que o Comité sobre os Direitos da Criança
tenha escolhido tomar esse caminho. Dessa forma, estão minando o
trabalho da ONU na promoção e no respeito dos direitos humanos. Com este
documento a credibilidade deste departamento foi posta em discussão:
agora nenhum país tomará a sério as observações do Comité, porque é
evidente que se trata de um documento politicamente e ideologicamente
tendencioso.
ZENIT: Portanto, você não está surpreso por este comportamento?
Gennarini: Realmente não. Há anos existem grupos ideologicamente
militantes do aborto e do matrimónio e adopção gay; grupos que são
maioria nos departamentos de organismos das Nações Unidas. Estes grupos
gozam de generosas doações provenientes dos países do Norte e daqueles
europeus. Sua ideologia distorce a realidade, de tal forma que embora
nenhum tratado mencione o aborto a orientação sexual e questões
semelhantes, eles são capazes de inserir argumentações ideológicas nos
documentos oficiais. Inserindo argumentações ideológicas distorcem a
interpretação jurídica. É uma pena, porque as indicações dos comités de
vigilância dos departamentos da ONU poderiam desempenhar um papel
importante no ajudar os países a fazer respeitar os direitos humanos.
Pelo contrário, o debate foi todo dirigido à promoção do aborto e da
homossexualidade. Este modo de actuar alimenta o cepticismo daqueles que
criticam as Nações Unidas e especialmente o Departamento para a promoção
e o respeito dos Direitos Humanos. O ataque contra a Igreja Católica
estava no ar. Os partidários de certas ideologias estão sempre tentando
manchar a imagem pública da Santa Sé. Para eles, o Vaticano é o inimigo
público número um. Não suportam que a Santa Sé se oponha a violações da
dignidade humana. Se não fosse o trabalho da delegação vaticana junto às
Nações Unidas e da Secretaria de Estado, o aborto e a sodomia poderiam
já ter sido declarados como direitos humanos universais. A Santa Sé é a
única delegação da ONU que não aceita qualquer ambiguidade sobre
questões que afectam a dignidade dos meninos e das meninas. Em geral, as
delegações dos diferentes Países não estão dispostas a lutar para
defender o nascituro.
ZENIT: Mons. Tomasi, Observador Permanente da Santa Sé na
ONU, em Genebra, disse numa entrevista que o relatório “foi escrito”
antes mesmo de que a Santa Sé fizesse a sua apresentação à comissão. É
verdade?
Gennarini: É um facto. Mons. Tomasi está simplesmente afirmando o que
muitos daqueles que trabalham nas Nações Unidas já sabem. A verdade é
que os documentos não são escritos por especialistas que compõem o corpo
de monitorização dos tratados. Esses especialistas não são compensados
pelo trabalho que fazem e trabalham sobre estas questões apenas um par
de semanas por ano. Quem está realmente no controle desses processos é o
pessoal das Nações Unidas e do Departamento do Alto Comissariado para
os Direitos Humanos que trabalham em tempo integral em Genebra para
preparar relatórios, observações e recomendações. Assim, quando os
especialistas reuniram-se com a Santa Sé em Janeiro e falaram com Mons.
Tomasi, elogiaram o trabalho da Santa Sé para proteger as crianças. E,
no entanto, foi tudo inútil, porque os burocratas das Nações Unidas já
tinha decidido as suas observações.
ZENIT: Então é verdade o que disse o arcebispo, ou seja, que
detrás das observações do Comité tinha uma boa parte das organizações
não governamentais prováveis a favor do casamento gay e do aborto?
Gennarini: Sem dúvida. Os países nas Nações Unidas reclamaram muitas
vezes a falta de transparência na forma como os comités de vigilância
interagem com as organizações não-governamentais. Muitas vezes, as
informações fornecidas pelos países membros são ignoradas e as Comissões
se baseiam quase exclusivamente em informações provenientes desses
grupos. A mesma Comissão acusou a Santa Sé de provocar as violências
contra os homossexuais, condenou a Rússia por ter emanado uma lei que
protege os menores de informações que poderiam influenciar negativamente
a sua saúde, enganando-lhes que os actos homossexuais são iguais aos de
uma relação sexual entre um homem e uma mulher. Grupos homossexuais
querem que as suas escolhas sexuais sejam abraçadas por toda a sociedade
e por isso a ONU é um outro instrumento para alcançar este objectivo. É
uma pena que uma série de organizações que promovem o aborto e o matrimónio gay, os direitos sexuais para as crianças e coisas do tipo
tenham conseguido uma tal força dentro dos organismos das Nações Unidas.
Estamos falando de organizações fortes e mundialmente respeitadas como
Amnesty International e a Comissão Internacional dos juristas e de
outros grupos de mais recente formação, como o Centro para os direitos
reprodutivos e Human Rights Watch. O que aconteceu nos últimos 30 anos é
que muitas organizações para os direitos humanos (cujo objectivo era
afirmar direitos civis e políticos durante a Guerra fria) se
encontraram sem causa após a queda do Muro de Berlim. Então,
concentraram a sua atenção sobre os direitos sexuais. O que eles querem é
transformar a autonomia sexual desenfreada em uma norma fundamental dos
direitos humanos. O aborto e a homossexualismo são simplesmente as
manifestações mais extremas da autonomia sexual desenfreada. Nos países
ocidentais, onde esta autonomia sexual ganhou um lugar privilegiado,
essas organizações foram financiadas por mais de 20 anos com milhares de milhões de
dólares colocados à sua disposição para pagar litígios, educação, lobby e
outros projectos para promover as suas causas.
ZENIT: Neste contexto como é que C-FAM actua como uma
instituição voltada para os direitos humanos e familiares? Como vocês
têm a intenção de reagir a este relatório da ONU?
Gennarini: C-FAM lançou uma petição em apoio da Santa Sé:
www.defendthevatican.org. Esperamos apontar aos nossos amigos nas
Nações Unidas mais um exemplo de abuso por parte de comités da ONU. Nos
últimos três anos, temos trabalhado em estreita colaboração com os
diplomatas na Assembleia Geral das Nações Unidas para reformar os órgãos
previstos pelo tratado e permitir-lhes funcionar correctamente no
futuro. É importante que estes especialistas tenham em conta este
trabalho. É o único modo de garantir que se evite no futuro opiniões
extravagantes desse tipo. Até que os especialistas possam interpretar os
tratados como quiserem, isso continuará a acontecer. E, naturalmente,
continuaremos a tratar esses temas em www.c-fam.org
Tradução de Thácio Siqueira
(07 de Fevereiro de 2014) © Innovative Media Inc.
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