Comunhão a divorciados? Aclara-o o padre G. Carbone
Muitos pares que dão o, sim quero na Igreja, na realidade não sabem o que dizem sim... |
Actualizado 23 de Fevereiro de 2014
ReL
Por causa do consistório de cardeais que está reflectindo sobre os problemas da família e o matrimónio, o dominicano Giorgio Carbone publicou em La Bussola Quotidiana esta reflexão, que ReL recolhe pelo seu interesse.
Que crêem as pessoas que é o matrimónio?
«É um contracto»: esta é a resposta mais frequente quando pergunto a grupos de pessoas de idade heterogénea, casadas ou prometidas, que é o matrimónio.
Depois, pergunto qual é o fim, a meta última do matrimónio. E as respostas mais frequentes são: «O amor, a família, os filhos».
Raramente alguém responde: «A santidade dos cônjuges», que é a resposta correcta.
Não estou em posição de dizer a importância estatística destas respostas dentro de um amplo grupo de população. Mas para nossa análise basta saber por agora que está muito difundido o convencimento de que o matrimónio é um contracto que tem como meta o amor e/ou os filhos. E disso estão convencidos quase todos, crentes e não, esposos jovens e anciãos, prometidos e solteiros.
Verdades esquecidas
Esta convicção demonstra pelo menos um facto: a nível normal perderam-se duas verdades sobre o matrimónio.
A primeira verdade esquecida é que o matrimónio, mais que um contracto, é um sacramento. O contracto desde o ponto de vista formal é um acordo entre duas ou mais partes que tem por objecto bens de carácter patrimonial. Mas o matrimónio é outra coisa, é sacramento, quer dizer, uma res sacra, uma aliança entre uma mulher e um homem que tem em Deus a sua origem, a sua consistência e o seu fim.
Porque é Deus Amor quem chama os esposos ao amor recíproco: o matrimónio não é um encontro fortuito, mas sim uma chamada divina, uma vocação cujo actor é Deus. Jesus o disse: “O que Deus uniu, não o separe o homem” (Marcos 10, 9).
Em segundo lugar, Deus, ao fazer experimentar a sua misericórdia, a sua ternura e a sua paciência ao cônjuge, chama este cônjuge a comunicar ao outro a mesma misericórdia, ternura e paciência recebidas: isto significa ser ministros de Deus no sacramento do matrimónio.
Os cônjuges, vivendo juntos e amando-se, se intercambiam o que receberam de Cristo e realizam assim uma comunhão divina e não só humana, comunhão humano-divina que é similar à que há entre Cristo e a Igreja, comunidade dos crentes como se expressa em Efésios 5, 25-32: "Maridos, amai as vossas mulheres como Cristo amou a Igreja e se entregou a si mesmo por ela (…) Grande mistério é este, diz respeito a Cristo e à Igreja”.
Em terceiro lugar, Deus é o fim, quer dizer, o fim do matrimónio, porque no dia do casamento o cônjuge acolhe a pessoa do outro cônjuge com vista a Cristo, quer dizer, para levá-lo a Cristo, para caminhar juntos até o Senhor: é uma vocação comum à santidade.
E é esta a segunda verdade esquecida do matrimónio: a santidade, quer dizer, o desejo de conversão a Cristo e de conformar-se a Ele em tudo, na mentalidade e nos gestos concretos.
Olhar horizontal ou degradante?
Que o matrimónio se reduza a um contracto ou a um convencionalismo social e que se tenha perdido o seu destino à santidade são o resultado de um olhar, não horizontal, mas sim degradante da existência humana.
Expulsamos Deus das nossas considerações, já não nos esforçamos em conformar a nossa mentalidade à de Cristo, por Ele mesmo manifestada nos Evangelhos, pelo que a consequência é a perca do sentido da existência, do significado da relação matrimonial que funda a existência humana.
Sem dúvida, viver a fé teologal significa propiamente pensar segundo os pensamentos de Deus, quer dizer, sintonizar a nossa inteligência, a nossa mentalidade, os nossos convencimentos com o pensamento de Jesus Cristo.
Além disso, a difusão acrítica da opinião segundo a qual o matrimónio é um contracto, pelo que a santidade já não se considera a sua meta, deveria fazer-nos considerar que frequentemente os matrimónios que vemos celebrados na igreja na realidade não são sacramentos; quer dizer, são matrimónios nulos.
Os esposos, ainda que dizem sim com os lábios, na realidade não crêem no matrimónio como crê Jesus e a sua Igreja.
Os esposos têm uma concepção mundana do matrimónio, é um contracto, e como sucede com todos os contractos que estão submetidos à total disponibilidade das partes, estas podem rescindir do mesmo quando queiram.
Por outro lado, ao ser um sacramento, é uma realidade que é de Cristo, tem uma origem, uma consistência e um fim divinos.
Quando dizem sim não dizem sim
Ainda que dizem sim com os lábios, consideram que o matrimónio dura enquanto haja sentimento de amor.
Por outro lado, o matrimónio funda-se sobre o amor recebido de Deus e, portanto, é para sempre, como também é para sempre o amor que Deus tem por nós.
Ainda que dizem sim com os lábios, os esposos não se acolhem totalmente como pessoas porque excluem positivamente a possibilidade de ter filhos recorrendo de maneira habitual à anticoncepção.
Efectivamente, o cônjuge que usa métodos anticonceptivos, precisamente com o gesto sexual que deveria significar a doação total de si ao outro, na realidade não se doa totalmente porque reserva para si a capacidade de converter-se em pai ou mãe: portanto, disse uma grande mentira ao amor total.
O pastoral em relações fracassadas
As recentes discussões sobre a atitude pastoral para as pessoas que vivem no fracasso de um matrimónio, e que talvez passaram a uma convivência ou a um matrimónio civil, não podem prescindir destas duas verdades antes recordadas porque são verdades evangélicas.
A Igreja, como comunidade de crentes, tem a vocação de ser esposa de Cristo, evidentemente fiel e não incrédula.
Portanto, está chamada a anunciar sempre a verdade do matrimónio indissolúvel porque este é o ensinamento de Cristo seu esposo: basta ler Marcos 10,5-9; Mateus 19,4-9; Lucas 16,18.
Todos nós crentes, se queremos viver a virtude teologal da fé, advertimos a exigência de obedecer e de uniformar a nossa mentalidade ao ensinamento de Cristo Senhor. Ao mesmo tempo, não podemos amar renunciando à verdade e não podemos conhecer a verdade sem amar: o conhecimento da verdade e do amor do bem são movimentos estruturais e identificativos do ser humano.
Em razão da verdade e do amor não podemos gerar ilusões em ninguém e, portanto, nem sequer podemos fazer pensar que a praxis da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimónio esteja próxima de mudar-se, ou bem que depois do Sínodo dos bispos de Outubro de 2014 as pessoas divorciadas e casadas pelo civil serão absolvidas e admitidas na comunhão eucarística.
Se as pessoas divorciadas e que voltaram a casar pelo civil forem admitidas à comunhão eucarística, a comunidade dos crentes renunciaria a ser fiel a Cristo que ensina a indissolubilidade do matrimónio.
Ideias práticas para melhorar
Como conclusão resumo uns critérios práticos:
1. preparar os noivos ao matrimónio de maneira mais séria e completa, fazendo conhecer que o matrimónio é uma coisa de Cristo e não dos esposos, e que é uma vocação divina à santidade;
2. considerar que todos os sacramentos são um dom que a Igreja recebe de Cristo, e não são um direito que há que reivindicar. Isto vale também para a comunhão eucarística;
3. agilizar os processos canónicos concernentes à verificação da nulidade do sacramento do matrimónio;
4. demolir a difundida opinião segundo a qual os divorciados que voltam a casar estão excomungados. Melhor, o que se faz é acolher a estes crentes e fazê-los saber que ainda que vivam numa condição objectivamente desordenada como é a convivência com uma pessoa que não é o próprio cônjuge, podem e, é mais, devem viver a fé, a esperança, a caridade, participar na Missa, rezar juntos e individualmente, viver a penitência e o desejo de conversão e que a dor e a amargura de não poder receber a eucaristia tem um valor salvífico que pode levar à sincera conversão do seu coração a Cristo Senhor.
(Tradução de Helena Faccia Serrano, Alcalá de Henares)
Conheça também a receita da pastoral de separados e divorciados de Toulon: grupos de oração e paciência
A opinião do padre Santiago Martín sobre esta questão
ReL
Por causa do consistório de cardeais que está reflectindo sobre os problemas da família e o matrimónio, o dominicano Giorgio Carbone publicou em La Bussola Quotidiana esta reflexão, que ReL recolhe pelo seu interesse.
Que crêem as pessoas que é o matrimónio?
«É um contracto»: esta é a resposta mais frequente quando pergunto a grupos de pessoas de idade heterogénea, casadas ou prometidas, que é o matrimónio.
Depois, pergunto qual é o fim, a meta última do matrimónio. E as respostas mais frequentes são: «O amor, a família, os filhos».
Raramente alguém responde: «A santidade dos cônjuges», que é a resposta correcta.
Não estou em posição de dizer a importância estatística destas respostas dentro de um amplo grupo de população. Mas para nossa análise basta saber por agora que está muito difundido o convencimento de que o matrimónio é um contracto que tem como meta o amor e/ou os filhos. E disso estão convencidos quase todos, crentes e não, esposos jovens e anciãos, prometidos e solteiros.
Verdades esquecidas
Esta convicção demonstra pelo menos um facto: a nível normal perderam-se duas verdades sobre o matrimónio.
A primeira verdade esquecida é que o matrimónio, mais que um contracto, é um sacramento. O contracto desde o ponto de vista formal é um acordo entre duas ou mais partes que tem por objecto bens de carácter patrimonial. Mas o matrimónio é outra coisa, é sacramento, quer dizer, uma res sacra, uma aliança entre uma mulher e um homem que tem em Deus a sua origem, a sua consistência e o seu fim.
Porque é Deus Amor quem chama os esposos ao amor recíproco: o matrimónio não é um encontro fortuito, mas sim uma chamada divina, uma vocação cujo actor é Deus. Jesus o disse: “O que Deus uniu, não o separe o homem” (Marcos 10, 9).
Em segundo lugar, Deus, ao fazer experimentar a sua misericórdia, a sua ternura e a sua paciência ao cônjuge, chama este cônjuge a comunicar ao outro a mesma misericórdia, ternura e paciência recebidas: isto significa ser ministros de Deus no sacramento do matrimónio.
Os cônjuges, vivendo juntos e amando-se, se intercambiam o que receberam de Cristo e realizam assim uma comunhão divina e não só humana, comunhão humano-divina que é similar à que há entre Cristo e a Igreja, comunidade dos crentes como se expressa em Efésios 5, 25-32: "Maridos, amai as vossas mulheres como Cristo amou a Igreja e se entregou a si mesmo por ela (…) Grande mistério é este, diz respeito a Cristo e à Igreja”.
Em terceiro lugar, Deus é o fim, quer dizer, o fim do matrimónio, porque no dia do casamento o cônjuge acolhe a pessoa do outro cônjuge com vista a Cristo, quer dizer, para levá-lo a Cristo, para caminhar juntos até o Senhor: é uma vocação comum à santidade.
E é esta a segunda verdade esquecida do matrimónio: a santidade, quer dizer, o desejo de conversão a Cristo e de conformar-se a Ele em tudo, na mentalidade e nos gestos concretos.
Olhar horizontal ou degradante?
Que o matrimónio se reduza a um contracto ou a um convencionalismo social e que se tenha perdido o seu destino à santidade são o resultado de um olhar, não horizontal, mas sim degradante da existência humana.
Expulsamos Deus das nossas considerações, já não nos esforçamos em conformar a nossa mentalidade à de Cristo, por Ele mesmo manifestada nos Evangelhos, pelo que a consequência é a perca do sentido da existência, do significado da relação matrimonial que funda a existência humana.
Sem dúvida, viver a fé teologal significa propiamente pensar segundo os pensamentos de Deus, quer dizer, sintonizar a nossa inteligência, a nossa mentalidade, os nossos convencimentos com o pensamento de Jesus Cristo.
Além disso, a difusão acrítica da opinião segundo a qual o matrimónio é um contracto, pelo que a santidade já não se considera a sua meta, deveria fazer-nos considerar que frequentemente os matrimónios que vemos celebrados na igreja na realidade não são sacramentos; quer dizer, são matrimónios nulos.
Os esposos, ainda que dizem sim com os lábios, na realidade não crêem no matrimónio como crê Jesus e a sua Igreja.
Os esposos têm uma concepção mundana do matrimónio, é um contracto, e como sucede com todos os contractos que estão submetidos à total disponibilidade das partes, estas podem rescindir do mesmo quando queiram.
Por outro lado, ao ser um sacramento, é uma realidade que é de Cristo, tem uma origem, uma consistência e um fim divinos.
Quando dizem sim não dizem sim
Ainda que dizem sim com os lábios, consideram que o matrimónio dura enquanto haja sentimento de amor.
Por outro lado, o matrimónio funda-se sobre o amor recebido de Deus e, portanto, é para sempre, como também é para sempre o amor que Deus tem por nós.
Ainda que dizem sim com os lábios, os esposos não se acolhem totalmente como pessoas porque excluem positivamente a possibilidade de ter filhos recorrendo de maneira habitual à anticoncepção.
Efectivamente, o cônjuge que usa métodos anticonceptivos, precisamente com o gesto sexual que deveria significar a doação total de si ao outro, na realidade não se doa totalmente porque reserva para si a capacidade de converter-se em pai ou mãe: portanto, disse uma grande mentira ao amor total.
O pastoral em relações fracassadas
As recentes discussões sobre a atitude pastoral para as pessoas que vivem no fracasso de um matrimónio, e que talvez passaram a uma convivência ou a um matrimónio civil, não podem prescindir destas duas verdades antes recordadas porque são verdades evangélicas.
A Igreja, como comunidade de crentes, tem a vocação de ser esposa de Cristo, evidentemente fiel e não incrédula.
Portanto, está chamada a anunciar sempre a verdade do matrimónio indissolúvel porque este é o ensinamento de Cristo seu esposo: basta ler Marcos 10,5-9; Mateus 19,4-9; Lucas 16,18.
Todos nós crentes, se queremos viver a virtude teologal da fé, advertimos a exigência de obedecer e de uniformar a nossa mentalidade ao ensinamento de Cristo Senhor. Ao mesmo tempo, não podemos amar renunciando à verdade e não podemos conhecer a verdade sem amar: o conhecimento da verdade e do amor do bem são movimentos estruturais e identificativos do ser humano.
Em razão da verdade e do amor não podemos gerar ilusões em ninguém e, portanto, nem sequer podemos fazer pensar que a praxis da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimónio esteja próxima de mudar-se, ou bem que depois do Sínodo dos bispos de Outubro de 2014 as pessoas divorciadas e casadas pelo civil serão absolvidas e admitidas na comunhão eucarística.
Se as pessoas divorciadas e que voltaram a casar pelo civil forem admitidas à comunhão eucarística, a comunidade dos crentes renunciaria a ser fiel a Cristo que ensina a indissolubilidade do matrimónio.
Ideias práticas para melhorar
Como conclusão resumo uns critérios práticos:
1. preparar os noivos ao matrimónio de maneira mais séria e completa, fazendo conhecer que o matrimónio é uma coisa de Cristo e não dos esposos, e que é uma vocação divina à santidade;
2. considerar que todos os sacramentos são um dom que a Igreja recebe de Cristo, e não são um direito que há que reivindicar. Isto vale também para a comunhão eucarística;
3. agilizar os processos canónicos concernentes à verificação da nulidade do sacramento do matrimónio;
4. demolir a difundida opinião segundo a qual os divorciados que voltam a casar estão excomungados. Melhor, o que se faz é acolher a estes crentes e fazê-los saber que ainda que vivam numa condição objectivamente desordenada como é a convivência com uma pessoa que não é o próprio cônjuge, podem e, é mais, devem viver a fé, a esperança, a caridade, participar na Missa, rezar juntos e individualmente, viver a penitência e o desejo de conversão e que a dor e a amargura de não poder receber a eucaristia tem um valor salvífico que pode levar à sincera conversão do seu coração a Cristo Senhor.
(Tradução de Helena Faccia Serrano, Alcalá de Henares)
Conheça também a receita da pastoral de separados e divorciados de Toulon: grupos de oração e paciência
A opinião do padre Santiago Martín sobre esta questão
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