Uma meditação com Jürgen Moltmann
Roma, 25 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) Robert Cheaib
Dizem que o pecado "original" é o desejo do homem de ser
como Deus. Esta é só uma face do pecado. Há outra face complementar: a
do desejo de não ser original, de não querer a divinização, de não
querer ser semelhante a Deus, de não querer chegar ao “Télos” (cf. Jo
13).
Nas palavras de Jürgen Moltmann, "o outro lado da postura da
soberba consiste no desespero, na resignação, na indolência e na
melancolia". E ele explica: "A tentação não consiste tanto na pretensão
titânica de ser como Deus, mas na fraqueza, na pusilanimidade, no
cansaço de quem não quer ser o que Deus espera dele".
“O que o acusa não é o mal que ele faz, mas o bem que negligencia”.
Nas palavras de São João Crisóstomo: "O que nos leva à perdição não é
tanto o pecado quanto a falta de esperança".
E por que a alma se refugia no desespero?
O desespero protegeria a alma das desilusões. “Quem muito espera,
louco acaba”. Por isso, tenta-se permanecer no terreno da realidade e
“pensar com clareza, sem esperar mais” (cf. Albert Camus).
Eis o rosto subtil, pacífico e aparentemente inócuo do desespero: ele
não precisa mostrar expressões desesperadas; ele pode ser a simples e
silenciosa falta de sentido, de perspectiva, de futuro e de propósito.
Mais: o desespero pode ter o aspecto da sorridente resignação. “Bom dia,
tristeza!”... Permanece aquele sorriso amargo de quem esgotou as suas
possibilidades e não encontrou nada que lhe desse motivos de esperança.
O homem que se rebela contra Deus não assume necessariamente as
formas de um Prometeu, mas sim as de um Sísifo, o honesto fracassado que
se redobra sobre os próprios fracassos e abraça a incompletude, o
limite, o absurdo, o nada...
A força que renova a vida, porém, não está nem na presunção, nem no
desespero, mas somente na esperança durável e segura. Têm uma força
misteriosa aquelas palavras de Heráclito: "Quem não espera o inesperado,
não o terá".
Longe de ser uma ilusão, Moltmann nos lembra que só a esperança tem o
direito de se considerar realista, porque só ela leva a sério as
possibilidades que sub-jazem a toda a realidade... As esperanças e as
expectativas de futuro não são, portanto, uma chama de transfiguração
destinada a embelezar uma existência cinzenta, mas percepções realistas
do vasto panorama de possibilidades reais.
Assim, a esperança é bem diferente da utopia. Ela não se projecta em direcção à "ilha que não existe", e sim àquilo que "ainda não tem lugar,
mas pode ter". Na verdade, é o desespero que merece a acusação de
utópico, porque é ele que "se agarra à realidade existente duvidando das
suas possibilidades", sem conceder "lugar nenhum" para o possível.
A conclusão de Moltmann é esta: as afirmações da esperança da
escatologia cristã devem se impor também à rigidez utópica do realismo
para manter viva a fé e guiar a obediência, que se explicam no amor, no
caminho das realidades terrenas, físicas, sociais.
(25 de Fevereiro de 2014) © Innovative Media Inc.
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