O papa escreve o prefácio do livro "Pobre e para os pobres: a missão da Igreja", escrito pelo cardeal Müller
Roma, 19 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) Sergio Mora
O papa Francisco escreveu o prefácio do livro “Povera per i
poveri. La missione della Chiesa” [Pobre e para os pobres: a missão da
Igreja], do cardeal Gerhard Müller, que será apresentado na próxima
terça-feira. No prólogo, o Santo Padre fala sobre a pobreza não somente económica, mas também social e moral, e nos convida a usar os bens não
apenas para a satisfação das nossas próprias necessidades, mas também
para ajudar as outras pessoas a “produzir frutos”. O papa afirma que a
pobreza pode ser entendida como um recurso quando nos leva à
solidariedade, a ponto de Jesus tê-la transformado em uma
bem-aventurança.
“O dinheiro é um instrumento que, de alguma forma, como a
propriedade, prolonga e aumenta a capacidade da liberdade humana”. Por
isso, ele permite “agir no mundo, actuar e gerar fruto”. Mas o dinheiro é
também um meio que afasta o homem do homem, encerrando-o num horizonte
egoísta. O prefácio do livro do cardeal Müller foi publicado hoje pelo
principal jornal italiano, o Corriere della Sera.
O Santo Padre cita, no prefácio, uma palavra aramaica que Jesus usa
no evangelho, “mammona”, ou seja, “tesouro escondido”, e recorda que os
bens “mantidos só para nós mesmos, escondidos dos outros, produzem
iniquidade”. Ele cita ainda o termo grego usado por São Paulo,
“arpagmos”, como um bem “guardado zelosamente para si mesmo, ou pior,
como fruto do que foi roubado de outros”.
O papa também ressalta que a palavra “pobreza”, no mundo ocidental, é
reduzida simplesmente a sinónimo de “mal-estar”, relacionando-se com a
falta de poder económico, o que significa irrelevância de poder
político, social e humano, a ponto de que “aquele que não possui
dinheiro só é levado em consideração na medida em que pode servir para
outras finalidades”.
Isto ocorre quando o homem, “tendo perdido a esperança no
transcendente”, “perde também a alegria da gratuitidade”, de “fazer o bem
pela simples beleza de fazer o bem”.
Francisco destaca que “a tarefa dos cristãos é redescobrir, viver e
anunciar a todos esta preciosa e original unidade entre o ganho e a
solidariedade”, e sublinha que, quanto mais o mundo contemporâneo
descobrir esta verdade, mais se resolverão tantos problemas económicos
existentes hoje.
Nesta panorâmica, Bergoglio precisa que “não existem somente as
pobrezas relacionadas com a economia. Jesus mesmo nos lembra, como
advertência, que a nossa vida não depende apenas dos nossos bens”.
O Santo Padre fala da necessidade de solidariedade que todos
experimentamos desde crianças. Primeiro, das atenções e cuidados dos
pais; depois, em cada etapa da vida, sentimos a necessidade da ajuda de
alguém, porque ninguém “conseguirá nunca afastar de si o limite da
impotência diante de algo ou de alguém”.
Nesta óptica, a pobreza não deve ser sentida como uma limitação, mas
como um recurso, já que o que é dado se transforma em um dom que é
vantajoso para todos. E “esta é a luz positiva com que o evangelho nos
convida a olhar para a pobreza” e o “porquê de Jesus a ter transformado
em uma bem-aventurança”.
(19 de Fevereiro de 2014) © Innovative Media Inc.
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