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sábado, 15 de fevereiro de 2014

Paul Bhatti, irmão do ministro mártir do Paquistão, ameaçado e quase sem protecção, não se rende

Volta ao Paquistão apesar do novo governo, mais islamizante 

Paul Bhatti é irmão de Shahbaz Bhatti, ministro assassinado
por defender Asia Bibi - os bispos do Paquistão pedem ao Papa
o seu processo de beatificação por mártir
Actualizado 12 de Fevereiro de 2014

AsiaNews

Paul Bhatti: não obstante as ameaças, continuamos a obra de Shahbaz pela paz no Paquistão.

O ex-ministro para a Harmonia nacional, no olho dos talibans, relança a mensagem de harmonia e convivência entre cristianos e muçulmanos.

A quase 3 anos do assassinato do seu irmão Shahbaz sublinha que "o seu sacrifício" é sempre "uma semente de paz". E pede ajuda política e económica ao Ocidente e aos católicos do mundo: "Trabalhamos para dar una esperança ao futuro".

"Estamos determinados a continuar com maior força a obra iniciada por Shahbaz", para que o seu "sacrifício" possa converter-se sempre mais numa "semente de paz" no Paquistão e em todo o mundo. E através da "nossa fé" em Jesus, queremos enviar uma mensagem de harmonia e convivência "que seja para todos", cristãos e muçulmanos e "para todas as vítimas de uma ideologia violenta".

Com estas palavras confiadas à AsiaNews, Paul Bhatti (ex-ministro federal para a Harmonia nacional e líder do APMA (All Pakistan Minorities Alliance)) relança o compromisso de luchar contra o extremismo no Paquistão e desmente as vozes de uma fuga do seu país pelas ameaças de morte recebidas.

Ele não nega que está na mira dos talibans e da ala fundamentalista, a mão que enviou pesadas ameaças de morte ao militante católico é a mesma que reivindicou, com uma nota, a morte de Ahahbaz.

"Sabemos que estamos debaixo tiro (comenta Paul, nestes dias em Itália) mas continuamos lutando pelas vítimas das violências e das injustiças".

Os precedentes: seu irmão e o governador
O ministro paquistanês de Minorias, o católico Shahbaz Bhatti, foi assassinado em 2 de Março de 2011, a poucos meses de distância do governador do Punjab, Salman Taseer, muçulmano, assassinado em 4 de Janeiro; ambos terminaram na mira dos extremistas por ter criticado as leis sobre a blasfémia e defendido Asia Bibi, católica, mãe de 5 filhos condenada à morte com base na "lei negra" e há 3 anos à espera de uma sentença ao seu pedido de recurso.

No dia depois do "martírio" do irmão, Paul Bhatti decidiu deixar Itália, onde vivia há muitos anos, para voltar à sua pátria e recolher a herança deixada por Shahbaz.

Até à finalização da precedente legislatura, concluída em Maio de 2013, ele detinha o cargo de Conselheiro especial do Primeiro-Ministro para a Harmonia nacional.

Em menos de 2 anos, e entre numerosos obstáculos e limites, ele soube obter a libertação de Rimsha Masih, menor de idade cristã e com problemas mentais acusada (injustamente) de blasfémia e promoveu iniciativas centradas no diálogo inter-religioso entre as diversas almas da nação.

Aceitar os riscos
Entrevistado por AsiaNews, Paul Bhatti confirma que logo partirá para o Paquistão, se bem que sabe que as ameaças constituem um problema concreto. Ele, como a equipa legal que defendeu Rimsha Masih e quantos lutam para obter a condenação dos assassinos de Shahbaz no processo apenas iniciado, é objecto de ameaças e ataques dos talibans. "Mas eu tento voltar (afirma) e continuar o meu trabalho com determinação, aceitando os riscos e o perigo".

Riscos e perigos que aumentaram desde quando o Ppp não está mais no governo e ele não goza já de uma defesa pessoal adequada.

"É uma situação difícil (acrescenta) também porque não gozo de apoios ou coberturas especiais ou particulares, seja a nível político ou económico. Por isto peço à comunidade cristã e ao Ocidente para estar próxima de nós, necessitamos ajuda para continuar o trabalho de paz e diálogo... Continuando o caminho indicado pelo meu irmão Shahbaz.

O novo governo é mais islamizante
Hoje o governo de Islamabad, guiado pelo primeiro-ministro Nawaz Sharif iniciou negociações para um cessar-fogo com os talibans, os quais pedem, em troca, a introdução da sharia (lei islâmica) no país e a libertação de "guerrilheiros", entre os quais os assassinos de Taseer e Bhatti.

Por outro lado, já nos primeiros anos do seu mandato (nos anos 90) o actual primeiro-ministro não era contrário a uma "progressiva islamização" da nação e a sua mentalidade é de facto "afim" à dos extremistas.

Bhatti e APMA, pelo contrário, trabalham para unir cristãos e muçulmanos, para contrastar a ideologia extremista e promover a harmonia.

Por isto Paul hoje, como Shahbaz no passado, é apresentado como um "infiel, um espião que trabalha para o Ocidente" e que por isto é combatido.

"Não obstante tudo (explica) trabalhamos para promover uma visão positiva do País e dar uma esperança para o futuro. Esta esperança é também o espelho da minha fé e permitiu-me cultivar relações e amizades também com os muçulmanos, como também teve modo de experimentar em ocasião das últimas festividades natalícias".

Ele dirige um último pensamento a Shahbaz, que ainda agora e à distância de 3 anos permanece como uma figura viva e amada em muitos sectores da sociedade paquistanesa.

"A sua batalha por um país pacífico (conclui Paul) é seguida hoje por muitos. São provas as palavras do filho de Bilawal Bhutto Zardari, filho de Benazir Bhutto, que muitas vezes falou de Shahbaz como de um herói e expressou o desejo que o próximo primeiro-ministro possa ser um cristão".

O sexto país mais povoado do mundo
Com mais de 180 milhões de habitantes (97% professa o islão), o Paquistão é a sexta nação mais povoada do mundo e é o segundo entre os Países depois da Indonésia. 80% é muçulmano sunita, enquanto os xiitas são 20%. Existem também presenças de hindus (1,85%), cristãos (1,6%) e sikh (0,004%).

As violências contra as minorias étnicas ou religiosas verificam-se em todo o território nacional, mas nos últimos anos registou-se um verdadeiro aumento que investiu sobretudo nos muçulmanos xiitas e cristãos.

Sofre dezenas de episódios de violências, entre ataques contra comunidades inteiras (como sucedeu em Gojra em 2009 ou na Joseph Colony de Lahore em Março passado) ou abusos contra indivíduos (Asia Bibi e Rimsha Masih), frequentemente perpetrados com o pretexto das leis sobre a blasfémia.

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