Zenit entrevista Pe. Rifaat Bader, um dos organizadores da eminente visita de Francisco à Terra Santa
Roma, 26 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) Robert Cheaib
De 24 a 26 de 2014, o Papa Francisco visitará a Terra Santa
por ocasião do 50º aniversário da histórica visita do Papa Paulo VI. A
visita ocorre em um contexto geopolítico complicado, com a crise da
Síria, que entra no seu terceiro ano consecutivo, trazendo forte impacto
sobre os países vizinhos, sobretudo, no que diz respeito à questão dos
refugiados e a segurança. Sobre todos estes temas ZENIT conversou com
Pe. Rifaat Bader, um dos organizadores da visita do Papa, sacerdote
jordano do Patriarcado Latino, fundador e director do Abouna e do
Centro Católico para Estudos e Informações na Jordânia. Na entrevista,
Pe. Bader também falou sobre a situação dos refugiados na Jordânia e a
expectativa pela visita do Papa.
Quantos são os refugiados sírios na Jordânia?
Pe. Bader: Cerca de um milhão. Há três campos, o mais importante é A-Za'tari. Neste campo estão cerca de 250 000 refugiados, os outros estão
espalhados em todos os países.
Estes refugiados recebem o necessário para sobreviver? Eles têm o direito de trabalhar na Jordânia?
Pe. Bader: Quem é registado como refugiado não pode trabalhar. O
mesmo problema viveram e ainda vivem os refugiados iraquianos, cujo
número é cerca de meio milhão.
Como eles vivem, então?
Pe. Bader: As organizações de caridade oferecerem uma grande
contribuição, juntamente com o trabalho realizado pela Organização das
Nações Unidas. A Caritas também fornece ajuda. Todos os dias cerca de
100 000 refugiados recebem ajuda, sem distinção de religião ou raça. O
trabalho de caridade cristã não é exclusivista. E aqui gostaria de
enfatizar uma questão crucial: o trabalho de caridade não deve ser um
disfarce para o proselitismo. Digo isso porque, infelizmente, existem
realidades que prestam serviços humanitários e, em seguida, propõem uma
agenda proselitista. Este é um erro porque captura o homem em um momento
de grande fragilidade e tira proveito de sua fome e sede para manipular
sua sensibilidade religiosa. É uma falta de respeito para com a
dignidade da pessoa humana.
Quantos cristãos entre os refugiados?
Pe. Bader: Cerca de 17 mil são refugiados cristãos sírios na
Jordânia, que chegaram depois da crise síria. As razões da chegada deles
na Jordânia são diferentes. Muitos deles vêm até nós apenas
temporariamente, à espera de vistos para emigrar para o Ocidente. Este fenómeno é motivo de grande dor para eles, porque eles experimentam dois
êxodos difíceis. Mas também para o Oriente Médio em geral, porque é
esvaziado de seus filhos cristãos.
Neste contexto, qual é a importância da visita do Papa?
Pe. Bader: O momento da visita do Papa é marcado pelo 50 º
aniversário da histórica visita do Papa Paulo VI. Para a ocasião,
estamos preparando um livro comemorativo da viagem, apresentando o
contexto histórico das relações entre a Santa Sé e a Jordânia de um
lado, e com a Palestina do outro. O volume contém contribuições valiosas
incluindo a do presidente palestino, Mahmoud Abbas, do rei da Jordânia,
Abdullah II, e uma palavra especial do Cardeal Paul Poupard, que nos
contou a sua experiência pessoal vivida na viagem do Papa Paulo VI.
Como acontecerá a visita do Papa?
Pe. Bader: Papa Francisco vem para comemorar esta visita e fomentar
as relações diplomáticas com três estados. Ele vai de helicóptero da
Jordânia para Belém, apoiado pelo Estado Palestino. Poucos líderes
reconhecem o estatuto independente da Palestina. Com esta visita, o Papa
vai expressar a posição da Santa Sé, que reconhece a Palestina e apoia.
Como jordanos estamos muito feliz, ainda que, desejosos por uma
estadia mais longa do Santo Padre.
Qual será o lema da visita?
Pe. Bader: A visita será um grito de paz. Fomos convidados a
apresentar nossas propostas para o logotipo e o lema. Eu acho que vai
ser "Alegria e esperança". O lema da visita do Papa Bento XVI ao Líbano
foi: "Eu lhe dou a minha paz ", e de sua visita à Terra Santa foi: "
Bem-aventurados os pacificadores". Desta vez, também para comemorar a Gaudium et Spes, propusemos: "Alegria e esperança".
O interlocutor do desejo de paz agora não é um estado. Estamos diante
de uma ideologia bastante destrutiva e fechada. Que esperança (humana)
poderá despertar a visita do Papa?
Pe. Bader: Não temos um interlocutor concreto. Os chefes são tantos e
as ideologias ainda mais. No entanto, eu não vejo que a guerra actual é
uma guerra contra os cristãos, é mais uma guerra do terrorismo contra os
cristãos e os muçulmanos de modo idêntico. E é uma oportunidade para
nós, como cristãos árabes, de mostrar nosso apoio ao diálogo e à amizade
entre muçulmanos e cristãos. Temos de ser uma frente única contra o
terrorismo e o fundamentalismo, contra a inserção forçada da religião
nas lutas políticas. Gostaria também de dizer que a declaração de uma
nação religiosa hebraica não é um passo oportuno. O único estado de
natureza religiosa e carácter totalmente pacífico é a Cidade do Vaticano.
Se tivessem que existir nações religiosas (e isso é algo que não
esperamos) deveriam ser de natureza pacífica similar. A génese de um
Estado religioso hebraico seria o álibi para que os islâmicos formassem
estados religiosos islâmicos, o que tornaria tudo ainda mais complicado.
Desejamos estados democráticos constituídos sobre o direito do cidadão e
da igualdade de direitos e deveres. Há dois dias, a Palestina decidiu
eliminar a “identificação” de religião da carteira de identidade. Eu
acho que este é um grande passo avante. Não devemos tratar as pessoas
por suas crenças religiosas, mas como ser humano. Nossa esperança é que a
visita do Papa seja uma contribuição nesse sentido da igualdade e
coexistência pacífica.
(Trad.:MEM)
(26 de Fevereiro de 2014) © Innovative Media Inc.
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