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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O capelão tem 6 filhos: era anglicano e converteu-se no Afeganistão pela Virgem «cheia de graça»

Jerry Sherbourne é capelão do exército dos EUA 

O padre Jerry, a sua esposa Heather e 5 dos seus 6 filhos...
Falta uma filha que não pode vir à sua ordenação como
sacerdote católico em Washington, no dia da foto
Actualizado 18 de Fevereiro de 2014

P. J. Ginés / ReL

Jerry Sherbourne é sacerdote da Igreja Católica, capelão do exército dos Estados Unidos… E esposo amantíssimo, pai de 6 filhos.

O seu caso é similar ao de outros homens casados ordenados como sacerdotes católicos: quando se casaram e fundaram a sua família ainda não eram católicos. A Igreja ordena-os depois da sua conversão ao catolicismo, por uma dispensa especial que se examina caso a caso.

De protestante "mainstream" a anglicano
Jerry nasceu e criou-se no Massachussets numa família protestante que ia à Primeira Igreja Congregacional de Holden, a sua cidade. Ali se forjou a sua fé cristã e o seu amor pela Palavra de Deus.

Depois do instituto, ao entrar na vida adulta, Jerry ingressou na Igreja Episcopaliana, o ramo estadunidense da Comunhão Anglicana.

E virou-se tanto na vida de fé que no ano 2000 tinha já a sua própria pequena paróquia anglicana no Texas. Serviu ali durante 6 anos.

Em 2005 entrou no exército como capelão militar, com 35 anos. Não é normal entrar na vida militar com essa idade, mas sim é uma idade frequente para os capelões do exército.
 
Jerry, como capelão anglicano (com estola, à
esquerda), no baptismo de um soldado
no Afeganistão
Capelães católicos, "fora de série"
Numa sociedade e um exército tão diverso como o estadunidense, há capelões de diferentes religiões e denominações cristãs, e tendem a coincidir em destinos e missões. Isso permitiu a Jerry conhecer vários capelões católicos, sacerdotes que lhe pareceram “fora de série”. Com eles, disse, sentia-se “espiritualmente em casa”.

Mas havia distâncias doutrinais. E a principal delas resolveu-se estando na cantina de uma base no Afeganistão em 2011, onde passou um ano.

Grego na cantina do Afeganistão
Ele e outro capelão anglicano questionaram o capelão católico (o "páter" costumam-lhe chamar os militares espanhóis), enquanto comiam, de onde saía a peculiar crença “não bíblica” dos católicos de que a Virgem Maria não tinha pecado algum desde a sua concepção.

- Oh, mas sim que é uma crença bíblica. Está ali, no Evangelho, di-lo o Anjo ao saudá-la: “Salve, Maria, cheia de graça” – respondeu o capelão católico.

E é que católicos e ortodoxos tomaram sempre a sério essa saudação, que em grego utiliza a palavra “Kejaritomene”… A tradução correcta é “completamente transbordante, cheia de tudo, de Graça [Jaris]”. Tão cheia da Graça de Deus, da acção e o poder gratuito de Deus, que nada há nela que não seja Graça… Não há, portanto, nada nela de pecado. E assim o ensinaram as Igrejas apostólicas, católicas ou orientais.

Estudar as doutrinas católicas
Foi uma conversa breve, mas a Jerry serviu-lhe para suspeitar que as “crenças católicas” tinham uma base bíblica e que valia a pena investiga-las. E dedicou uns meses a estudá-lo.

Como entendiam os católicos a comunhão dos santos, e o seu papel como intercessores? E, sobretudo, qual era o papel do Papa? De verdade era o Papa herdeiro de Pedro, das Chaves (símbolo de poder e autoridade no Reino de David) que Jesus tinha entregue a Pedro? Não havia recebido Pedro um mandato especial que Jesus não deu a outros? Três vezes pediu-lhe “alimenta os meus cordeiros, as minhas ovelhas”.

E, no fundo... Porque há tantas denominações cristãs que crêem coisas diferentes e contraditórias sobre a salvação, o baptismo, a autoridade da Igreja, o que é e não é pecado, a sexualidade ou a forma de ler as Escrituras? Por acaso Jesus não fundou uma só Igreja, com um mesmo ensinamento para todos, pediu "que sejam um", e encomendou a Pedro apascentá-la?
Um capelão militar também tem de manter-se
em forma
Em Dezembro de 2011, estando ainda na base do Afeganistão, consultou a sua esposa esperando que ela não estivesse muito interessada no assunto:

- Heather, que pensas da possibilidade de nos convertermos ao catolicismo? Em vez de desdenha-lo o rir-se, a sua esposa foi contundente:
- Bem, Jerry, quando tu estiveres preparado, eu estou.

“Aí foi quando soube que tinha que dar o passo e entrar na Igreja Católica”, recorda Jerry. Precisamente essa conversa teve lugar um 8 de Dezembro, festa da Imaculada Conceição, o mesmo ensinamento que tinha posto em marcha a investigação espiritual do capelão.

Os passos para ser padre
Jerry queria ser católico. Mas, se fosse possível, também queria continuar sendo um pastor de almas e ser sacerdote. Assim solicitou a dispensa especial para poder ser ordenado depois da sua entrada na Igreja Católica: escreveu a sua biografia espiritual, a sua esposa Heather escreveu também dando a sua permissão e fazendo a sua própria avaliação, e souberam que se lhes pediria para educar os seus filhos (dois deles prestes a sair de casa) como católicos.

Apesar dos seus numerosos anos como pastor anglicano, Jerry e Heather inscreveram-se no típico curso norte-americano católico de “iniciação cristã para adultos”. E finalmente foram confirmados como católicos.

A dispensa chegou bastante rápido: avisaram-no em Outubro de 2012 de que a receberia e em 8 de Dezembro de 2013 era ordenado sacerdote no Santuário Nacional da Imaculada Conceição de Washington pelo arcebispo castrense dos EUA, Timothy Broglio.
O momento da ordenação como sacerdote
católico em Washington
Foi um ano intenso, porque ao mesmo tempo o Exército promovia-o ao grau de major e alcançava o seu doutoramento teológico com um estudo sobre a conexão entre poesia e espiritualidade.

Hoje é capelão em Fort Bragg, uma base militar na Carolina do Norte e também está incardinado no Ordinariato da Cátedra de Pedro, de ex-clérigos anglicanos que mantém elementos da sua liturgia e tradições. Continua aprendendo a equilibrar (depois de tantos anos) a vida familiar com o apostolado. Agora, como sacerdote católico.


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