O papa emérito responde por carta ao jornalista Andrea Tornielli sobre supostas conspirações
Roma, 26 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org)
"Não existe a menor dúvida sobre a validade da minha
renúncia ao ministério petrino (...) As especulações são simplesmente
absurdas". O papa emérito Bento XVI escreveu ao vaticanista Andrea
Tornielli, do jornal italiano La Stampa, e respondeu a algumas perguntas
que o jornalista tinha lhe encaminhado.
Tornielli explica, em reportagem publicada hoje, que Joseph
Ratzinger não se viu obrigado a renunciar e não cedeu a pressões nem a
conspirações: a renúncia é válida e a Igreja não tem hoje nenhuma
"diarquia", nenhum governo duplo. Existe apenas um papa reinante, em
pleno uso das suas funções: Francisco. E um papa emérito, que tem como
"único e último objectivo" rezar pelo seu sucessor.
Bento XVI negou as interpretações paralelas sobre a sua renúncia, que
vários jornais e sites lançaram por ocasião do primeiro aniversário da
decisão histórica. O papa emérito respondeu pessoalmente a uma carta com
perguntas feitas pelo jornalista italiano, depois de ler comentários na
imprensa local e internacional sobre a sua renúncia ao papado.
Tornielli explica: "De forma sintética, mas muito precisa, Ratzinger
respondeu e desmentiu os supostos contextos secretos da renúncia, além
de nos convidar a não atribuir significados impróprios a algumas
decisões que ele tomou, como a de manter o hábito branco mesmo depois de
deixar o ministério de bispo de Roma".
Dias depois do anúncio da renúncia, o pontífice alemão indicou que
manteria o nome de Bento XVI, que, aliás, é assinado no final da carta
enviada ao jornalista, e que passaria a ser chamado de "papa emérito",
título que também aparece na mesma carta. Além disso, ele continuaria
vestindo o hábito branco, mais simples que o do pontífice reinante por
não ter a faixa nem a chamada "peregrina".
Em sua última audiência como papa reinante, Bento XVI explicou que,
"nos últimos meses, tenho notado que as minhas forças vêm diminuindo e
pedi a Deus com insistência, na oração, que me iluminasse com a sua luz
para tomar a decisão mais adequada, não para o meu próprio bem, mas para
o bem da Igreja. Dei este passo com plena consciência da sua
importância e também da sua novidade, mas com uma profunda serenidade de
espírito. Amar a Igreja significa também ter a coragem de tomar
decisões difíceis, sofridas, mantendo sempre em mente o bem da Igreja e
não o próprio".
Bento XVI acrescentou que o seu retiro, "escondido do
mundo", não significava "um retorno ao privado": "A minha decisão de
renunciar ao exercício activo do ministério não o revoca. Não volto à
vida privada, a uma vida de viagens, encontros, recepções, conferências,
etc. Não abandono a cruz, mas permaneço, de maneira nova, junto ao
Senhor Crucificado. Já não tenho a potestade do ofício para o governo da
Igreja, mas no serviço da oração permaneço, por assim dizer, no recinto
de São Pedro".
Andrea Tornielli explica que estas palavras sobre a sua vontade de
permanecer "no recinto de São Pedro" foram as que provocaram as
especulações de que a renúncia não tinha sido livre nem, portanto,
válida; como se Ratzinger estivesse se reservando um papel de "papa nas
sombras". Nada mais distante da sua sensibilidade.
Durante as últimas semanas, diz o vaticanista de La Stampa, ao se
aproximar o primeiro aniversário da renúncia, houve quem fosse longe o
bastante para aventar a invalidade da renúncia de Bento XVI, e, por
consequência, um papel ainda activo e institucional de Ratzinger ao lado
do papa Francisco.
O jornalista decidiu então escrever ao papa emérito em 16 de Fevereiro e fazer directamente a ele algumas perguntas específicas sobre
tais interpretações. Dois dias depois, chegou a resposta. “Não existe a
menor dúvida”, escreve Ratzinger na carta, “sobre a validade da minha
renúncia ao ministério petrino. A única condição da validade é a plena
liberdade da decisão. As especulações sobre a invalidade da renúncia são
simplesmente absurdas”.
A reportagem recorda ainda que a possibilidade de renunciar tinha
rondado a mente de Bento XVI muito tempo antes, como as pessoas mais
próximas dele sabiam.
Apesar de todas as especulações sobre a decisão histórica de 11 de Fevereiro de 2013, o próprio Bento XVI explicou, no livro-entrevista com
Peter Seewald, que não abandonava a barca durante a tempestade.
Na carta enviada ao jornal italiano, o papa emérito respondeu também
sobre o significado da veste branca e do nome papal. "Manter o hábito
branco e o nome Bento XVI é uma coisa simplesmente prática. No momento
da renúncia, não havia outras vestes à disposição. Além disso, uso o
hábito branco de forma claramente diferente do papa. Sobre isto também
há especulações sem o mínimo fundamento".
Há poucas semanas, o teólogo suíço Hans Küng citou algumas palavras
sobre Francisco que Bento XVI lhe escreveu em uma carta. As palavras,
mais uma vez, não deixam espaço para interpretações: "Eu sou grato por
estar unido ao papa Francisco através de uma grande identidade de visão e
de uma amizade de coração. Hoje, vejo como minha única e última tarefa
apoiar o seu pontificado na oração". A este respeito, houve quem pusesse
em dúvida a autenticidade da citação. O jornalista de La Stampa pediu
que o próprio papa emérito confirmasse o que tinha escrito: "O professor
Küng citou literal e correctamente as palavras da minha carta dirigida a
ele", declarou Bento XVI. Antes de terminar, o papa emérito escreve que
espera de “ter respondido de maneira clara e suficiente” às perguntas
apresentadas.
(26 de Fevereiro de 2014) © Innovative Media Inc.
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