Entrevista com o novo cardeal, Mario Poli, arcebispo de Buenos Aires
Roma, 25 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) Sergio Mora
No Consistório, reservado aos cardeais, participaram também os arcebispos que foram criados cardeais no sábado passado.
À noite, ao terminar a sessão, o arcebispo de Buenos Aires, Mario
Poli, saiu para voltar onde estava hospedado, a poucos quilómetros do
Vaticano. Apesar de que uma pessoa primeiro, e três religiosas depois,
ofereceram-lhe leva-lo de carro, mas Mons. Poli preferiu ir com o
transporte público. Enquanto caminhava para o seu destino de ónibus,
conversou com ZENIT sobre o Papa Francisco e a Igreja hoje, nesta breve
entrevista que apresentamos aos nossos leitores.
***
ZENIT: Quem morou com Bergoglio diz que está mudado. Antes era um pouco mais sério?
- Monsenhor Poli: Eu acho que exageraram um pouco sobre isso. É
verdade que desde o ano 92 que é bispo de Buenos Aires, primeiro
auxiliar, em seguida esteve com o cardeal Quarrachino como Vigário
Geral, e depois como bispo, cardeal, conferência dos bispos, sofreu um
sério desgaste, mas manteve sempre o bom humor, a espiritualidade que o
caracteriza e uma das coisas que vemos é que continua sempre tão
criativo, das Escrituras, porque o Papa é um grande leitor orante da
Escritura. Como aquele ancião do Evangelho que diz, tira do baú o novo e
o velho, que é sempre novo. Isso sempre nos admirou e permanece nele. E
acho que isso é o que leva o magistério universal e o faz tão bem, essa
é a novidade: sem perder a altura teológica e doutrinal, porém tem uma
grande veia pastoral, essa é a chave para entende-lo.
ZENIT: Quais são as suas particularidades?
- Monsenhor Poli: Ele tem um grande equilíbrio. E depois, a
capacidade de ouvir. Na quinta-feira e sexta-feira esteve de manhã e à
tarde escutando, ouviu o tempo todo. Isso foi feito por todos os papas
dos últimos tempos. Aqui estão os sínodos, os bispos, os peritos e
demais, e se trata de escutar a voz da Igreja. Hoje o magistério da
Igreja tem esta instância para recolher primeiro e depois aguardar,
digamos, a elaboração e a palavra do Papa que lhe dá forma ao magistério
e autoridade. Mas, primeiro escuta muito. E isso foi o que aprendemos
nós, que estivemos de auxiliares em Buenos Aires.
ZENIT: O carisma que mudou, é uma graça de estado?
- Monsenhor Poli: Francisco diz que é o Espírito Santo que lhe dá
força e alegria. Continua levantando-se muito cedo, fisicamente se sente
muito bem. Bom, precisamos reconhecer que aqui o trataram de modo muito
especial. Mas nós o víamos tão cansado, que não podia permanecer de pé,
tinha um problema de fraqueza nas pernas. Hoje tem uma vitalidade que
surpreende, e me parece que graças também a que Deus cuida do seu
apóstolo.
ZENIT: Na Argentina viram esses frutos de conversão?
- Monsenhor Poli: Na Argentina é a melhor coisa que nos aconteceu, e
pode ser usado para tudo: há aqueles que o procuram para a foto e
aqueles que se aproximaram da Igreja. Isso é relatado por todos os
padres, párocos dos santuários, os capelães de hospitais, de prisões...
Há uma aproximação à Igreja fruto da sua aproximação. Ele causou uma
empatia, a empatia que teve em Buenos Aires, esse carisma tão lindo, e
faz com que as pessoas se aproximem dele. Isso continua a nível
universal, em diversas línguas, em Filipinas como em Burundi.
ZENIT: E entre as pessoas mais pobres da Argentina?
- Monsenhor Poli: Quando vou às favelas como todos os padres que
temos relacionamentos com essas pessoas, agora vejo que tem um milhão de
amigos, todos têm uma lembrança dele, não sei quando nem como, têm um
quadrinho e me contam que entrou por aqui, etc... Têm esta vivência tão
linda, religiosa nesse momento, acho que hoje, tê-lo tão próximo e tê-lo
como Papa é uma alegria que tem as pessoas, que é admirável. Cresceu o
que sempre falávamos ou escutei de criança: ‘Temos que amar muito o
Papa’. Bom, o amam, como amam também a Bento, depois da sua renúncia
exemplar, e gostaria de dizer algo sobre isso.
ZENIT: Sim, por favor, diga-nos algo sobre Bento XVI:
- Monsenhor Poli: Para mim se trata de um homem sábio, santo, que
chega em seus anos de maturidade, não era um homem jovem mas um ancião
venerável, e apesar disso deu passos tão importantes, deixou um
magistério tão prolífico, e uma teologia; porque depois de ler os três
livros sobre Jesus de Nazaré, os aconselho, e ao seminarista que não o
tenha lido, recomendo que o leia.
Deixou-nos finalmente como broche de ouro da sua verdade e
autenticidade uma renúncia virtuosa e exemplar. E acho que vai ser uma
referência obrigatória, do que significa não apegar-se a nenhum poder,
não somente ao papado, que na verdade não é um poder mas um mandato. E
apesar de todas as críticas que teve e com o exemplo de um Papa como
João Paulo II que não desceu da cruz até o último momento e que é santo.
E enquanto isso, ele teve esta visão. E acho que isso deu origem ao que
estamos vivendo agora, foi o momento da origem disso.
ZENIT: Você não tem a impressão de que a Igreja esteja vivendo um momento muito particular, com um papa melhor que outro?
- Monsenhor Poli: Como todos os momentos da Igreja - sou professor de
História da Igreja - tivemos no século XX Papas muito bons, santos, e
realmente um magistério fantástico, uma Igreja missionária, viva, séria,
com também seus fiapos que somos nós, com nossas fraquezas. Uma igreja
que tem um rosto e que reflecte a face de Deus.
(Trad.TS)
(25 de Fevereiro de 2014) © Innovative Media Inc.
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