O digital não é uma simples extensão da própria existência, mas uma parte integrante da vida
Roma, 19 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) Jorge Henrique Mújica
Sabemos que o sucesso das redes sociais se deve a um factor
decisivo: elas facilitaram as relações interpessoais. Foi no começo da
primeira década do terceiro milénio que a massificação das tecnologias
da comunicação e da informação se globalizou. Em pouco menos de dez
anos, aconteceu uma verdadeira revolução, que não foi apenas
tecnológica, mas também antropológica.
O homem de hoje pensa, vive e sente com a internet. O digital não é
uma simples extensão da própria existência, mas uma parte integrante da
vida, o que se reflecte na “hiperconexão” de milhões de pessoas em todo
lugar e a qualquer momento. Paradoxalmente, a finalidade de relação
passou a ser um factor secundário.
Como é que a evangelização entra neste complexo mundo digital? E
mais: como entender a evangelização num contexto existencial como o de
hoje? Há quem aposte em “habitar a rede” e possibilitar, a partir dela,
uma aproximação das pessoas que não conhecem Deus, não acreditam nele ou
deixaram de acreditar. Se este objectivo levar a outro mais profundo (o
encontro pessoal com Deus) e houver não apenas boas intenções, mas a
formação e a criatividade necessárias, isso é óptimo.
Assim como milhares de missionários partiram um dia para anunciar a
mensagem de Jesus em novas terras e em novos continentes, assim também
os missionários da web desembarcam no continente digital para repropor a
mesma mensagem. E a experiência e as lições daqueles evangelizadores
podem servir para o presente.
Em primeiro lugar, os missionários transmitiam a palavra de Deus, não
a deles mesmos. Eram intermediários entre Deus e os homens e, em
consequência, conduziam as pessoas ao fim que era Deus, não a si
próprios. Existe hoje a tentação de se colocar no centro da mensagem e
acabar desviando a atenção do fim verdadeiro.
Os missionários eram enviados: o impulso vinha de Deus e, como dizia
São Paulo, “Ai de mim se não pregar o Evangelho!”. Mas também é verdade
que o envio imediato era feito por uma autoridade eclesiástica, que
avalizava o trabalho apostólico. Isto continua sendo verdade hoje. A
evangelização online exige a boa intenção, mas também a adequada
preparação e, na medida do possível, o respaldo ao menos do próprio
pároco ou de algum representante eclesiástico que acompanhe e oriente o
nosso trabalho.
Os missionários de antigamente aprendiam a língua dos nativos. Os
nativos digitais também têm a sua linguagem própria: mais visual, interactiva, intuitiva, multimédia. São elementos que o missionário não
só precisa conhecer, mas dominar, para falar ao homem contemporâneo de
um jeito que ele entenda.
Ao chegar à nova terra, os missionários também sabiam identificar as
coisas boas da cultura local. Devemos fazer o mesmo: não quebrar a
cabeça pensando em milhares de tácticas novas; podemos aproveitar o que
já existe, purificando-o, se necessário, e elevando-o.
Finalmente, o sucesso pastoral de muitos missionários não vinha da
quantidade de coisas que eles faziam, mas do testemunho de vida santa
que eles davam. Se as actividades eram muitas, era porque vinham do
conselho que Deus lhes dava na oração. E isso as pessoas notavam,
sentindo-se interpeladas a conhecer o Deus com quem o missionário se
comunicava. Isto permanece válido: falar primeiro com Deus e depois
falar dele para os outros. Os homens de hoje não escutam os mestres, e
sim as testemunhas. E, se escutam os mestres, é porque eles são
testemunhas.
Em suma, trata-se do desafio de levar as almas ao contacto directo com
Deus e devolver às redes sociais o seu factor de sucesso. O “grande
encontro” passa pelos pequenos encontros que os missionários são
chamados a possibilitar na conexão com Deus fora do ambiente digital.
(19 de Fevereiro de 2014) © Innovative Media Inc.
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