Quatro desafios-chave, de acordo com o sociólogo Hans Joas
Roma, 17 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) Robert Cheaib
O cristianismo cabe no futuro? Ou é um presente ainda
arrastado por carroças do passado? Esta é a reflexão central do livro de
Hans Joas, “A fé como opção: possibilidades de futuro para o
cristianismo”, continuação de outra obra de 2004, “Precisamos da
religião”. Na descrição do filósofo Paolo Costa, Joas é um sociólogo e
pensador capaz de "combinar a tradicional exigência teutónica de
sistematizar o sistematizável com uma sensibilidade pós-moderna à
contingência": ele propõe, de fato, considerar o estatuto da religião na
nossa época, precisamente a época da contingência.
A fé como uma opção
Com o conceito de "opção", Joas propõe avaliar a ideia fundamental do
livro “A Secular Age”, de Charles Taylor, que destaca que a ascensão da
opção secular mudou fundamentalmente as condições da fé. A fé (cristã)
não deve mais ser justificada somente na especificidade da sua natureza
confessional ou perante outras religiões, mas na sua própria essência,
como crença perante uma não-crença que , no início, se põe como
possibilidade, mas que aos poucos se impõe como norma.
A complexidade da era moderna mostrou a falácia de algumas suposições
absolutizadas no passado, entre as quais a correlação empírica entre a
falta de fé e o progresso (com a religião sendo considerada o primeiro
obstáculo ao desenvolvimento do conhecimento científico e técnico) e a
conexão empírica entre religiosidade e moral (com a religião sendo vista
como a única garantia da moralidade).
O desaparecimento dessas supostas mas inconsistentes certezas não é
motivo de lamento, mas é uma situação que coloca crentes e não crentes
um diante do outro para reflectir com mais liberdade sobre a natureza da
crença e da não-crença. Estamos diante de um facto: crentes e não
crentes têm de viver um ao lado do outro e não parece que qualquer dos
dois grupos vá sofrer uma rápida extinção. A modernização não conduz
necessariamente à secularização, nem a secularização resulta
necessariamente em declínio da moralidade.
Futuro para o cristianismo?
A ousadia do livro de Joas vem da coragem de falar do futuro, e, no
caso, do futuro do cristianismo. Ele próprio reconhece o grau de risco
da proposta, admitindo a inconsistência da “futurologia”. Mas ele não
faz adivinhações e sim propostas. O autor sugere áreas cruciais em que o
cristianismo é desafiado e nas quais ele pode e deve trabalhar se
quiser manter a sua relevância.
A primeira área é o ethos do amor, uma indicação de superioridade do
cristianismo sobre as instâncias individualistas e egocêntricas. Neste
contexto, o desafio ético e teológico é enfatizar com competência os
limites do individualismo utilitarista.
A segunda área é a da personalidade, que representa um grande desafio
perante uma sociedade que, por um lado, afirma a primazia do homem,
mas, por outro, o envilece com um rigoroso credo naturalista e
reducionista. É muito actual a necessária declaração do irredutível
"núcleo sagrado de todo ser humano", inspirada nos elementos da fé
cristã: na "imortalidade da alma, na semelhança do ser humano com Deus e
na sua filiação divina".
A terceira área é a da espiritualidade. A sede de espiritualidade é
uma sede quase inquestionável entre os nossos contemporâneos. "Essa
necessidade não se traduz, porém, a não ser raramente, na necessidade de
se aproximar da Igreja, porque eles partem da ideia de que a
espiritualidade pode ser desenvolvida de modo puramente individual. Como
resultado, eles vêem a Igreja mais como um obstáculo do que como um
recurso para o desenvolvimento da personalidade". A Igreja, nas palavras
de Charles Taylor, deve repensar a qualidade da sua presença no mundo.
Taylor escreve: "A seiva da nova relação é o ágape, que nunca poderá ser
entendido simplesmente em termos de um conjunto de regras, mas como uma
extensão de um certo tipo de relação, uma espécie de rede. Neste
sentido, a Igreja é essencialmente uma rede social, única, porque as
relações não são mediadas por formas historicamente determinadas de
dependência paterna, de lealdade a um chefe, e assim por diante. Ela
transcende todas elas, mas não flui para uma sociedade categórica
baseada na semelhança entre os membros, como a cidadania, e sim para uma
teia de relações sempre diferentes de ágape".
Finalmente, a quarta área proposta por Hans Joas é a transcendência.
Ele ressalta que não se refere a um significado "aguado" da
transcendência, entendida como qualquer forma de fuga e de superação da
realidade diária. A transcendência não é fuga, mas presença e
representação do sagrado na seiva do profano.
Como está hoje o cristianismo diante desses quatro desafios?
O parecer de Joas é positivo: "O cristianismo, em princípio, está bem
equipado. Mas precisa sair da posição defensiva, à qual ficou relegado
durante décadas de secularização progressiva, especialmente na Europa,
ou à qual se retirou voluntariamente. Ele tem que demonstrar a sua
capacidade de articular de modo novo e convincente a sua mensagem diante
destes desafios. Só assim ele deixará de ser percebido como uma minoria
praticamente irrelevante".
(17 de Fevereiro de 2014) © Innovative Media Inc.
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