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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Possibilidades para o futuro do cristianismo?

Quatro desafios-chave, de acordo com o sociólogo Hans Joas


Roma, 17 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) Robert Cheaib


O cristianismo cabe no futuro? Ou é um presente ainda arrastado por carroças do passado? Esta é a reflexão central do livro de Hans Joas, “A fé como opção: possibilidades de futuro para o cristianismo”, continuação de outra obra de 2004, “Precisamos da religião”. Na descrição do filósofo Paolo Costa, Joas é um sociólogo e pensador capaz de "combinar a tradicional exigência teutónica de sistematizar o sistematizável com uma sensibilidade pós-moderna à contingência": ele propõe, de fato, considerar o estatuto da religião na nossa época, precisamente a época da contingência.

A fé como uma opção
Com o conceito de "opção", Joas propõe avaliar a ideia fundamental do livro “A Secular Age”, de Charles Taylor, que destaca que a ascensão da opção secular mudou fundamentalmente as condições da fé. A fé (cristã) não deve mais ser justificada somente na especificidade da sua natureza confessional ou perante outras religiões, mas na sua própria essência, como crença perante uma não-crença que , no início, se põe como possibilidade, mas que aos poucos se impõe como norma.

A complexidade da era moderna mostrou a falácia de algumas suposições absolutizadas no passado, entre as quais a correlação empírica entre a falta de fé e o progresso (com a religião sendo considerada o primeiro obstáculo ao desenvolvimento do conhecimento científico e técnico) e a conexão empírica entre religiosidade e moral (com a religião sendo vista como a única garantia da moralidade).

O desaparecimento dessas supostas mas inconsistentes certezas não é motivo de lamento, mas é uma situação que coloca crentes e não crentes um diante do outro para reflectir com mais liberdade sobre a natureza da crença e da não-crença. Estamos diante de um facto: crentes e não crentes têm de viver um ao lado do outro e não parece que qualquer dos dois grupos vá sofrer uma rápida extinção. A modernização não conduz necessariamente à secularização, nem a secularização resulta necessariamente em declínio da moralidade.

Futuro para o cristianismo?
A ousadia do livro de Joas vem da coragem de falar do futuro, e, no caso, do futuro do cristianismo. Ele próprio reconhece o grau de risco da proposta, admitindo a inconsistência da “futurologia”. Mas ele não faz adivinhações e sim propostas. O autor sugere áreas cruciais em que o cristianismo é desafiado e nas quais ele pode e deve trabalhar se quiser manter a sua relevância.

A primeira área é o ethos do amor, uma indicação de superioridade do cristianismo sobre as instâncias individualistas e egocêntricas. Neste contexto, o desafio ético e teológico é enfatizar com competência os limites do individualismo utilitarista.

A segunda área é a da personalidade, que representa um grande desafio perante uma sociedade que, por um lado, afirma a primazia do homem, mas, por outro, o envilece com um rigoroso credo naturalista e reducionista. É muito actual a necessária declaração do irredutível "núcleo sagrado de todo ser humano", inspirada nos elementos da fé cristã: na "imortalidade da alma, na semelhança do ser humano com Deus e na sua filiação divina".

A terceira área é a da espiritualidade. A sede de espiritualidade é uma sede quase inquestionável entre os nossos contemporâneos. "Essa necessidade não se traduz, porém, a não ser raramente, na necessidade de se aproximar da Igreja, porque eles partem da ideia de que a espiritualidade pode ser desenvolvida de modo puramente individual. Como resultado, eles vêem a Igreja mais como um obstáculo do que como um recurso para o desenvolvimento da personalidade". A Igreja, nas palavras de Charles Taylor, deve repensar a qualidade da sua presença no mundo. Taylor escreve: "A seiva da nova relação é o ágape, que nunca poderá ser entendido simplesmente em termos de um conjunto de regras, mas como uma extensão de um certo tipo de relação, uma espécie de rede. Neste sentido, a Igreja é essencialmente uma rede social, única, porque as relações não são mediadas por formas historicamente determinadas de dependência paterna, de lealdade a um chefe, e assim por diante. Ela transcende todas elas, mas não flui para uma sociedade categórica baseada na semelhança entre os membros, como a cidadania, e sim para uma teia de relações sempre diferentes de ágape".

Finalmente, a quarta área proposta por Hans Joas é a transcendência. Ele ressalta que não se refere a um significado "aguado" da transcendência, entendida como qualquer forma de fuga e de superação da realidade diária. A transcendência não é fuga, mas presença e representação do sagrado na seiva do profano.

Como está hoje o cristianismo diante desses quatro desafios?
O parecer de Joas é positivo: "O cristianismo, em princípio, está bem equipado. Mas precisa sair da posição defensiva, à qual ficou relegado durante décadas de secularização progressiva, especialmente na Europa, ou à qual se retirou voluntariamente. Ele tem que demonstrar a sua capacidade de articular de modo novo e convincente a sua mensagem diante destes desafios. Só assim ele deixará de ser percebido como uma minoria praticamente irrelevante".

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