Hala Shukrallah vem lutando há anos pelos direitos das mulheres na família e na sociedade
Roma, 24 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) Valentina Colombo
"O importante é estar presente. Não importa se você é copta
ou muçulmano, homem ou mulher, quando você acredita nos direitos dos
cidadãos e tem uma visão de sociedade como um todo", declarou Hala
Shukrallah em uma entrevista ao jornal egípcio Al-Ahram, depois de ser
eleita para liderar o partido liberal Al-Dostour.
Apesar das palavras de Shukrallah, não é possível deixar de notar o carácter excepcional deste acontecimento: esta é a primeira vez na
história da política egípcia que não apenas uma mulher, mas uma mulher
copta, é eleita para dirigir um partido, com 107 de 204 votos, seguida
por outra mulher, Gamila Ismail, com 57 votos, e pelo médico Hussam Abd
Al Ghaffar, com 23. A vitória esmagadora a torna sucessora do fundador
do partido, Mohammed El Baradei, que continuará sendo o Presidente de
Honra.
O Al-Dostour nasceu em 28 de Abril de 2012 com o lema "Pão, liberdade
e justiça social" e com a intenção de atrair os liberais egípcios, com
foco nos jovens e nos activistas. Desde Novembro de 2012, o partido se
tornou membro da Frente de Salvação Nacional, uma coalizão polimórfica
de ideias liberais que nasceu para se opor aos poderes desmesurados de
Mohammed Morsi e da Irmandade Muçulmana.
Hala Shukrallah nasceu em 1954 e cresceu no Egipto laico de Gamal Abd
Al-Nasser, em que a cidadania prevalecia sobre a filiação religiosa.
Tornou-se activista política no movimento Al-Ahaly, estudou no Canadá e
na Grã-Bretanha e terminou os estudos no próprio país natal, onde se
dedica à actividade social e à promoção dos direitos humanos.
A conquista da nova presidente do Al-Dostour recorda a trajectória de
Mona Mina, a primeira mulher, também ela copta, a se tornar presidente
do Sindicato dos Médicos Egípcios, em dezembro passado. Ambas
conquistaram o respeito e a confiança começando de baixo, ajudando e
protegendo os cidadãos egípcios. Não por acaso, em uma das muitas
entrevistas que deu nos últimos dias, Shukrallah reiterou seu desejo de
continuar nessa direcção: "Este partido se baseará na participação
construída sobre o consenso. Vamos nos desenvolver nas várias
províncias. Não seremos um partido com base no Cairo".
Esta afirmação confirma a lucidez dos seus objectivos: ela sabe que
não existe consenso suficiente na população da capital e dos grandes
centros urbanos. Shukrallah entende claramente que o terreno a
conquistar é o das áreas rurais e das pequenas cidades. Não só isso:
também está claro, para ela, que a frente liberal precisa se unir para
encarar o que hoje parece ser o único binómio existente no Egipto: o
velho regime versus a Irmandade Muçulmana. Tendo em vista as próximas
eleições presidenciais, a realizar-se nos próximos meses, Shukrallah
afirma que o partido apoiará o candidato que propuser uma agenda e
demonstrar uma visão democrática.
De suas palavras e da sua biografia, emerge uma mulher com ideias
firmes e claras. São as mesmas características de Mona Mina, que, em 9
de Fevereiro, chocou os egípcios ao anunciar a própria demissão do
sindicato dos médicos denunciando o seguinte: "O sindicato precisa de um
exército de pessoas unidas. Se este exército não existe ou está
dividido e rachado por dentro em vez de agir com sinergia para vencer a
nossa batalha, não vou ser eu quem o conduzirá nessa batalha".
Em 22 de Fevereiro, porém, Mona Mina retirou a renúncia depois que a
assembleia geral do sindicato reafirmou a sua confiança e unidade em
torno a ela. Satisfeita, ela comentou: "Agora eu posso dizer que o
exército está se formando. Eu retirei a minha renúncia para me juntar ao
exército dos médicos, que precisa lutar batalhas de crucial
importância".
Adicionando-se a tudo isso a importância dada à mulher pela nova
constituição, pode-se dizer que os egípcios começam a ver a luz no fim
do túnel. O artigo 53 da nova constituição do país afirma: "Todos os
cidadãos são iguais perante a lei, têm direitos iguais, liberdade e
deveres gerais, não sendo admitida a discriminação com base em religião,
credo, sexo, origem, descendência, cor, língua [...] ou qualquer outro
motivo". Não só isso: o artigo 11 dá um enorme passo adiante e confirma a
vontade dos legisladores de superar as limitações impostas pela sharia:
"O Estado tem o compromisso de garantir a igualdade entre mulheres e
homens em todos os direitos civis, políticos, económicos, sociais e
culturais, de acordo com os princípios estabelecidos pela constituição. O
Estado envidará todos os esforços para garantir a adequada
representação das mulheres nas assembleias, dentro dos limites
estabelecidos por lei, de modo a garantir às mulheres o direito de
assumir cargos públicos e administrativos de relevância no Estado e nas
altas instâncias judiciárias, sem discriminação. O Estado se empenhará
em proteger as mulheres contra todos os tipos de violência e em
apoiá-las a fim de conciliarem a gestão da família e as exigências do
trabalho, bem como em proteger e defender a maternidade, a infância, a
mulher com família numerosa, a mulher idosa e a mulher em melhores
situações".
E é certamente graças a mulheres como Mona Mina e Hala Shukrallah que
a tinta da constituição egípcia poderá se transformar em passos
concretos rumo à verdadeira igualdade, que também envolve o
reconhecimento da autoridade feminina não só na família, mas,
principalmente, na sociedade.
(24 de Fevereiro de 2014) © Innovative Media Inc.
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