As palavras do papa Francisco durante o Angelus
Cidade do Vaticano, 17 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org)
No Angelus deste domingo, 16 de Fevereiro, Papa Francisco
comentou a atitude de Jesus em relação à lei judaica, destacando o
significado do pleno cumprimento da Lei e da justiça superior. Eis as
palavras do Papa:
Queridos irmãos e irmãs,
O Evangelho deste domingo faz parte ainda do chamado “sermão da
montanha”, a primeira grande pregação e Jesus. Hoje o tema é a atitude
de Jesus com relação à Lei judaica. Ele afirma: “Não julgueis que vim
abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para
levá-los à perfeição” (Mt 5, 17). Jesus, então, não quer cancelar os
mandamentos que o Senhor deu por meio de Moisés, mas quer levá-los à sua
plenitude. E logo depois acrescenta que este “cumprimento” da Lei
requer uma justiça superior, uma observância mais autêntica. Diz de fato
aos seus discípulos: “Se a vossa justiça não for maior que a justiça
dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus”
(Mt 5,20).
Mas o que significa este “pleno cumprimento” da Lei? E esta justiça
superior em que consiste? O próprio Jesus nos responde com alguns
exemplos. Jesus era prático, falava sempre com os exemplos para se fazer
entender. Começa pelo quinto mandamento do decálogo: “Vós ouvistes o
que foi dito aos antigos: ‘Não matarás! Quem matar será condenado pelo
tribunal’. Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza com seu
irmão será réu em juízo” (vv. 21-22). Com isto, Jesus nos recorda que
também as palavras podem matar! Quando se diz que uma pessoa tem língua
de serpente, o que quer dizer? Que as suas palavras matam! Portanto, não
só não se deve atentar contra a vida do próximo, mas também não lançar
sobre ele o veneno da ira e atingi-lo com a calúnia. Nem falar mal dele.
Chegamos aos mexericos: os mexericos podem matar, porque matam a fama das
pessoas! É tão bruto mexericar! No começo pode parecer uma coisa
agradável, até divertida, como chupar uma bala. Mas no fim enche o
coração de amargura e envenena também nós. Digo-vos a verdade, estou
convencido de que se cada um de nós fizesse o propósito de evitar os
mexericos, no fim tornar-se-ia santo! É um belo caminho! Queremos nos
tornar santos? Sim ou não? [Praça: Sim!] Queremos viver atrelados aos
mexericos como hábitos? Sim ou não? [Praça: Não!] Então estamos de acordo:
nada de mexericos! Jesus propõe a quem O segue a perfeição do amor: um
amor cuja única medida é não ter medida, ir além de todos os cálculos. O
amor ao próximo é uma atitude tão fundamentada que Jesus chega a
afirmar que a nossa relação com Deus não pode ser sincera se não
queremos fazer as pazes com o próximo. E diz assim: “Se estás, portanto,
para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão
tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai
primeiro reconciliar-te com o teu irmão” (vv. 23-24). Por isso, somos
chamados a reconciliar-nos com os nossos irmãos antes de manifestar a
nossa devoção ao Senhor na oração.
De tudo isso, entende-se que Jesus não dá importância simplesmente à
observância disciplinar e à conduta exterior. Ele vai à raiz da Lei, com
foco, sobretudo, na intenção e, portanto, no coração do homem, de onde
provêm as nossas acções boas ou más. Para ter comportamentos bons e
honestos, não bastam as normas jurídicas, mas são necessárias motivações
profundas, expressão de uma sabedoria oculta, a Sabedoria de Deus, que
pode ser acolhida graças ao Espírito Santo. E nós, através da fé em
Cristo, podemos abrir-nos à acção do Espírito, que nos torna capazes de
viver o amor divino.
À luz deste ensinamento, cada preceito revela o seu pleno significado
como exigência de amor, e todos se reúnem no maior mandamento: ama Deus
com todo o coração e o próximo como a ti mesmo.
(Trad.: Canção Nova)
(17 de Fevereiro de 2014) © Innovative Media Inc.
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