Novos indícios no 70º aniversário
Churchill urgiu durante dias o ataque do neozelandês Freyberg, que incluía o bombardeamento. |
Actualizado 15 de Fevereiro de 2014
C.L./ ReL
Uma investigação histórica revela novos dados sobre a destruição da abadia de Montecassino, o lugar onde São Bento, ao fundar o seu primeiro mosteiro por volta de 529, pôs os cimentos da Cristandade europeia, da qual o edifício era e é símbolo (depois de ser reconstruído em 1964), situado 130 km a sul de Roma.
A chave diplomática
L´Osservatore Romano publica este sábado um artigo baseado na obra de Nando Tasciotti Montecassino 1944, publicada este ano por ocasião do septuagésimo aniversário da destruição do monumento pelos aliados em 15 de Fevereiro como colofão a intensas batalhas na zona.
O autor especializou-se na parte mais desconhecida a respeito, a saber, os intercâmbios diplomáticos em torno à situação da abadia, situada na Linha Gustav traçada por Hitler para frear o avanço até o norte dos aliados.
De quem foi a ordem?
Durante anos debateu-se sobre a responsabilidade última de que um edifício tão significativo fosse reduzido a ruínas. Tanto Franklyn Delano Roosevelt (que afirmou ter-se inteirado pelos jornais) como Winston Churchill (que não quis falar do assunto durante muito tempo) fizeram descansar a decisão no alto comando militar, considerada um "crime de guerra" pelos alemães, um "trágico erro" pelos norte-americanos e uma "necessidade militar" pelos britânicos.
Estes alegavam que havia soldados germanos dentro e que tinham convertido Montecassino numa fortaleza ou pelo menos, pela sua privilegiada posição, como observatório estratégico. O Vaticano, por sua parte, tinha assegurado aos contendentes a neutralidade do mosteiro. Precisamente contando com ela tinham-se refugiado ali duzentos civis que morreram debaixo das bombas.
Os dados recolhidos por Tasciotti em arquivos ingleses, estadunidenses, italianos e alemães, além das entrevistas que realizou a monges que estavam ali e a outras pessoas que ocupavam o lugar, demonstram que os aliados mentiram.
Churchill e Freyberg
"Poderosos e até agora inéditos indícios documentais", afirma, sugerem que Churchill "não podia não saber". E mais, entre 26 de Janeiro e 14 de Fevereiro, o premier britânico trocou com os generais Alexander e Freyberg pelo menos dez telegramas sobre a frente de Cassino e sobre a actividade das tropas neozelandesas que mandava este último, o grande partidário do bombardeio.
Horas antes de que voassem as fortalezas voantes que descarregaram a sua tonelagem explosiva sobre Montecassino, Churchill urgia Alexander "porque não se lançou ainda o ataque de Freyberg", entre cujos planos (que Tasciotti considera que o primeiro-ministro não podia desconhecer) figurava como passo "fundamental e preliminar" a eliminação da posição dominante (por elevada) da abadia.
C.L./ ReL
Uma investigação histórica revela novos dados sobre a destruição da abadia de Montecassino, o lugar onde São Bento, ao fundar o seu primeiro mosteiro por volta de 529, pôs os cimentos da Cristandade europeia, da qual o edifício era e é símbolo (depois de ser reconstruído em 1964), situado 130 km a sul de Roma.
A chave diplomática
L´Osservatore Romano publica este sábado um artigo baseado na obra de Nando Tasciotti Montecassino 1944, publicada este ano por ocasião do septuagésimo aniversário da destruição do monumento pelos aliados em 15 de Fevereiro como colofão a intensas batalhas na zona.
O autor especializou-se na parte mais desconhecida a respeito, a saber, os intercâmbios diplomáticos em torno à situação da abadia, situada na Linha Gustav traçada por Hitler para frear o avanço até o norte dos aliados.
De quem foi a ordem?
Durante anos debateu-se sobre a responsabilidade última de que um edifício tão significativo fosse reduzido a ruínas. Tanto Franklyn Delano Roosevelt (que afirmou ter-se inteirado pelos jornais) como Winston Churchill (que não quis falar do assunto durante muito tempo) fizeram descansar a decisão no alto comando militar, considerada um "crime de guerra" pelos alemães, um "trágico erro" pelos norte-americanos e uma "necessidade militar" pelos britânicos.
Estes alegavam que havia soldados germanos dentro e que tinham convertido Montecassino numa fortaleza ou pelo menos, pela sua privilegiada posição, como observatório estratégico. O Vaticano, por sua parte, tinha assegurado aos contendentes a neutralidade do mosteiro. Precisamente contando com ela tinham-se refugiado ali duzentos civis que morreram debaixo das bombas.
Os dados recolhidos por Tasciotti em arquivos ingleses, estadunidenses, italianos e alemães, além das entrevistas que realizou a monges que estavam ali e a outras pessoas que ocupavam o lugar, demonstram que os aliados mentiram.
Churchill e Freyberg
"Poderosos e até agora inéditos indícios documentais", afirma, sugerem que Churchill "não podia não saber". E mais, entre 26 de Janeiro e 14 de Fevereiro, o premier britânico trocou com os generais Alexander e Freyberg pelo menos dez telegramas sobre a frente de Cassino e sobre a actividade das tropas neozelandesas que mandava este último, o grande partidário do bombardeio.
Horas antes de que voassem as fortalezas voantes que descarregaram a sua tonelagem explosiva sobre Montecassino, Churchill urgia Alexander "porque não se lançou ainda o ataque de Freyberg", entre cujos planos (que Tasciotti considera que o primeiro-ministro não podia desconhecer) figurava como passo "fundamental e preliminar" a eliminação da posição dominante (por elevada) da abadia.
O testemunho do abade
Os aliados alegaram sempre que havia soldados alemães no interior. E esse era o ponto sobre o qual Pio XII, que negociava intensamente a três bandas (Berlim, Washington, Londres) para salvaguardar o monumento, maior interesse tinha em conhecer a verdade. E soube-a quando chegou a Roma o abade Diamare: não havia tropas nazis em Montecassino.
Tasciotti considera que o Papa Eugenio Pacelli podia fazer mais para evitar primeiro, ou condenar depois, o bombardeio. Mas uma das suas mesmas fontes, o jesuíta alemão Peter Gumpel (relator da causa de beatificação de Pio XII), explica que a neutralidade do Vaticano em virtude dos Pactos de Latrão de 1929 se estendia em particular às declarações públicas num caso como o da guerra.
Uma denúncia que teria beneficiado Hitler
E mais: de novo os dados históricos confirmam a difícil mas ponderada atitude de Pio XII durante toda a contenda. O seu comportamento com Montecassino desmente de novo aqueles que o acusam de não ter denunciado os crimes nazis, pois, como assinala Gaetano Vallini em L´Osservatore Romano, se o pontífice manteve um perfil baixo na sua rejeição à destruição da abadia foi porque o contrário teria significado uma determinante vitória propagandística do III Reich, ao ver acusados os aliados de: 1) destruir um monumento de grande valor histórico, artístico e religioso; 2) matar no seu interior centenas de não combatentes; e 3) mentir sobre a presença no mosteiro de tropas inimigas.
O Papa (uma de cujas principais preocupações era a possível destruição de Roma) não quis oferecer esse balão de oxigénio a um Hitler que tinha na Itália um dos seus últimos grandes quebra cabeça depois da rendição de Itália em Setembro de 1943 e o iminente desembarco no norte da Europa que se concretizaria na Normandia em 6 de Junho de 1944.
Tasciotti, ainda que critica os nazis por incluir a zona de Montecassino na Línea Gustav que devia parar o assalto a Roma e elogia os aliados por enfrentar Hitler e Mussolini, considera, em conclusão, o arrasamento como uma "mancha histórica" dos seus dirigentes políticos (Roosevelt e, sobretudo, Churchill), a quem atribui sem duvidá-lo a responsabilidade última da dramática destruição.
Os aliados alegaram sempre que havia soldados alemães no interior. E esse era o ponto sobre o qual Pio XII, que negociava intensamente a três bandas (Berlim, Washington, Londres) para salvaguardar o monumento, maior interesse tinha em conhecer a verdade. E soube-a quando chegou a Roma o abade Diamare: não havia tropas nazis em Montecassino.
Tasciotti considera que o Papa Eugenio Pacelli podia fazer mais para evitar primeiro, ou condenar depois, o bombardeio. Mas uma das suas mesmas fontes, o jesuíta alemão Peter Gumpel (relator da causa de beatificação de Pio XII), explica que a neutralidade do Vaticano em virtude dos Pactos de Latrão de 1929 se estendia em particular às declarações públicas num caso como o da guerra.
Uma denúncia que teria beneficiado Hitler
E mais: de novo os dados históricos confirmam a difícil mas ponderada atitude de Pio XII durante toda a contenda. O seu comportamento com Montecassino desmente de novo aqueles que o acusam de não ter denunciado os crimes nazis, pois, como assinala Gaetano Vallini em L´Osservatore Romano, se o pontífice manteve um perfil baixo na sua rejeição à destruição da abadia foi porque o contrário teria significado uma determinante vitória propagandística do III Reich, ao ver acusados os aliados de: 1) destruir um monumento de grande valor histórico, artístico e religioso; 2) matar no seu interior centenas de não combatentes; e 3) mentir sobre a presença no mosteiro de tropas inimigas.
O Papa (uma de cujas principais preocupações era a possível destruição de Roma) não quis oferecer esse balão de oxigénio a um Hitler que tinha na Itália um dos seus últimos grandes quebra cabeça depois da rendição de Itália em Setembro de 1943 e o iminente desembarco no norte da Europa que se concretizaria na Normandia em 6 de Junho de 1944.
Tasciotti, ainda que critica os nazis por incluir a zona de Montecassino na Línea Gustav que devia parar o assalto a Roma e elogia os aliados por enfrentar Hitler e Mussolini, considera, em conclusão, o arrasamento como uma "mancha histórica" dos seus dirigentes políticos (Roosevelt e, sobretudo, Churchill), a quem atribui sem duvidá-lo a responsabilidade última da dramática destruição.
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