1. Importância dos corpos intermédios
Fala-se muito em reformar e reestruturar o Estado, mas empurra-se toda a responsabilidade da iniciativa para as cúpulas e depois, quando as decisões não agradam, protesta-se. Aliás, isto acontece não apenas a nível político, social e empresarial, mas também a nível da Igreja. Quando assim é, dificilmente os organismos funcionam bem. Os sistemas centralistas e piramidais infantilizam os cidadãos, os membros do grupo e da empresa e desresponsabiliza-os do seu contributo para a vida e progresso da sociedade e da respectiva associação a que pertencem.
Ultimamente temos assistido a muitas trapalhadas, que trazem os cidadãos desmotivados e desanimados. Apetece citar aqui o dito popular: anda e desanda e não sai da cepa torta. Dá impressão que até as próprias cúpulas já não se entendem, enroladas nos novelos que elas próprias teceram. Reduzir despesas e aumentar receitas nos orçamentos, reduzir concelhos e depois apenas algumas freguesias, aumentar impostos, mas reduzir benefícios, para alguns, pois os que mais ganham acabam por ter uma excepção, pelos mais diversos motivos. Reduzir tribunais, centros de saúde, escolas, mas criar mega-agrupamentos. Por outro lado, centralizar a administração, a cultura, a saúde e querer lutar contra a desertificação do interior, mas retirando daí o que ainda o pode tornar atractivo, tudo isto parece ser contraditório.
Como proceder, para fomentar o progresso, respeitando a dignidade das pessoas, a corresponsabilidade e a igualdade de direitos e deveres? Penso que desapareceria a aparente contradição, se tivéssemos hábitos de corresponsabilidade na construção do bem comum. Se respeitássemos o princípio da subsidiariedade, um dos princípios da doutrina social da Igreja. Mas para isso é necessário que o poder central, que afinal deve estar ao serviço dos cidadãos, não impossibilite a iniciativa particular com normas e exigências exageradas e sugando todos os recursos para a administração central.
Quem está mais perto das pessoas, lá onde elas vivem, conhece melhor as situações, sabe como conseguir as melhores soluções e motivar os seus concidadãos. Uma boa organização lança mão dos corpos intermédios necessários para unir forças e obter os melhores resultados. São estes elos da cadeia que faltam em várias áreas da nossa sociedade e daí o desalento e ineficácia em que estamos mergulhados.
2. Os corpos intermédios na Igreja
Estas considerações afloraram-me à mente por altura da instituição de um acólito, um ministério ou serviço na vida e missão da Igreja. Na missa paroquial de Ourique institui ontem, dia 9 de Fevereiro, o Amadeu, seminarista vindo de Lazarim, diocese de Lamego, para a nossa diocese e que tem estado a estagiar com o padre José Manuel.
Os ministérios são serviços intermédios na missão da Igreja. Actualmente temos apenas o de leitor e acólito como ministérios instituídos. Antigamente havia mais e em alguns países há muitos mais, como prevê o próprio direito canónico. A Igreja em alguns países está florescente graças a esses ministérios. O bispo, o pároco ou o diácono só de vez em quando podem estar nas comunidades locais e exercer o serviço específico para que estão qualificados. Entretanto são os agentes locais, catequistas, leitores, acólitos, etc. que mantem a dinâmica comunitária, de modo que se tornem comunidades vivas, sempre em crescimento e formação. Quanto mais pessoas participarem na missão e vida das comunidades, respeitando as suas capacidades e responsabilidades, mais vivas e animadas se tornam.
Estamos a viver um sínodo na diocese de Beja. Talvez será de repensar os dinamismos de corresponsabilidade nesta Igreja e dotá-la dos serviços e ministérios necessários, para que tenhamos comunidades vivas, verdadeiras células em crescimento e multiplicação contínua, superando o centralismo clerical. Mas para isso temos de rever também a qualidade e utilidade do nosso serviço, sem receio de partilhar as responsabilidades, pois é de serviço que se trata, e não de poder.
† António Vitalino, bispo de Beja
Fala-se muito em reformar e reestruturar o Estado, mas empurra-se toda a responsabilidade da iniciativa para as cúpulas e depois, quando as decisões não agradam, protesta-se. Aliás, isto acontece não apenas a nível político, social e empresarial, mas também a nível da Igreja. Quando assim é, dificilmente os organismos funcionam bem. Os sistemas centralistas e piramidais infantilizam os cidadãos, os membros do grupo e da empresa e desresponsabiliza-os do seu contributo para a vida e progresso da sociedade e da respectiva associação a que pertencem.
Ultimamente temos assistido a muitas trapalhadas, que trazem os cidadãos desmotivados e desanimados. Apetece citar aqui o dito popular: anda e desanda e não sai da cepa torta. Dá impressão que até as próprias cúpulas já não se entendem, enroladas nos novelos que elas próprias teceram. Reduzir despesas e aumentar receitas nos orçamentos, reduzir concelhos e depois apenas algumas freguesias, aumentar impostos, mas reduzir benefícios, para alguns, pois os que mais ganham acabam por ter uma excepção, pelos mais diversos motivos. Reduzir tribunais, centros de saúde, escolas, mas criar mega-agrupamentos. Por outro lado, centralizar a administração, a cultura, a saúde e querer lutar contra a desertificação do interior, mas retirando daí o que ainda o pode tornar atractivo, tudo isto parece ser contraditório.
Como proceder, para fomentar o progresso, respeitando a dignidade das pessoas, a corresponsabilidade e a igualdade de direitos e deveres? Penso que desapareceria a aparente contradição, se tivéssemos hábitos de corresponsabilidade na construção do bem comum. Se respeitássemos o princípio da subsidiariedade, um dos princípios da doutrina social da Igreja. Mas para isso é necessário que o poder central, que afinal deve estar ao serviço dos cidadãos, não impossibilite a iniciativa particular com normas e exigências exageradas e sugando todos os recursos para a administração central.
Quem está mais perto das pessoas, lá onde elas vivem, conhece melhor as situações, sabe como conseguir as melhores soluções e motivar os seus concidadãos. Uma boa organização lança mão dos corpos intermédios necessários para unir forças e obter os melhores resultados. São estes elos da cadeia que faltam em várias áreas da nossa sociedade e daí o desalento e ineficácia em que estamos mergulhados.
2. Os corpos intermédios na Igreja
Estas considerações afloraram-me à mente por altura da instituição de um acólito, um ministério ou serviço na vida e missão da Igreja. Na missa paroquial de Ourique institui ontem, dia 9 de Fevereiro, o Amadeu, seminarista vindo de Lazarim, diocese de Lamego, para a nossa diocese e que tem estado a estagiar com o padre José Manuel.
Os ministérios são serviços intermédios na missão da Igreja. Actualmente temos apenas o de leitor e acólito como ministérios instituídos. Antigamente havia mais e em alguns países há muitos mais, como prevê o próprio direito canónico. A Igreja em alguns países está florescente graças a esses ministérios. O bispo, o pároco ou o diácono só de vez em quando podem estar nas comunidades locais e exercer o serviço específico para que estão qualificados. Entretanto são os agentes locais, catequistas, leitores, acólitos, etc. que mantem a dinâmica comunitária, de modo que se tornem comunidades vivas, sempre em crescimento e formação. Quanto mais pessoas participarem na missão e vida das comunidades, respeitando as suas capacidades e responsabilidades, mais vivas e animadas se tornam.
Estamos a viver um sínodo na diocese de Beja. Talvez será de repensar os dinamismos de corresponsabilidade nesta Igreja e dotá-la dos serviços e ministérios necessários, para que tenhamos comunidades vivas, verdadeiras células em crescimento e multiplicação contínua, superando o centralismo clerical. Mas para isso temos de rever também a qualidade e utilidade do nosso serviço, sem receio de partilhar as responsabilidades, pois é de serviço que se trata, e não de poder.
† António Vitalino, bispo de Beja
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