Abbas, o Papa, Peres e o Patriarca Bartolomé de Constantinopla, numa oração que chega onde a política fracassa |
Momento histórico nos jardins do Vaticano: as três delegações rezaram uma ao lado da outra, cada qual conforme a tradição da sua religião
Cidade do Vaticano, 09 de Junho de 2014 (Zenit.org) Sergio Mora
No entardecer deste domingo, 8 de Junho de 2014, os jardins
do Vaticano registaram um acontecimento excepcional: pela primeira vez
na história, os presidentes de Israel, Shimon Peres, e da Palestina,
Mahmud Abbas, se reuniram para rezar pela paz, a convite do papa
Francisco, em pleno Vaticano. Estavam presentes também o patriarca de
Constantinopla, Bartolomeu I, e o custódio da Terra Santa, o padre
franciscano Pierbattista Pizzaballa.
O abraço com Abbas, presidente da autoridade palestiniana |
O Santo Padre fez o convite no dia 25 de Maio, durante a sua viagem
à Terra Santa. Na Palestina, ele disse, surpreendendo o mundo: “Senhor
presidente Mahmoud Abbas, neste lugar, onde nasceu o Príncipe da Paz, eu
desejo convidar o senhor e o presidente Shimon Peres a elevarmos juntos
uma intensa oração, pedindo a Deus o dom da paz. Ofereço a minha casa
no Vaticano para acolher este encontro de oração”.
Abraço com Peres, presidente do estado de Israel |
O início do encontro de oração pela paz foi às 19 horas (horário de
Roma), com uma abertura musical. “Nosso Senhor lhes conceda a paz!
Viemos a este lugar, israelitas e palestinianos, judeus, cristãos e
muçulmanos, para oferecer a nossa oração pela paz, pela Terra Santa e
por todos os seus habitantes”, proclamou-se na introdução.
O encontro teve três momentos: louvor, perdão e invocação de paz, seguidos por uma conclusão.
O salmo número oito de David abriu a oração dos representantes judeus;
vieram a seguir o salmo 147 e o Hino ao Omnipotente. Depois de um
intervalo musical, realizou-se o pedido de perdão recitado em hebraico,
seguido pelo salmo 25 e pelo salmo 130. Encerrou-se esta parte da cerimónia com uma meditação musical judaica.
A oração da comunidade cristã
A comunidade cristã realizou a sua prece começando com um
agradecimento pela criação, em inglês, seguido pela leitura do salmo 8 e
pela leitura do livro de Isaías.
“Rezemos: Deus Pai Omnipotente, nós, aqui reunidos, vossos filhos
judeus, cristãos e muçulmanos, vos reconhecemos como nosso Criador.
Vimos dar-vos graças pela beleza e maravilha da vossa criação".
Seguiu-se um intervalo musical. A segunda parte da oração cristã
começou com um pedido de perdão recitado em italiano, com a leitura de
uma oração de João Paulo II: “... Rezemos para que, contemplando Jesus,
nosso Senhor e nossa paz, os cristãos sejam capazes de arrepender-se das
palavras e das atitudes causadas pelo orgulho e pelo ódio, pelo desejo
de dominar os outros, pela inimizade para com os membros de outras
religiões e para com os grupos mais frágeis da sociedade, como migrantes
e itinerantes. Rezemos por todos aqueles que sofreram actos contrários à
dignidade humana e por aqueles cujos direitos foram pisados”.
“Concedei que os nossos progenitores, nossos irmãos e irmãs, e todos
nós, vossos servidores, que, por graça do Espírito Santo, nos dirigimos a
vós com arrependimento sincero, possamos sentir a vossa misericórdia e
receber o perdão dos nossos pecados. Nós vos pedimos por meio de Cristo,
nosso Senhor. Amém”.
Após uma pausa de silêncio, seguiu-se a oração: “Deus Pai Omnipotente,
dai-nos a graça de apresentar-nos humildemente diante de vós e de
implorar o vosso perdão por termos ofendido a vós e os nossos irmãos e
irmãs. Nós não fomos custódios da vossa criação, especialmente em vossa
Terra Santa. Empreendemos guerras, cometemos violência, ensinamos o
desprezo pelos nossos irmãos e irmãs, ofendendo profundamente a vós, ó
Pai de todos nós. Dai-nos a graça de nos empenharmos novamente para agir
com justiça, amar a misericórdia e caminhar humildemente com nosso
Deus, por meio de Cristo, nosso Senhor. Amém”.
Depois de mais um breve intervalo musical, veio a invocação de paz,
em árabe, iniciada pela leitura da oração de São Francisco de Assis:
“Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz”.
“Seja louvado Deus, que criou o céu e a terra, que transformou as
trevas em luz, que fez surgir todas as coisas do nada...”. Assim começou
a oração islâmica, terminada com outro intervalo musical, após o qual
foi feita a invocação pela paz, em árabe e encerrada com uma última
interpretação musical muçulmana.
Os quatro líderes deitam terra para calçar uma mesma oliveira da paz nos jardins vaticanos |
(09 de Junho de 2014) © Innovative Media Inc.
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