Entre as repúblicas da Ásia Central, de maioria muçulmana, o Cazaquistão possui uma maioria cristã: um país a ser conhecido por ocasião da conferência na Universidade Europeia de Roma
Roma, 20 de Junho de 2014 (Zenit.org) Dario Citati
Alguns poucos especialistas conhecem a história e a
realidade do Cazaquistão, um país que, muitas vezes, é confundido com
outras repúblicas da Ásia Central. No entanto, basta observar o mapa
para entender suas peculiares características. O território desta
república, que se tornou independente em 1991, com a dissolução da União
Soviética, é imensa: cerca de três milhões de quilômetros quadrados,
área que ocupa quase toda a Europa Ocidental.
Historicamente, o território tem visto a alternância de muitos
povos e religiões. A população nativa ainda possui uma cultura
profundamente enraizada no xamanismo e no folclore tradicional, que
muitas vezes constitui um antídoto ao fundamentalismo muçulmano. Mesmo
quando o Islão se tornou a religião dominante, a maioria dos cazaques
mantiveram os hábitos e costumes pré-islâmicos, com uma forte tendência
ao sincretismo religioso, mas também um espírito de tolerância que todos
os viajantes e estudiosos reconhecem unanimemente.
O cristianismo, no entanto, tem insuspeitadas origens antigas nestas
terras. Os nestorianos, hereges condenados pelo Concílio de Éfeso por
negar a maternidade divina de Maria, teve uma grande difusão, migrando
do Império Bizantino para toda a Ásia Central no primeiros séculos dC e
conseguiu converter vários khan locais. A evangelização da Igreja
Católica pode ser datado do século XI, XII, graças à missão franciscana
do Arcebispo João de Montecorvino (1247-1328), um verdadeiro apóstolo do
Cazaquistão e da Ásia Central até a China, cuja criatividade está ligada à
criação das primeiras dioceses. No século XVIII o território cazaque
foi anexado pelo Império Russo e sofreu um substancial assentamento de
cristãos ortodoxos, em conjunto com a entrada de colonos eslavos.
Com o advento do comunismo, o Cazaquistão sofreu não só a
descristianização comum a todas as repúblicas da União Soviética, mas
tornou-se notória a presença dos campos de trabalho forçado, para onde
foram deportados prisioneiros de todas as nacionalidades. Isso
contribuiu ainda mais para tornar este país (que em séculos passados
já havia sido habitado por muitos grupos étnicos, devido à sua
morfologia territorial facilmente transponível) fragmentado etnicamente.
Basta dizer que em 1991, na época da independência do país, os cazaques
eram menos de 50% da população total, composta por uma miríade de
outras nacionalidades (incluindo russos, ucranianos, alemães, poloneses,
tártaros, coreanos).
Depois de setenta anos de ateísmo de Estado, a maioria da população
professa hoje o islamismo, o cristianismo é a segunda maior religião do
país, superando 20% da população total. A maior parte deste percentual
é, obviamente, composta por ortodoxos, muito presente por causa da
proximidade histórica e geográfica com a Rússia. Os católicos, que
representam menos de 2% do total, são estimados em pelo menos 200 mil:
um número incomparável a todas as outras repúblicas vizinhas
(Uzbequistão, Tajiquistão, Turquemenistão e Quirguistão), onde os
cristãos fiéis a Roma, são apenas alguns. A Igreja Católica no
Cazaquistão está presente com a Arquidiocese de Maria Santíssima em
Astana, a Diocese da Santíssima Trindade em Almaty, a Diocese de
Karaganda e a Administração Apostólica de Atyrau.
Em Setembro de 2001, João Paulo II visitou o Cazaquistão: foi a
primeira visita na história de um Romano Pontífice. Durante a sua
estada, ele foi convidado pela Universidade da capital Astana, onde
pronunciou um discurso marcado por uma grande compreensão do contexto
local (1). Em Novembro de 2010, sob o pontificado de Bento XVI, o
Cazaquistão foi visitado pelo então Secretário de Estado Tarcisio
Bertone, por ocasião da cimeira da OSCE. O cardeal levou para Astana as
relíquias do apóstolo André e transmitiu palavras positivas pela gestão
da situação multi-étnica e multi-confessional no país (2).
Em 2012, o cardeal Angelo Sodano se reuniu com o presidente Nursultan
Nazarbaev, que também havia convidado o Papa Ratzinger. Na ocasião
desta visita, o Decano do Colégio dos Cardeais, consagrou a catedral da
cidade de Karaganda, definida como "silencioso sinal e instrumento de
evangelização, mas poderoso" pelo Bispo Auxiliar Athanasius Schneider
(3). Em Karaganda está o único seminário católico de toda a Ásia
Central, onde cresce o número de vocações: um sinal encorajador, se
considerarmos que o clero e a hierarquia do lugar não são de origem
local. Em 2013, foi consagrada em Astana uma igreja greco-católica de
rito bizantino, mas em plena comunhão com Roma (4).
Todas essas características são suficientes para tornar o Cazaquistão
único no panorama da Ásia Central (onde os católicos, como mencionado,
são pequenas minorias, muitas vezes perseguidos) em geral em todos os
países de maioria muçulmana. O governo do país se define como laico, e
procura desenvolver um modelo de coexistência entre as civilizações que
exalta a diversidade de etnias e confissões em nome de uma cidadania
explicitamente elogiada como multicultural. Trata-se de uma abordagem
não isenta de instrumentalidade e de tendências ideológicas sincréticas,
pensado pelos líderes políticos para manter a unidade de uma sociedade
fragmentada que, caso contrário, poderia implodir.
Existem outros problemas, especialmente no que se refere à
perspectiva de evangelização. Depois de muitos anos em que a liberdade
dos cristãos era totalmente garantida, uma lei de 2011 sobre as
associações religiosas foi amplamente criticada por impor maiores
limitações à actividade missionária. Deve ser dito, no entanto, que estas
medidas foram motivadas principalmente pelo desejo de se opor ao avanço
do fundamentalismo islâmico proveniente dos vizinhos Tadjiquistão e
Uzbequistão. Mais uma vez, a República da Ásia Central parece ser uma excepção, por sua vontade de combater o extremismo islâmico sem, no
entanto, percorrer o caminho do secularismo ocidental. Sendo o país da
Ásia Central, onde o catolicismo é quantitativamente mais fundamentado e
desfruta de respeito suficiente por parte das autoridades civis locais,
o Cazaquistão continua a ser um elemento crucial para as perspectivas
de crescimento da Igreja em toda a região.
Para discutir o contexto político e religioso do Cazaquistão, seus
problemas e seu potencial, a Universidade Europeia de Roma apresentará
um seminário, na manhã de quarta-feira 25 de Junho, por ocasião da
apresentação de um estudo realizado pelo Instituto Superior de Estudos
em Geopolítica e Ciências Auxiliares (ISAG), intitulado A unidade na diversidade. As religiões, etnias e civilizações no Cazaquistão contemporâneo, na presença do Reitor Pe. Lucas Galilizia L.C.
(Trad.:MEM)
NOTA:
(1) Visita pastorale in Kazakhstan: incontro con i giovani. Discorso
del Santo Padre, http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/speeches/2001/september/documents/hf_jp-ii_spe_20010923_kazakhstan-astana-youth_it.html
(2) Card. Bertone in Kazakhstan consegna reliquia di Sant’Andrea:
«Qui serena convivenza religiosa», http://www.toscanaoggi.it/Vita-Chiesa/CARD.-BERTONE-IN-KAZAKHSTAN-CONSEGNA-RELIQUIA-DI-SANT-ANDREA-QUI-SERENA-CONVIVENZA-RELIGIOSA
(3) «Un silenzioso ma anche potente segno e mezzo di
evangelizzazione»,
http://www.zenit.org/it/articles/un-silenzioso-ma-anche-potente-segno-e-mezzo-di-evangelizzazione
(4) Asia/Kazakhstan: Una nuova chiesa greco-cattolica, in memoria di
vescovi e preti prigionieri nei gulag, http://www.fides.org/it/news/53528-ASIA_KAZAKHSTAN_Una_nuova_chiesa_greco_cattolica_in_memoria_di_vescovi_e_preti_prigionieri_nei_gulag#.U6NkGZR_ucI
(20 de Junho de 2014) © Innovative Media Inc.
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