Andranik Teymourian, ás da selecção iraniana, foi também o primeiro capitão não muçulmano. Acostumado a viver com orgulho a sua fé cristã no Irão, foi alvo de um episódio de discriminação religiosa na Alemanha
Roma, 17 de Junho de 2014 (Zenit.org) Federico Cenci
O primeiro empate da Copa do Mundo aconteceu no décimo
terceiro jogo. Após o dilúvio de golos que choveram na rede nos primeiros
jogos, Nigéria e Irão empatam zero a zero. Resultado final de um jogo
chato, mas que deixou o Irão feliz, considerado por todos os observadores
a "Cinderela" do seu grupo. Uma ideia que nunca abandonou Andranik
Teymourian, ás da equipa asiática, um dos mais pró-activos na estreia de
ontem.
Entrevistado pela Fifa.com na véspera da revisão brasileira, o
craque iraniano tinha demonstrado que não temia os fortes adversários
que a sorte atribuiu à sua equipe. "Contra nós nenhum jogo será fácil -
afirmava - o primeiro lugar na rodada das eliminatórias asiáticas mostra
o espírito de luta colocado em campo”.
Declarações que atestam ambições profissionais e que estão na base de
uma coragem que Teymourian já mostrou no passado. A coragem "de não
sentir vergonha de ser cristão”. Ele, cristão de origem arménia e
cidadão da República Islâmica do Irão, foi o mais votado, por ocasião da
Copa do Mundo de 2006, numa pesquisa patrocinada pelo grupo holandês ecuménico Gristelijk.
Com o 31,3% dos votos, a estrela do Irão ficou acima de 10 outros
jogadores que participaram da Copa do Mundo na Alemanha e considerados
exemplos de homens, “que optaram por declarar abertamente a sua fé".
Quem votou foram holandeses, europeus, mas não só.
O que particularmente impressiona de Teymourian é um aspecto: as suas
declarações quebraram os clichés que circulam em torno do Irão. De etnia arménia, faz parte daquela pequena minoria no País do Golfo Pérsico que
não chega nem sequer a 1% da população. No entanto, goza de uma
representação parlamentar e de uma certa autonomia cultural que até
permite os arménios de produzirem vinho. Especialmente goza da atitude
positiva por parte dos colegas muçulmanos.
Teymourian é uma clara demonstração disso. No Irão é considerado o
diamante mais valioso na selecção de futebol, queridinho de todos os
entusiastas. Quando sai do campo é saudado com grandes aplausos, e ele
responde com gratidão à sua maneira, fazendo o sinal da cruz. Um gesto
que nunca lhe criou qualquer problema. Na verdade, ele mesmo "Ando" (como os fãs carinhosamente o chamam) nunca escondeu que as relações com
companheiros muçulmanos, com os directores e com a população são
"realmente boas".
Tão boas, que lhe concedeu uma investidura histórica. Teymourian, de
facto, no dia 18 de Maio desse ano, foi nomeado o primeiro capitão
muçulmano do Team Melli (a Nação iraniana). O jogador de 31 anos, vive
essa realidade com orgulho, mas sem ênfase. Não está acostumado a
perceber sua fé cristã como fonte de distinção com os companheiros de
equipe.
Em Teerão, onde mora e joga com a equipa do Esteghlal, frequenta a Missa
todos os domingos. Hábito que leva consigo mesmo quando cruza
fronteiras nacionais. Com excepção da Copa do Mundo de 2006 na Alemanha
que, em entrevista ao Canal-AP Worldstream contou uma experiência
desagradável que lhe aconteceu durante um retiro da própria selecção.
Num domingo, como sempre faz quando está no Irão, preparou-se para
chegar à igreja mais próxima e participar da Missa. Tentando sair da
estrutura que hospedava a sua equipa, foi bloqueado pela polícia alemã. Um
obstáculo tão inesperado quanto absurdo, para um jovem que tem a única,
inocente, intenção de ir à igreja. Foi-lhe dito que, por razões de
segurança, não seria possível sair. Em vão a sua insistência que o único
que fez foi com que os policiais o mantivessem parado por algumas
dezenas de minutos.
Episódio que o futebolista iraniano viveu como uma grotesca forma de
discriminação. Tal como para induzi-lo a dar vazão aos microfones de uma
televisão no seu país, onde há uma teocracia xiita governada por um
aiatolá. E onde uma cena desse tipo nunca lhe aconteceria. Cenas que, no
entanto, aconteceram na Alemanha. No coração da Europa, onde uma vez
construíam catedrais destinadas a durar por toda a eternidade. E onde
hoje (como explicava o site Kreuz.net 2012) surgem bairros inteiros,
projectado para milhares de pessoas, sem que haja nem sequer uma Igreja.
(Trad.TS)
(17 de Junho de 2014) © Innovative Media Inc.
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