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sexta-feira, 27 de junho de 2014

"Os jovens devem ser informados sobre a beleza do matrimónio"

O Cardeal Lorenzo Baldisseri explica os desafios do próximo Sínodo Extraordinário sobre a família, a partir de uma pastoral adequada com os casais homossexuais e divorciados novamente casados


Roma, 26 de Junho de 2014 (Zenit.org) Luca Marcolivio


Para restituir aos cristãos a beleza da família, a Igreja deve, em primeiro lugar, voltar a ter credibilidade. Dialogando com os jornalistas, no final da conferência de imprensa de apresentação do Instrumentum Laboris para o próximo Sínodo Extraordinário dos Bispos sobre o tema Os desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização (05-19 Outubro), o cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário do Sínodo dos Bispos, esclareceu alguns aspectos a respeito de um evento tão esperado quanto amplamente debatido.

O cardeal deixou claro, em primeiro lugar, que os escândalos de pedofilia, em particular, que envolveram a Igreja na última década, apesar de terem sido particularmente enfatizados pela media, foram em grande parte "reconhecidos" e minaram a credibilidade da Igreja, fazendo-a "intervir de uma maneira muito decidida”.

Não é possível, no entanto, pensar que "bispos e padres sejam anjos", e que eles também não possam “pecar”. Ao contrário do que acontece em "outros ambientes", no entanto, na Igreja, o pecado é detectado e "podemos nos arrepender", admitindo que existem algumas "maçãs podres".

O Cardeal Baldisseri recordou que participarão do Sínodo Extraordinário 23 auditores leigos, dos quais 7 casais de cônjuges, um dos quais dará o seu próprio testemunho durante as sessões sinodais.

Um dos objectivos do Sínodo será o de fornecer uma pastoral mais orgânica e universal a respeito dos divorciados e das mães solteiras, harmonizando os programas das várias conferências episcopais.

ZENIT: Eminência, qual é o problema de fundo na pastoral dos divorciados recasados? O modelo das "segundas núpcias” praticado pelas igrejas ortodoxas é uma opção viável?
Cardeal Baldisseri: O Instrumentum laboris distingue em primeiro lugar entre categorias: os simples separados, os divorciados e os divorciados recasados. Os separados vivem a sua condição matrimonial de modo ainda válido e, portanto, a sua posição é legítima. É diferente, no entanto, o caso do divórcio, que envolve um ato civil não reconhecido pela Igreja. No caso dos recasados civilmente, se acrescenta a nova união. O documento publicado hoje, portanto, ajudará a pôr em prática uma pastoral. Poderia, de fato, acontecer que um sacerdote não muito instruído pensasse que a pessoa divorciada estivesse nas mesmas condições que uma recasada. O Sínodo servirá, então, para curar pastoralmente estes aspectos e os padres sinodais terão que reflectir sobre este fenômeno tão difundido no Ocidente.

Quanto ao "modelo ortodoxo", ele é sugerido como proposta no Instrumentum laboris e os padres sinodais discutirão também isso.

ZENIT: Até que ponto a Igreja, através do Sínodo, poderá incentivar com credibilidade os jovens para que redescubram a beleza do matrimónio?
Cardeal Baldisseri: Eu acredito que o Sínodo vai ajudar muito neste sentido, a partir do momento em que, na sociedade ocidental, especialmente através da media, destacamos apenas alguns aspectos, enquanto outros - igualmente importantes, ou talvez ainda mais importantes - são colocados na sombra. Poucos são os que falam dos jovens que querem se casar ou da beleza do matrimónio. É um tema que não “faz notícia” ou não é realçado. No Instrumentum laboris o conceito é bem explicado, tanto no que se refere às oportunidades que o casamento oferece, quanto em termos de aspectos críticos, mas sempre à procura de soluções.

ZENIT: Em que deve consistir o "cuidado pastoral" para os casais homossexuais,  desejado no documento?
Cardeal Baldisseri: O cuidado pastoral abrange todos, portanto, até os casais do mesmo sexo. Até hoje parecia ser um tabu ou um problema. O que fazer? Estamos falando de pessoas humanas... Se são cristãos, baptizados e vivem em uma família, porque deveriam ser discriminados? Devem ser aceites, também nas paróquias. Eu acho que se trata de uma atenuação de uma situação um pouco pesada que se criou por razões históricas. Também as pessoas que se encontram nesta situação devem ser acolhidas, acompanhadas, terem o seu lugar na Igreja e viver como as outras.

ZENIT: O Instrumentum laboris menciona também a catequese matrimonial (ou de sacramentos da iniciação cristã na presença dos filhos) como possibilidade de reaproximação à fé cristã e à Igreja. Como pode acontecer isso?
Cardeal Baldisseri: Se uma família vive o matrimónio de forma cristã, oferece também uma educação aos filhos. Infelizmente, encontramos também famílias divididas, nas quais os filhos são as principais vítimas: são situações em que a Igreja é chamada, deve lidar com essas situações e entender como fazê-las caminhar de forma cristã. É frequente que famílias desunidas se distanciem da Igreja ou que também nunca tenham tido contacto com a Igreja. Mas talvez um dia, por várias razões, possam aproximar-se da Igreja e descobrir que existem vários caminhos para poder viver bem e de forma cristã. É preciso encontrar, também aqui, um estilo novo, na perspectiva indicada pelo Papa Francisco, não por acaso definido por alguns, “pároco do mundo”. (Trad.TS)

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