Bento XVI e a ecologia do homem
Roma, 17 de Junho de 2014 (Zenit.org) John Flynn, LC
O Papa Bento XVI era bem conhecido por seu interesse em
questões ecológicas e uma nova antologia de suas declarações sobre este
tema fornece alguns insights interessantes.
The Garden of God: Toward a Human Ecology (O Jardim de Deus: Rumo a
uma ecologia humana) foi recentemente publicado pela editora académica
da Universidade Católica da América e é uma tradução de um livro
publicado originalmente em italiano em 2012 (Per una ecologia dell'uomo é o título da edição italiana).
O livro, de cerca de 200 páginas, contém uma série de textos das homilias, das cartas e das várias declarações de Bento XVI.
O título do livro, em alusão à ecologia do homem, é uma óptima
indicação de como o interesse do Papa Emérito não se baseou unicamente
em uma atitude bem-intencionada para o cuidado do ambiente: o interesse
de Bento XVI também diz respeito a uma consideração teológica muito mais
profunda sobre a criação e sobre o ser humano.
O arcebispo Jean-Louis Bruguès, na época secretário da Congregação
para a Educação Católica, e agora bibliotecário e arquivista do
Vaticano, explica na sua introdução, que, embora outros papas tenham
falado sobre a ecologia, Bento XVI o tornou um tema mais frequente em
seus discursos.
O arcebispo identifica cinco princípios fundamentais que estão
presentes em alguns dos escritos de Bento XVI sobre o meio ambiente:
- O homem vem antes de qualquer coisa e boas decisões ecológicas devem respeitar a dignidade e os direitos do ser humano. Esse argumento se opõe ao utilitarismo, pelo qual os fins justificam os meios.
- A ecologia é, antes de mais nada, uma questão ética e o homem não pode ser dominado pela tecnologia.
- A ecologia não deve basear-se numa relação de poder ou de dominação, mas em uma relação harmoniosa entre homens e o desenvolvimento. A natureza é um dom do Criador que é preciso cuidar e que devemos cultivar. A natureza também é algo que não é maior do que a humanidade.
- A raça humana é uma família e os nossos relacionamentos deveriam ser formados pela solidariedade.
- Tem de haver uma mudança de mentalidade para se afastar de uma atitude puramente consumista.
Os textos de Bento XVI cobrem uma vasta gama de questões, mas um tema
que é frequentemente mencionado é que os homens não são apenas
criaturas materiais, mas criaturas abertas ao infinito e a Deus. Isso
também deixa uma marca no mundo criado.
Na homilia de Pentecostes de 2006, Bento XVI explica que "o mundo não
existe por si só; ele é trazido à existência pelo espírito criador de
Deus, pela palavra criadora de Deus".
A criação foi dada ao homem, afirmou Bento XVI em um discurso de
2007, a fim de implementar o plano de Deus. Seria um erro colocar-nos no
centro do universo em uma busca egoísta do nosso bem-estar.
"Não é verdade que um uso irresponsável da criação começa
precisamente quando Deus é marginalizado ou mesmo negado?", perguntou o
Papa Bento XVI durante um discurso aberto ao público em 2009.
Perder de vista Deus, continuou o Papa precedente, significa que a
matéria se reduz a uma possessão egoísta e que o propósito da nossa
existência é reduzido a um esforço para obter o maior número de bens.
Manter uma consciência do papel de Deus, e estar cientes dos nossos
deveres, não só para aqueles que vivem hoje, mas também para as gerações
futuras, nos guiará rumo a uma gestão responsável da criação, em vez de
nos considerarmos os absolutos patrões dela.
Em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz 2010, Bento XVI falou ainda
do ambiente e reiterou mais uma vez que devemos considerar a criação
como dom de Deus para todos.
O Papa também pediu uma "profunda renovação cultural", a fim de
identificar aqueles valores que podem ajudar a construir um futuro
melhor.
Tanto nesta mensagem como em outras declarações sobre as questões
ecológicas, Bento XVI ligou explicitamente o respeito ao meio ambiente
com o respeito pela inviolabilidade da vida humana "em todas as fases e
em todas as condições". Bento XVI sublinhou também a importância da
família quando aprendemos a amar o próximo e a respeitar a natureza.
Em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2007, Bento XVI analisou
as ligações entre os diferentes aspectos da ecologia. Há uma ecologia
natural, que significa respeito pela natureza, e também uma ecologia do
homem, que leva a uma ecologia social.
Bento XVI adverte que a negligência do ambiente é repleta de
consequências negativas para a co-existência do homem. Bento XVI também
nos alerta para evitar uma visão redutora da natureza humana.
"Que a luz e a força de Jesus nos ajudem a respeitar a ecologia do
homem, conscientes de que a ecologia da natureza irá nos beneficiar
muito, uma vez que o livro da natureza é uno e invisível": Com essas
palavras, Bento XVI concluiu o seu apelo em 2010 aos membros do Corpo
Diplomático.
A ciência é um lugar de diálogo, disse o Papa em um discurso
posterior do mesmo ano, “um encontro entre o homem e a natureza e,
potencialmente, também entre o homem e o seu Criador”. O cuidado do
ambiente, portanto, não deve ser entendido apenas como uma série de
reparações técnicas, mas também como um compromisso baseado na visão da
espécie humana e do Criador. (Trad.TS)
(17 de Junho de 2014) © Innovative Media Inc.
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