Páginas

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O Jardim de Deus

Bento XVI e a ecologia do homem


Roma, 17 de Junho de 2014 (Zenit.org) John Flynn, LC


O Papa Bento XVI era bem conhecido por seu interesse em questões ecológicas e uma nova antologia de suas declarações sobre este tema fornece alguns insights interessantes.

The Garden of God: Toward a Human Ecology (O Jardim de Deus: Rumo a uma ecologia humana) foi recentemente publicado pela editora académica da Universidade Católica da América e é uma tradução de um livro publicado originalmente em italiano em 2012 (Per una ecologia dell'uomo é o título da edição italiana).

O livro, de cerca de 200 páginas, contém uma série de textos das homilias, das cartas e das várias declarações de Bento XVI.

O título do livro, em alusão à ecologia do homem, é uma óptima indicação de como o interesse do Papa Emérito não se baseou unicamente em uma atitude bem-intencionada para o cuidado do ambiente: o interesse de Bento XVI também diz respeito a uma consideração teológica muito mais profunda sobre a criação e sobre o ser humano.

O arcebispo Jean-Louis Bruguès, na época secretário da Congregação para a Educação Católica, e agora bibliotecário e arquivista do Vaticano, explica na sua introdução, que, embora outros papas tenham falado sobre a ecologia, Bento XVI o tornou um tema mais frequente em seus discursos.

O arcebispo identifica cinco princípios fundamentais que estão presentes em alguns dos escritos de Bento XVI sobre o meio ambiente:
  • O homem vem antes de qualquer coisa e boas decisões ecológicas devem respeitar a dignidade e os direitos do ser humano. Esse argumento se opõe ao utilitarismo, pelo qual os fins justificam os meios.
  • A ecologia é, antes de mais nada, uma questão ética e o homem não pode ser dominado pela tecnologia.
  • A ecologia não deve basear-se numa relação de poder ou de dominação, mas em uma relação harmoniosa entre homens e o desenvolvimento. A natureza é um dom do Criador que é preciso cuidar e que devemos cultivar. A natureza também é algo que não é maior do que a humanidade.
  • A raça humana é uma família e os nossos relacionamentos deveriam ser formados pela solidariedade.
  • Tem de haver uma mudança de mentalidade para se afastar de uma atitude puramente consumista.
Os textos de Bento XVI cobrem uma vasta gama de questões, mas um tema que é frequentemente mencionado é que os homens não são apenas criaturas materiais, mas criaturas abertas ao infinito e a Deus. Isso também deixa uma marca no mundo criado.

Na homilia de Pentecostes de 2006, Bento XVI explica que "o mundo não existe por si só; ele é trazido à existência pelo espírito criador de Deus, pela palavra criadora de Deus".

A criação foi dada ao homem, afirmou Bento XVI em um discurso de 2007, a fim de implementar o plano de Deus. Seria um erro colocar-nos no centro do universo em uma busca egoísta do nosso bem-estar.

"Não é verdade que um uso irresponsável da criação começa precisamente quando Deus é marginalizado ou mesmo negado?", perguntou o Papa Bento XVI durante um discurso aberto ao público em 2009.

Perder de vista Deus, continuou o Papa precedente, significa que a matéria se reduz a uma possessão egoísta e que o propósito da nossa existência é reduzido a um esforço para obter o maior número de bens.

Manter uma consciência do papel de Deus, e estar cientes dos nossos deveres, não só para aqueles que vivem hoje, mas também para as gerações futuras, nos guiará rumo a uma gestão responsável da criação, em vez de nos considerarmos os absolutos patrões dela.

Em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz 2010, Bento XVI falou ainda do ambiente e reiterou mais uma vez que devemos considerar a criação como dom de Deus para todos.

O Papa também pediu uma "profunda renovação cultural", a fim de identificar aqueles valores que podem ajudar a construir um futuro melhor.

Tanto nesta mensagem como em outras declarações sobre as questões ecológicas, Bento XVI ligou explicitamente o respeito ao meio ambiente com o respeito pela inviolabilidade da vida humana "em todas as fases e em todas as condições". Bento XVI sublinhou também a importância da família quando aprendemos a amar o próximo e a respeitar a natureza.

Em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2007, Bento XVI analisou as ligações entre os diferentes aspectos da ecologia. Há uma ecologia natural, que significa respeito pela natureza, e também uma ecologia do homem, que leva a uma ecologia social.

Bento XVI adverte que a negligência do ambiente é repleta de consequências negativas para a co-existência do homem. Bento XVI também nos alerta para evitar uma visão redutora da natureza humana.

"Que a luz e a força de Jesus nos ajudem a respeitar a ecologia do homem, conscientes de que a ecologia da natureza irá nos beneficiar muito, uma vez que o livro da natureza é uno e invisível": Com essas palavras, Bento XVI concluiu o seu apelo em 2010 aos membros do Corpo Diplomático.

A ciência é um lugar de diálogo, disse o Papa em um discurso posterior do mesmo ano, “um encontro entre o homem e a natureza e, potencialmente, também entre o homem e o seu Criador”. O cuidado do ambiente, portanto, não deve ser entendido apenas como uma série de reparações técnicas, mas também como um compromisso baseado na visão da espécie humana e do Criador. (Trad.TS)

Sem comentários:

Enviar um comentário