Uma Jornada de estudo oferece uma visão mais completa deste Papa ainda pouco conhecido
Roma, 18 de Junho de 2014 (Zenit.org) Deborah Castellano Lubov
O Papa Pio X (1835-1914) foi um verdadeiro reformador da
Igreja, mas seus esforços têm sido muitas vezes mal interpretados: esta é
a opinião do padre Bernard Ardura, presidente do Pontifício Comité de
Ciências Históricas.
Quinta-feira passada houve um dia de estudo organizado pelo Comité e
intitulado “São Pio X: um Papa reformado ante os desafios do novo
século. ZENIT esteve no evento e conversou com o Padre Ardura.
***
ZENIT: Poderia explicar-nos o seu papel no Comité e como surgiu a ideia de um estudo dedicado a Pio X?
Padre Bernard: Eu sou o presidente do Pontifício Comité de Ciências
Históricas. Tomamos o cuidado de tratar todos os aspectos históricos que
têm a ver com a história da Igreja. Este ano é o centenário da morte do
Papa Pio X; ele morreu durante a noite de 21 de Agosto de 1914, três
semanas após o início da Primeira Guerra Mundial e depois de onze anos
de papado. Como pontífice, foi um reformador importantíssimo, mas,
dentre suas actividades reformadoras, também teve de intervir em assuntos
relacionados à doutrina religiosa, porque naquela época a Igreja
enfrentava um movimento difícil chamado modernismo. Sua condenação do
modernismo ofuscou as partes positivas de seu papado: é lembrado como um
Papa de condenação, mas a verdade é que foi um grande reformador, um
grande inovador. Embora tendo condenado o modernismo, Pio X foi muito
moderno, como evidenciado pelas suas reformas.
ZENIT: Poderia citar-nos algum exemplo de reforma de São Pio X?
Padre Bernard: Ele reformou a Cúria Romana, a mesma Cúria criada em
1538 e que ainda hoje existe. Pio X foi mais consciente do que os seus
antecessores de que o pontificado tinha que seguir em frente e não podia
andar para trás. Então, ele teve em seu ministério esta ideia chave de
que a missão da Igreja é espiritual e que deve inspirar a vida do mundo,
também renovando o mundo. Portanto, todas as actividades de Pio X foram
reformadoras, dado que ele se esforçou para promover uma vida cristã
baseada na paz.
Uma outra contribuição importante foi aquela relacionada com os
sacramentos, especialmente a Comunhão. Avançou na ideia de que os
menores, já com sete anos, podiam receber a sua primeira Sagrada
Comunhão, embora se, naquele momento das suas vidas, não estivessem
plenamente conscientes da doutrina da Igreja. Foi adiante também na
ideia de que os adultos deveriam comungar com mais frequência.
Anteriormente, a opinião geral era de que um cristão deveria se
confessar antes de receber a comunhão, mas Pio X, sempre sugerindo a
confissão regularmente, apresentou a ideia de comungar com mais
frequência, até mesmo diariamente.
Até as suas reformas litúrgicas, como as relativas à música sacra,
foram importantes. E pela primeira vez, pediu que fosse promulgado um
claro código de Direito Canónico. Assim se fez e este código teve um
efeito duradouro após a sua morte.
Portanto, hoje nós temos a oportunidade de estudar estas reformas e
estes progressos, que foram importantes não só para renovar a Igreja,
mas também pela capacidade da Igreja de inspirar a vida cristã.
ZENIT: O senhor observa semelhanças entre Pio X e o Papa Francisco?
Padre Bernard: Definitivamente, existem semelhanças. Mas não podemos
esquecer que há todo um século entre os dois. Portanto, os contextos são
muito diferentes. No entanto, é verdade que tanto o Papa Pio X como o
Papa Francisco prestam uma especial atenção à qualidade de vida dos
cristãos - tanto leigos, quanto sacerdotes e bispos - porque essa
qualidade de vida é necessária, a fim de dar testemunho do Evangelho.
Por esta razão, estes dois papas compartilham a ideia de que, se algo
pode ser reformado, então deve ser reformado.
ZENIT: Por que você acha que Pio X tenha sido mal interpretado?
Padre Bernard: Ele foi mal interpretado, assim como quase todos os
seus trabalhos e as suas reformas não receberam o devido crédito por
causa da questão do modernismo. Assim, com a sua condenação do
modernismo, ele foi considerado por muitos como o Papa que não entendia
nada, mas isso não era verdade.
ZENIT: Para aqueles que não estão familiarizados com este conceito, poderia explicar-nos o que é o modernismo?
Padre Bernard: É um erro filosófico que relativiza um pouco de tudo
e, do ponto de vista doutrinal, torna-se uma questão delicada. Por
exemplo, ideias diferentes foram expressas por meio do contexto cultural
daquele tempo. Mas hoje, não podemos relativizar a doutrina com essas
ideias diferentes.
A Igreja em que acreditamos é inspirada pelo Espírito Santo, em um
contexto que não nos é dado por uma causa acidental, mas, em um contexto
que contém a essência dos ensinamentos que nos dá o Espírito Santo.
Portanto, não temos que relativizar estas realidades que são
fundamentais, caso contrário, corremos o risco de pôr em dúvida tudo
aquilo em que acreditamos.
ZENIT: Que tipo de reforma, que Pio X tenha apoiado, você
acha que tenha sido a mais importante e a mais necessária para a Igreja
de hoje?
Padre Bernard: A reforma da conversão do coração, uma reforma
interior. Devemos lembrar o que Jesus disse: se o sal perde o seu sabor,
então torna-se inútil. Como uma luz, somos testemunhas do Evangelho e,
portanto, como evidenciado pelos esforços e mensagens de Pio X, temos
constantemente a necessidade de reforma. (Trad.TS)
(18 de Junho de 2014) © Innovative Media Inc.
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