Entrevista com Alessandro Gisotti, vice chefe de redacção da Rádio Vaticano, há 14 anos "a serviço de três Papas" e autor, com seus colegas, dos serviços das homilias de Santa Marta
Roma, 23 de Junho de 2014 (Zenit.org) Nicola Rosetti
Alessandro Gisotti trabalha há 14 anos na Rádio Vaticano,
desempenhando o papel de vice chefe de redacção. Mais do que um trabalho,
considera o seu uma graça: a graça de ter estado “a serviço” de três
Papas. Juntamente com os seus colegas, a cada dia dá a conhecer aos
fieis as palavras que Francisco pronuncia durante as homilias em Santa
Marta. Acompanhe abaixo a entrevista:
***
ZENIT: Qual a experiência de participar em uma missa em Santa Marta?
Gisotti: Pude participar em uma missa de Francisco em Santa Marta com
os colegas da Rádio Vaticana e, entre estes, havia também aqueles que,
diariamente, elaboram um serviço sobre a homilia de Francisco. Papa
Francisco, como ele diz, é um pastor no meio da multidão e fiquei
impressionado porque a capela da casa Santa Marta casa, que eu já
conhecia, é muito pequena e, portanto, gera, entre o Papa e os fieis, um
clima muito familiar. Fiquei impressionado com o fato de que, no final
da Missa, Francisco se senta entre os fieis para ter um momento de
oração e de meditação junto com eles. Ninguém jamais poderia entender
Bergoglio, sem esta sua dimensão de estar com o seu rebanho.
ZENIT: Como é concretamente o vosso trabalho diário, que permite aos vossos ouvintes de conhecerem as homilias do Papa?
Gisotti: Fico muito feliz por responder a esta pergunta porque o
ouvinte ou o leitor do site vê o nome de Alessandro Gisotti, Alessandro
De Carlolis e Sergio Centofanti, e já estão acostumados a estes redactores da Radio Vaticano que fazem este trabalho, mas detrás destes
nomes há um grandíssimo trabalho em equipe. Na verdade, os meus colegas e
eu não estamos fisicamente presentes na missa da manhã em Santa Marta.
Um técnico grava materialmente a homilia que o Papa pronuncia. Depois,
ela é transcrita pela secretaria de redacção. Finalmente, aquela
transcrição é utilizada pelo serviço que a cada dia aqueles que gostam
de ler ou ouvir a Rádio Vaticano lêem e escutam.
ZENIT: Entre as muitas homilias do Papa Francisco, qual delas mais te impressionou e permaneceu gravada na sua mente e coração?
Gisotti: Digamos que é muito difícil responder a esta pergunta,
porque é como dizer qual é a sua passagem preferida do Evangelho: sim,
pode haver uma, mas também é verdade que se vê o Evangelho na sua
totalidade. Se realmente tivesse que escolher, diria que me tocou aquela
em que o Papa fala dos traficantes de arma que celebram nos salões de
festas, enquanto as crianças são escravizadas pela guerra ou forçadas a
vagar nos campos de refugiados. Francisco deu uma fortíssima imagem do
que é a guerra: mesmo sem vê-la, a víamos.
ZENIT: No pós-concílio alguns sectores da Igreja, mais ligados
à tradição e ao conservadorismo, se queixaram da, cada vez mais
escassa, menção do diabo nas catequeses e homilias. Papa Francisco fala
muitas vezes do maligno, mais do que os seus antecessores, mas,
curiosamente, estes mesmos sectores o criticam hoje. Pode fazer uma
reflexão sobre isso?
Gisotti: Definitivamente, Francisco é um homem que, mesmo antes de
ter sido o sucessor de Pedro, se vamos ver como foi o seu ministério
como bispo em Buenos Aires, sempre falou muito claramente. Lembro-me das
palavras de Karol Wojtyla que dizia que Cristo é misericordioso e
exigente ao mesmo tempo, porque chama o bem e o mau pelo nome. Isso é o
que faz Francisco: talvez isso, às vezes, é desestabilizador, porque,
realmente, não tem mediações. Para ele, o diabo é uma presença, muito
real, muito presente nas guerras, nas crises, nos conflitos, nas
conversas. Francisco é um pastor e como tal adverte o rebanho dos vários
perigos que vêem do maligno. Na minha opinião, Francisco escapa das
categorias de "conservador" e "progressista": é um Papa muito original,
começando pelo nome que escolheu. Isso exige de nós crentes, de nós
católicos, uma maior atenção ao que faz e ao que diz antes de
classifica-lo em categorias que, depois, são lançadas ao vento todos os
dias. (Trad.TS)
(23 de Junho de 2014) © Innovative Media Inc.
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