Os abortos diminuem muito e milhares de igrejas reconstruídas: o embaixador Aleksej Komov fala sobre o seu país 25 anos depois da queda do comunismo
Roma, 13 de Junho de 2014 (Zenit.org) Luca Marcolivio
Talvez a Rússia do século XXI não será um paraíso na terra,
mas é, sem dúvida, um exemplo de como o processo de secularização não
seja irreversível.
O dramático contexto da crise, ucraino-crimeiana, com a consequente
propaganda anti-russa de muitos meios de comunicação ocidentais, lança
uma luz ainda mais significativa sobre esta inversão de tendência em um
país que, além de difundir o comunismo no mundo, foi também o primeiro a
legalizar o aborto, experimentando ao longo de décadas, uma das mais
assustadoras crises demográficas da história.
Com a administração de Putin, a Rússia começou a superar a China,
tanto em termos económicos, como em políticas familiares. Embora
mantendo elevado o número dos divórcios (um de dois matrimónios
fracassam), caiu vertiginosamente o número dos abortos: dos 4 milhões de
20 anos atrás aos 800 mil de hoje.
A Rússia é também um símbolo do renascimento cristão: as pessoas não
só voltam a acreditar em Deus e irem à Igreja, mas o governo está
financiando a reconstrução de muitos edifícios sagrados, demolidos
durante a ditadura soviética.
Esta realidade, não muito bem conhecida na Europa Ocidental, foi
ilustrada nas últimas semanas por Aleksej Komov, conhecido expoente
pró-vida russo, que acompanhado pelo Diretor de Notícias Pro Life,
Antonio Brandi, realizou uma tournée de palestras pela Itália, que
terminou ontem com uma conferência a Peregrinos no ciberespaço, a
reunião dos jornais católicos, que está acontecendo em Grottammare (AP).
Aleksej Komov, 42 anos e 5 filhos, trabalha para a Fundação "São
Basílio, o Grande", uma das mais importantes da Rússia. Além do mais,
representa a Comissão para a Família da Igreja Ortodoxa e é um
embaixador do Congresso Mundial para as Famílias na ONU; esta última é a
maior plataforma para as associações mundiais da família, presente em
80 países ao redor do mundo.
"Nos dias 10, 11 e 12 de Setembro desse ano, vamos realizar o Fórum
do Congresso Mundial da Família em Moscovo, primeiro no Kremlin, depois
na Catedral de Cristo Salvador: convido os leitores de ZENIT a
participar!", disse Komov abrindo a sua entrevista concedida a ZENIT.
ZENIT: Embaixador Komov, realmente parece que a Rússia esteja
a caminho de se tornar o país líder na luta pela defesa da vida e da
família ...
Komov: É verdade, a Rússia é provavelmente o único grande país que
nos últimos dez anos, tem defendido os valores da família e os valores
tradicionais no cenário internacional. Em nosso país passaram
recentemente várias leis muito boas: por exemplo, desde o ano passado a
propaganda do aborto é proibida, da mesma forma em que foram proibidas
as propagandas de comportamentos homossexuais entre as crianças e entre
os menores de 18 anos. Esta última normativa tem suscitado muitas
críticas, especialmente entre os poderosos lobbies LGBT internacionais. É
uma lei sobre a qual pesa muito a desinformação e as mentiras se
pensamos que, na Rússia existem muitos lugares gays, a propaganda entre
os maiores de idade é lícita e ninguém persegue os homossexuais.
Trata-se só de proteger as crianças e este é um princípio fundamental.
No que diz respeito às políticas familiares, na Rússia, a cada segundo
filho, o governo concede 10.000 € para a família, enquanto que para o
nascimento do terceiro filho, os pais têm direito à terra.
ZENIT: Você acaba de voltar de uma série de conferências
ministradas na Itália. Acha que no nosso país exista uma boa
sensibilidade para as questões da vida?
Komov: Graças a contribuição de Toni Brandi e Pro Vita Onlus, foi
possível organizar um tour por dez cidades italianas que acabou de
terminar. Nestes dias encontrei-me com vários representantes do
movimento pró-vida na Itália, que me parece uma realidade muito sólida:
as pessoas querem defender os próprios valores e o cristianismo. Porém,
como em outros países do mundo, nos últimos anos há um ataque a esses
valores. Uma minoria de 2-3% de activistas LGBT emprega meios de
comunicação altamente influentes, pretendendo impor um estilo de vida
não saudável a uma população que é 90% contra.
Na Rússia, pelo contrário, há esta aproximação aos valores
tradicionais. Somos um país que por 70 anos tem sofrido com a ditadura
comunista: sabemos, portanto, o que significa viver em um país sem Deus.
Queremos, assim, compartilhar a nossa experiência de defesa destes
valores, com os nossos irmãos e irmãs na Itália e em outros países.
ZENIT: Como está se manifestando o renascimento espiritual e cristão na Rússia?
Komov: A Rússia é cristã por mais de um milénio e o cristianismo
penetrou muito profundamente no coração e na alma do país: um património
que não se dissolveu nos 70 anos de comunismo e de perseguição
anti-cristã, durante os quais tivemos milhares de mártires que agora
estão orando por nós e que nos estão ajudando a reerguer a Rússia. Nos
últimos vinte anos reconstruimos mais de 30 mil igrejas e cerca de 800
mosteiros: um fato verdadeiramente surpreendente.
ZENIT: O Papa Francisco está tentando fortalecer o máximo
possível o diálogo com as igrejas ortodoxas, iniciado pelos seus
antecessores imediatos. Qual é a sua visão desta aproximação ecuménica?
Uma reconciliação é possível?
Komov: Os católicos e os ortodoxos devem, sem dúvida, estar mais
juntos entre si, cooperando para a defesa da vida desde a concepção até a
morte natural, na defesa da comum civilização cristã que hoje está sob
ataque. A Europa tem de respirar com "dois pulmões", sendo o catolicismo
e a ortodoxia os dois pulmões da Europa. Espero, portanto, que haja
sempre mais diálogo e cooperação, embora será Deus a determinar quando
as duas igrejas estarão unidas novamente: esperemos que aconteça rápido,
certamente não dependerá de nós seres humanos, já que se sedimentaram
muitas diferenças em mil anos. De qualquer forma, será a vontade de Deus
que encontrará um modo para realizar esta reconciliação. (Trad.TS)
(13 de Junho de 2014) © Innovative Media Inc.
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