Páginas

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Um cristão sem memória não é um verdadeiro cristão

Homilia do Papa Francisco na festa de Pentecostes


Cidade do Vaticano, 09 de Junho de 2014 (Zenit.org)


Apresentamos as palavras do Papa Francisco em sua homilia na festa de Pentecostes, celebrada pela Igreja católica neste domingo, 8 de Junho. 

“Ficaram todos cheios do Espírito Santo” (At 2, 4).

Falando aos Apóstolos na Última Ceia, Jesus disse que, depois da sua partida deste mundo, enviaria a eles o dom do Pai, isso é, o Espírito Santo (cfr Jo 15, 26). Esta promessa se realiza com poder no dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo desce sobre os discípulos reunidos no Cenáculo. Aquela efusão, embora extraordinária, não permaneceu única e limitada àquele momento, mas é um evento que se renovou e se renova ainda. Cristo glorificado à direita do Pai continua a realizar a sua promessa, enviando sobre a Igreja o Espírito vivificante, que nos ensina e nos recorda e nos faz falar.

O Espírito Santo nos ensina: é o Mestre interior, nos guia pelo caminho certo, através das situações da vida. Ele nos ensina a estrada, o caminho. Nos primeiros tempos da Igreja, o cristianismo era chamado “o caminho” (cfr At 9, 2) e o próprio Jesus é o Caminho. O Espírito Santo nos ensina a segui-lo, a caminhar seguindo seus passos. Mais que um mestre de doutrina, o Espírito Santo é um mestre de vida. E da vida faz parte certamente também o saber, o conhecer, mas dentro do horizonte mais amplo e harmónico da existência cristã.
O Espírito Santo nos recorda, nos recorda tudo aquilo que Jesus disse. É a memória viva da Igreja. E enquanto nos faz recordar, nos faz entender as palavras do Senhor.

Este recordar no Espírito e graças ao Espírito não se reduz a um fato mnemónico, é um aspecto essencial da presença de Cristo em nós e na sua Igreja. O Espírito de verdade e de caridade nos recorda tudo aquilo que Jesus disse, nos faz entrar sempre mais plenamente no sentido das suas palavras. Todos nós temos esta experiência: um momento, em qualquer situação, há uma ideia e depois uma outra se conecta com um trecho da Escritura… É o Espírito Santo que nos faz fazer este caminho: o caminho da memória viva da Igreja. E isto pede de nós uma resposta: mais a nossa resposta é generosa, mais as palavras de Jesus se tornam em nós vida, se tornam atitudes, escolhas, gestos, testemunho. Em essência, o Espírito nos recorda o mandamento do amor e nos chama a vivê-lo.

Um cristão sem memória não é um verdadeiro cristão: é um cristão pelo meio do caminho, é um homem ou uma mulher prisioneiro do momento, que não sabe fazer tesouro da sua história, não sabe lê-la e vivê-la como história de salvação. Em vez disso, com a ajuda do Espírito Santo, podemos interpretar as inspirações interiores e os acontecimentos da vida à luz das palavras de Jesus. E assim cresce em nós a sabedoria da memória, a sabedoria do coração, que é um dom do Espírito. Que o Espírito Santo reavive em todos nós a memória cristã! E naquele dia, com os Apóstolos, havia uma Mulher da memória, aquela que desde o início meditava sobre todas aquelas coisas no seu coração. Havia Maria, nossa Mãe. Que Ela nos ajude neste caminho da memória.

O Espírito Santo nos ensina, nos recorda e – um outro traço – nos faz falar, com Deus e com os homens. Não há cristãos mudos, mudos de alma; não, não há lugar para isto.

Faz-nos falar com Deus na oração. A oração é um dom que recebemos gratuitamente; é diálogo com Ele no Espírito Santo, que reza em nós e nos permite nos dirigirmos a Deus chamando-O de Pai, Pai, Abbà (cfr Rm 8, 15; Gal 4, 4); e isto não é só um “modo de dizer”, mas é a realidade, nós somos realmente filhos de Deus. “Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8, 14).

Faz-nos falar no ato de fé. Ninguém de nós pode dizer: “Jesus é o Senhor” – ouvimos isso hoje – sem o Espírito Santo. E o Espírito nos faz falar com os homens no diálogo fraterno. Ajuda-nos a falar com os outros reconhecendo neles os irmãos e as irmãs; a falar com amizade, com ternura, com brandura, compreendendo as angústias e as esperanças, as tristezas e as alegrias dos outros.

Mas tem mais: o Espírito Santo nos faz falar também aos homens na profecia, isso é, fazendo-se “canais” humildes e dóceis da Palavra de Deus. A profecia é feita com franqueza, para mostrar abertamente as contradições e as injustiças, mas sempre com brandura e intenção construtiva. Penetrados pelo Espírito de amor, podemos ser sinais e instrumentos de Deus que ama, que serve que dá a vida.

Recapitulando: o Espírito Santo nos ensina o caminho; nos recorda e nos explica as palavras de Jesus; nos faz rezar e dizer ‘Pai’ a Deus, nos faz falar aos homens no diálogo fraterno e nos faz falar na profecia.

O dia de Pentecostes, quando os discípulos “ficaram todos cheios do Espírito Santo”, foi o baptismo da Igreja, que nasce “em saída”, “em partida” para anunciar a todos a Boa Notícia. A Mãe Igreja, que parte para servir. Recordemos a outra Mãe, a nossa Mãe que partiu com prontidão, para servir. A Mãe Igreja e a Mãe Maria: todas as duas virgens, todas as duas mães, todas as duas mulheres. Jesus foi peremptório com os apóstolos: não deveriam se afastar de Jerusalém antes que tivessem recebido do alto a força do Espírito Santo (cfr At 1, 4.8). Sem Ele não há missão, não há evangelização. Por isso com toda a Igreja, a nossa Mãe Igreja católica invoquemos: Vem, Santo Espírito!

(Trad.:Canção Nova)

Sem comentários:

Enviar um comentário