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quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Cada caso de abusos na Igreja “é uma derrota” e “contradiz radicalmente a nossa missão”

Bispo Ornelas em Fátima

 | 12 Out 2022

padre carlos cabecinhas e d jose ornelas em conferencia de imprensa, fatima, 12 outubro 2022

O bispo de Leiria-Fátima assumiu que a Igreja “não é perfeita” e “nunca será”, mas “não se pode resignar”. Foto © Clara Raimundo/7Margens.

Garantindo estar “tranquilo” e não ter sido responsável por “nenhuma manobra de encobrimento” de abusos sexuais na Igreja, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, assumiu esta quarta-feira, 12, que “cada caso [de abuso de crianças] que acontece é uma derrota” e “qualquer número é sempre demasiado”. O também bispo de Leiria-Fátima falou aos jornalistas durante a conferência de imprensa que antecede habitualmente a peregrinação internacional aniversária de 12 e 13 de outubro, e à qual presidiu pela primeira vez enquanto bispo titular da diocese.

“O importante não são os números”, mas “as pessoas por trás de cada número… pessoas com dramas muito grandes”, sublinhou. Considera, ainda assim, que este é já “um grande número, sobretudo porque denota também e faz ver que há outros por trás”. Mas para o presidente da CEP, agora o mais importante é conhecer “o sofrimento que cada um destes casos comporta”.

E é precisamente “porque alguém sofre” que cada caso é já “uma derrota”, diz José Ornelas. “É uma derrota porque alguém foi espezinhado nos seus direitos fundamentais. [É uma derrota] também porque contradiz radicalmente tudo aquilo que nós queremos, somos e queremos ser como Igreja, a nossa identidade e a nossa missão”, reconheceu.

O bispo de Leiria-Fátima assumiu que a Igreja “não é perfeita” e “nunca será”, mas “não se pode resignar”. E está a fazer “um esforço grande” para que este seja “um ponto de viragem” na sua História.

Relativamente a esse caminho, destacou o papel da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja em Portugal, que esta terça-feira fez o ponto de situação do trabalho realizado até agora, e à qual deixou “um agradecimento muito grande e um reconhecimento”. José Ornelas aproveitou ainda para fazer um apelo a todos quantos tenham ainda “algo a dizer” que o façam até ao final do mês de outubro, data em que a comissão terminará a recolha de testemunhos a ser considerados para o estudo que está a ser desenvolvido.

Quanto ao apoio a dar às vítimas, o presidente da CEP afirmou que será “aquele que for pedido em cada caso”. Antes de mais, “a grande justiça é dar dignidade às pessoas, é acolher”, disse, acrescentando que em algumas dioceses já há “pessoas tecnicamente preparadas a nível da psicologia, psiquiatria, etc.” para prestar apoio àqueles que queiram usufruir desses serviços.

Questionado sobre se os casos de abusos sexuais poderão afetar a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que terá lugar em Lisboa em agosto de 2023, o bispo de Leiria-Fátima afirmou que “se há uma mensagem a deixar à juventude é precisamente essa: não vivemos numa igreja perfeita” e “o que está a ser feito é justo, porque há gente que sofreu”. “Esse é talvez o melhor presente para a JMJ”, considera. “Estamos a fazer o que é preciso e contamos com os jovens para que esta atitude não volte para trás e as pessoas sejam respeitadas.”

Já na homilia da vigília da noite, depois da procissão das velas, o bispo de Leiria-Fátima disse que a missão da Igreja é “estar na linha da frente do estar atentos, do proteger, do estar próximos de todas as fragilidades” e que essa atitude deve “caracterizar particularmente” o santuário de Fátima.  “Particularmente as crianças e os mais jovens têm de ser motivo de um olhar atento”, afirmou, para acrescentar, referindo-se ao tema dos abusos: “É nesse sentido que todos nos esforçamos por mudar atitudes e procedimentos, na Igreja e na sociedade, a fim de que as crianças e aqueles que se encontram em situação de fragilidade não sejam esquecidos ou, pior ainda, não sejam abusados e explorados, mas possam encontrar corações e atitudes maternas e fortes como as de Maria, que protejam, amparem e lutem, para que este mundo possa oferecer condições de justiça e de dignidade para todos.”


JMJ: “festa dos jovens e menos jovens em Fátima”

Papa Francisco reza na Capelinha das Aparições por ocasião do centenário das Aparições de Fátima. Foto © Arlindo Homem

Durante a JMJ, o Papa Francisco voltará à Cova da Iria, embora ainda não se saiba em que dia. Foto © Arlindo Homem


A propósito da Jornada Mundial da Juventude, o reitor do Santuário de Fátima, padre Carlos Cabecinhas, também presente na conferência de imprensa, destacou que o Papa marcará presença na Cova da Iria. “Embora ainda não saibamos a data em concreto, sabemos que virá no contexto da JMJ e por isso juntar-nos-emos desta forma à festa dos jovens em Lisboa”, que será “também a festa dos jovens e menos jovens em Fátima”, afirmou aos jornalistas.

O reitor anunciou ainda que estão a ser preparadas diversas iniciativas associadas à Jornada, nomeadamente a criação de uma “aldeia jovem” que funcionará sobretudo no período que antecede a jornada, a partir de 27 de julho, e também no período pós-jornada para os grupos que pretendam visitar a Cova da Iria após a JMJ.

Para “sublinhar o sentido de peregrinação”, serão propostos “seis caminhos que os jovens podem usar para chegar até Fátima, para fazer a experiência da peregrinação a pé, mesmo aqueles que vêm do estrangeiro”, os quais irão variar entre 5 e 12 quilómetros de distância. O Santuário está também a preparar oficinas “e diversas propostas de reflexão e oração” para os participantes.

“Um momento particularmente importante terá lugar já no mês de maio, bem antes da Jornada, com a presença dos símbolos da JMJ, que estando na diocese de Leiria-Fátima, serão integrados também nas celebrações aqui na Cova da Iria”, revelou o padre Carlos Cabecinhas.

O reitor do Santuário partilhou ainda que “a afluência a Fatima começa a regressar àquilo que eram os registos habituais pré-pandemia”, tendo já sido registados este ano mais 1097 grupos de peregrinos do que em 2021.

“Isto dá-nos alento para encarar o próximo ano com esperança renovada, apesar da guerra na Ucrânia e da situação económica difícil em que os nossos países se veem mergulhados”, afirmou, acrescentando que, depois de há dois anos se ter procedido a um plano de reestruturação para diminuir os gastos do Santuário, “nomeadamente reduzindo o grupo dos colaboradores”, neste momento haver necessidade de aumentar novamente a equipa.

“Estamos já no movimento inverso de recuperação do número de colaboradores”, mas “fazemo-lo com a maior responsabilidade, para garantirmos que o governo do santuário é sustentável deste ponto de vista”, assegurou.



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