1. Construir pontes
No dia 6 de Junho reuniram-se muitos chefes de estado a nível mundial na Normandia, França, para comemorar o 70º aniversário do famoso dia D, em que as tropas dos aliados contra as tropas do nacional socialismo de Hitler desembarcaram nessa parte da Europa, começando aí o início do fim da segunda guerra mundial, mas à custa de milhares de mortos, de ambas as partes. Foi um dia histórico para a construção duma Europa democrática e livre, mas à custa de muitas vidas. Nunca agradeceremos suficientemente essas vidas que possibilitaram a paz para nós.
No dia 6 de Junho reuniram-se muitos chefes de estado a nível mundial na Normandia, França, para comemorar o 70º aniversário do famoso dia D, em que as tropas dos aliados contra as tropas do nacional socialismo de Hitler desembarcaram nessa parte da Europa, começando aí o início do fim da segunda guerra mundial, mas à custa de milhares de mortos, de ambas as partes. Foi um dia histórico para a construção duma Europa democrática e livre, mas à custa de muitas vidas. Nunca agradeceremos suficientemente essas vidas que possibilitaram a paz para nós.
Mas a história não se faz apenas de memória do passado. É preciso lançar fundamentos e construir pontes em ordem a um futuro de paz, de progresso e de harmonia entre todos os países e pessoas. Sob os escombros da segunda guerra mundial, três grandes homens começaram a lançar essas bases sólidas: Adenauer, da Alemanha, De Gaspari, da Itália e Schuman, luxemburguês radicado na França. Foi este último que lançou a ideia da união europeia a partir do controle da produção do carvão e do aço, para evitar a construção de armas de guerra. Rapidamente aderiram vários países do centro da Europa e hoje são já 28. A ideia fundamental foi a construção de uma Europa de paz, para que nunca mais fosse pela guerra fratricida a solução dos problemas entre os países.
Depois de mais de 60 anos após a assinatura do primeiro tratado em Paris, em Abril de 1952, muitos avanços e recuos se têm feito, muitos tratados celebrados e assinados! Permanecem muitas interrogações para se conseguir a coesão social entre todos os 28 países que agora formam a União Europeia. As últimas eleições para o Parlamento Europeu, a 25 de Maio, vieram demonstrar a debilidade da construção da Europa por parte dos políticos e dos povos. Os candidatos olharam mais para si mesmos e os seus partidos, que para o bem comum da paz, do progresso, da proteção dos mais fracos, da coesão e integração de todos num projeto com futuro de esperança para todos. Os cidadãos eleitores mostraram desinteresse ao abster-se de votar. Como podemos assim construir a União Europeia? Sem o envolvimento de todos e sem raizes mais sólidas e profundas que os sistemas económicos e financeiros, não será possível. Também as Igrejas e sobretudo os cristãos precisam de se empenhar mais por uma Europa mais segura, melhor, acolhedora e integradora de todos, na base do respeito pela dignidade humana.
2. Contributo da Igreja pela paz
A construção de uma sociedade coesa, feliz, em paz e harmonia entre si e os países vizinhos e também entre os povos dos vários continentes depende de muitos factores e iniciativas. Mencionarei apenas alguns, ao alcance de todos e mais de acordo com as possibilidades e a missão da Igreja.
Começo por uma iniciativa em que acabo de participar, representando a Conferência Episcopal de Portugal. Foi o Katholikentag, um encontro bienal dos católicos alemães, em que, durante vários dias, à volta da festa da Ascensão, se canta, se fazem exposições de arte, se discute sobre diversos temas, se dialoga, reza e celebra. São mais de mil encontros. Foi o 99º Katholikentag, desta vez em Ratisbona, cidade património mundial, onde lecionou Josef Ratzinger, agora Papa emérito e onde a diocese de Beja participou numa exposição de arte mariana, em 1999.
O tema foi “Com Cristo construir pontes”. Por aqui passa o rio Danúbio e aqui era a fronteira do império romano. Na outra margem do rio estavam os povos eslavos, então denominados de bárbaros. Só na idade média se contruiu a primeira ponte, a famosa ponte de pedra. Hoje é preciso construir muitas pontes, que levem os povos e a humanidade a encontrar-se, para que conviva em paz e construa um futuro melhor.
Cristo foi e é a ponte entre o céu e a terra e também entre os povos. Os cristãos são chamados a edificar pontes entre os povos, as culturas, as pessoas, a natureza, de modo que tudo seja unificado em Cristo, no respeito pela diversidade e beleza de cada ser. Foi belo falar com pessoas de muitos países e celebrar juntos a fé, particularmente ocidentais e orientais, até há pouco separados pela cortina de ferro, que passava por ali perto.
O Espírito Santo, que Jesus prometeu aos apóstolos enviar após a sua morte, é a alma da Igreja e dos cristãos, que faz a comunhão profunda dos crentes entre si e com Deus. Foi precisamente no dia de Pentecostes deste ano, que faz memória dessa primeira vinda do Espírito sobre os apóstolos, que os fez perder o medo e testemunhar com alegria a sua fé, que o Papa Francisco rezou no Vaticano pela paz na Terra Santa, junto com os Presidentes de Israel e da Autoridade Palestiniana, assim como com o Patriarca de Constantinopola, elo da unidade da Igreja Ortodoxa, separada da comunhão com Roma desde o século XI. Os cristãos acreditam na força da oração e no poder do Espírito Santo para realizar a comunhão e a paz, as bases sólidas da convivência, do progresso e do futuro da humanidade. Por isso o Papa convidou todos os bispos, dioceses e paróquias a unirem-se a estes quatro homens importantes para a construção da paz na terra onde Jesus viveu e onde a Igreja nasceu e que constitui desde há anos um pólo de instabilidade no mundo, como o foi outrora a Alemanha de Hitler.
Estas e outras iniciativas estão ao nosso alcance para obter a paz no mundo e possibilitar o desenvolvimento dos povos. Em Fátima Nossa Senhora o lembrou aos três pastorinhos, em 1917. Por isso todos podemos participar na construção de uma Europa e de um mundo melhor.
† António Vitalino, Bispo de Beja
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