O XXII Governo Constitucional tomou posse, apresentou o seu programa e tem em debate o Orçamento do Estado do próximo ano.
Se no programa do Governo a cooperação com o Sector Social e Solidário como que passa despercebida, tanto direta como indiretamente, todo ele tem impacto no Sector e suporá concertação.
E entre todas as suas propostas, algumas orientações merecem ser destacadas.
Na área da proteção social:
- alargamento das respostas sociais de apoio à família, em particular para a infância e com especial incidência nas áreas metropolitanas alargando a rede de creches
- orientações pedagógicas para a creche
- garantia de um “valor universal” como comparticipação no preço que as famílias pagam pela creche a partir do segundo filho
- fomento da fixação das populações residentes em áreas protegidas
- aprovação de uma estratégia nacional de combate à solidão
- proteção dos idosos em situação de dependência ou isolamento
- desenvolvimento de um sistema integrado de sinalização de idosos isolados
- estabelecimento de modelos de assistência ambulatória e ao domicílio no âmbito do apoio à dependência
- promoção de programas de voluntariado sénior.
Na área da educação:
- universalização do ensino pré-escolar
- revisão do modelo das atividades de enriquecimento curricular.
Na área da saúde:
- proteção dos idosos em situação de dependência ou isolamento
- implementação da figura do gestor do doente crónico
- redução de internamentos hospitalares evitáveis
- duplicação do ritmo de investimento nas respostas de cuidados continuados integrados
- favorecimento de soluções de assistência à autonomia no domicílio
- promoção de uma maior integração de cuidados, centrada nas pessoas, através de um plano individual de cuidados.
Em matéria de rendimentos e política salarial, o novo Governo quer que o salário mínimo nacional avance progressivamente dos atuais 600 euros para os 750 euros em 2023 e pretende ir além da questão do salário mínimo nacional, através da negociação, em sede de Concertação Social, de um acordo de médio prazo sobre salários e rendimentos. O que inequivocamente se saúda.
Sendo o Sector Social e Solidário um importante pilar do Estado Social e o principal agente na proteção social direta, estranha-se o quase desconhecimento da cooperação no programa do Governo, já que as orientações anteriormente citadas e outras não serão viáveis sem o seu contributo. Todavia, o XXII Governo Constitucional pode contar com a sua total mobilização. Como sempre foi e sempre assim será.
Mas com uma salvaguarda: se o Governo, e muito bem, pretende que, sem medo, se avance em matéria de rendimentos e política salarial, tem exatamente nesse percurso um valor referencial para assumir a sua corresponsabilidade na sustentabilidade do Sector Social e Solidário.
No período de uma legislatura, uma atualização progressiva e assumida na cooperação que, globalmente e na mesma percentagem, acompanhe o aumento do salário mínimo, é simplesmente o mínimo que se espera de um Governo que dá prioridade às pessoas.
Até porque, para a estabilidade que se deseja, não será menos importante a sustentabilidade do Sector Social e Solidário do que a conjuntura parlamentar e política.
Lino Maia é padre católico da diocese do Porto e presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS)
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