Não foi erro de impressão.
O “O” maiúsculo do título
deste artigo justifica-se, como se verá.
O meu marido foi “Menino
da Luz”, isto é aluno do Colégio Militar, e continua a receber o “Zacatraz”, o
“grito de guerra do Colégio” que dá nome à revista. No seu nº 220 -
julho/setembro - 2020, publica-se o artigo “Quem dobrou o teu Para-Quedas, hoje?”
Aí, o autor (anónimo) narra um episódio da vida de Charles Plumb, um piloto da Marinha
dos E.U.A., na guerra do Vietnam.
Plumb já tinha entrado várias vezes em combate, mas dessa vez o seu avião foi atingido por um míssil e ele teve de saltar de para-quedas. Chegou bem ao solo, mas foi capturado pelo inimigo e passou seis anos numa prisão norte-vietnamita. Já no seu país, deu várias palestras contando a sua aventura. Certo dia, num restaurante, foi abordado por um desconhecido: “Olá! Não é você Charles Plumb, o que caiu e foi feito prisioneiro no Vietnam?”. Sim, era ele mesmo, mas como sabia disso? E copio a resposta que vem no “Zacatraz”: ”Era eu que dobrava o seu para-quedas. Parece que funcionou, não foi?” E continuo a copiar: Plumb ficou atónito de surpresa e, com a maior gratidão, respondeu: “Claro que funcionou bem, se não eu não estava aqui hoje.” Naquela noite, Plumb não conseguiu dormir pensando: “Quantas vezes é que eu me cruzei com este homem no porta-aviões e nunca lhe disse bom dia? Eu era um piloto arrogante e ele um simples marinheiro.” Depois desta experiência, Plumb passou a iniciar as suas palestras perguntando à sua plateia: “Quem dobrou o teu para-quedas, hoje?”
A história tocou-me porque,
em momento de falta de saúde, com muitos exames médicos, consultas e duas
operações, usei muitos “para-quedas”, muito bem dobrados, graças a uma grande quantidade
pessoas que tinham estudado, investigado e trabalhado para mim, sem que eu as
tivesse conhecido e pudesse dizer “Obrigada”. Todas elas permitiram que pudesse
estar hoje a escrever sobre “para-quedas”.
Estou a tentar escrever um
livro com memórias de família. Também neste contexto, minto, sobretudo neste
contexto, da família, da vida da Pátria, descubro inúmeras pessoas que “dobraram
o meu para-quedas, tantas vezes, e até hoje”, “O” para-quedas que tantas,
tantas vezes, me amparou em quedas das quais saí ilesa porque tinha sido “dobrado”
com desvelos de mãe.
Pais, professores, amigos, desconhecidos, até, que comigo falaram em alguma paragem de autocarro, deixaram na minha memória um “Para-quedas” tão bem dobrado que serviu para vários saltos, feitos em segurança, porque me falaram de verdades que encontraram eco no meu coração.
Isabel Vasco Costa
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