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terça-feira, 15 de dezembro de 2020

A Anunciação

Na história da arte, a anunciação a Nossa Senhora foi um tema recorrente durante vários séculos e pintado por muitos mestres. Foi muito importante para a arte cristã ocidental, principalmente durante a Idade Média e o Renascimento.

Esta passagem da Bíblia relata o anúncio feito pelo arcanjo São Gabriel à Virgem Maria de que ela seria a Mãe de Jesus. Muito provavelmente, Maria encontrava-se em oração, recolhida na meditação de alguma passagem da Bíblia; ter-se-á sobressaltado e perturbado ao ouvir dizer: “Salve cheia de graça, o Senhor está contigo”, ficando a pensar qual seria o significado destas palavras: quem era ela para aceitar estes elogios? O que fizera na sua breve existência? Mas compreendeu que a embaixada divina era efetivamente para ela e, com humildade, aceitou as palavras do anjo.

A pintura russa antiga, muito chegada à bizantina, foca-se muito, nos seus desenhos, em rostos de santos e cenas bíblicas; razão pela qual a cena da notícia do anjo é também muito relevante. Esta bela “Anunciação de Ustug” (à esquerda), de autor desconhecido, datada da década de 1130, é um exemplo.

      

Também o pintor português Álvaro Pires, nascido em Évora (e por isso conhecido como Álvaro Pires de Évora), assinou, já no final do seu período conhecido de atividade, uma “Anunciação” (à direita), que foi datada de 1430-1434. Segundo alguns especialistas, trata-se do pintor conhecido como Álvaro di Pierro, que passou algum tempo em Volterra e em Pisa, Itália, sendo referenciado pelo grande pintor, arquiteto e biógrafo Vasari. Em 2018, o Estado português adquiriu esta obra, que se encontra atualmente no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.

O tema também não escapou a Vasco Fernandes (1475-1542), o chamado Grão Vasco, que viveu um pouco depois de Álvaro Pires, cuja “Anunciação” se encontra atualmente no Museu de Lamego.

Outro grande mestre da pintura italiana, Fra Angelico (1395-1455), pintou uma famosa e belíssima “Anunciação”, que se encontra no Convento de São Marcos (em baixo, à esquerda), em Florença, que foi considerada a mais emotiva deste pintor, sendo comparada com a que está no Museu do Prado (à direita).

Este frade e mestre na arte do fresco, produtor de obras de extraordinária beleza, é considerado o pintor mais importante do Gótico Tardio; Vasari diz dele que tinha “um talento raro e perfeito”. Foi beatificado em 1982 por João Paulo II, que, dois anos mais tarde, o nomeou Padroeiro Universal dos Artistas.


Leonardo da Vinci (1452-1519) tratou este tema no seu primeiro trabalho, ainda em conjunto com outros artistas, aprofundando a técnica do claro/escuro e o chamado sfumato, que lhe permitia obter suaves gradientes entre tonalidades. Podemos admirar ainda as “Anunciações” de Botticelli, Caravaggio, Duccio, Giotto e muitos outros.

Muito mais tarde, outros artistas voltaram a este tema; entre eles, contam-se o pintor expressionista Emil Nolde (1867-1956), o russo Marc Chagall (1887-1985) e muito outros.

O tema da anunciação tocou muito um grande número de pintores por se tratar de uma cena íntima e ao mesmo tempo impressionante, revelando poderosamente as extraordinárias qualidades da Virgem Maria. Confrontado com a embaixada do anjo, qualquer ser humano faria muitas perguntas, ficaria nervoso e talvez com um pouco de medo; a força da Virgem Maria, que imediatamente se dispôs a dizer que sim, pode ser um exemplo para nós, na humildade e muitas vezes na paciência para aceitarmos o que Deus nos pede. Deus tem um mundo melhor para nos entregar e veio à Terra para nos salvar; só precisamos de confiança e entrega.

Neste sentido, em 31 de julho passado, o dia em que a Igreja Universal celebra a memória litúrgica de Santo Inácio de Loyola, o Santo Padre recordou o Fundador dos Jesuítas, rezando para que este santo “nos ensine a humildade”; em mensagem enviada através da sua conta oficial no Twitter (@pontifex.pt) o papa escreveu: “a humildade torna-nos conscientes de que não somos nós que construímos o Reino de Deus”.

Ana Maria Figueiredo
Pintora










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