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domingo, 29 de novembro de 2015

"Todos os fiéis da África Central se mobilizarão para ver o Papa"

Entrevista ao Ímã Kobine Oumar Layama e ao Pastor Nicolas Guérékoyaméné-Gbangou sobre a situação do país e a iminente visita do Santo Padre a Bangui

Madrid, 27 de Novembro de 2015 (ZENIT.org) Ivan de Vargas

O arcebispo de Bangui, Dom Dieudonné Nzapalainga, o presidente do Conselho Islâmico, Imã Oumar Kobine Layama e o presidente da Aliança Evangélica, Pastor Nicolas Guérékoyaméné-Gbangou, fundaram em 2013 a Plataforma Inter-religiosa da República Centro-africana. Uma organização inter-religiosa que representa as três principais religiões do país e promove o diálogo como medida preventiva contra a violência religiosa e como meio para buscar a paz.

No meio da guerra, os três líderes religiosos concordaram em trabalhar juntos para enfrentar a crescente instabilidade na República Centro-Africana. Desde então eles continuam a persuadir muçulmanos, católicos e protestantes para evitar mais violência e a vingança entre as suas comunidades religiosas.

Os três líderes viajam pelo país, visitando cidades e vilas para conversar com as comunidades sobre a paz, o respeito mútuo, a tolerância e a confiança. Além disso, a ação tem impulsionado uma decisão unânime do Conselho de Segurança das Nações Unidas a estabelecer uma força de manutenção da paz.

A República Central Africana, um país no coração da África devastado pela violência, atravessa a pior crise de sua história. Nesta entrevista exclusiva, realizada durante recente visita a Madrid para participar de um fórum organizado pelo KAICIID, o Imã Oumar Kobine Layama e o Pastor Nicolas Guérékoyaméné-Gbangou explicaram a ZENIT a situação que enfrentam suas comunidades e as expectativas sobre a iminente visita do Papa Francisco a Bangui.

Qual é a situação na República Centro-Africana?
Ímã Oumar Kobine Layama: Atualmente, o que está acontecendo tem sido uma surpresa para todos nós. Há um grande esforço por parte da Plataforma, da comunidade internacional e da sociedade civil para alcançar a paz no país. Infelizmente, os inimigos da paz ainda estão lá para colocá-la em perigo, apesar dos esforços feitos por todos os interessados ​​para denunciar os crimes, o ódio. Esta situação nos convida a refletir, nos pede, mais uma vez, para ver o que devemos fazer para pedir à comunidade internacional que nos ajude a restaurar a paz.
Pastor Nicolas Guérékoyaméné-Gbangou: os cálculos políticos questionam os esforços feitos tanto pelo governo como pelas diferentes religiões na República Centro-Africana. Nós nos aproximamos das eleições gerais e por isso, compreendemos a agitação. Mas não podemos compreender e aceitar a atitude das pessoas que se dizem patriotas e utilizam a violência para tentar tomar o poder ou pôr em perigo a vida da população. Os líderes religiosos não podem entender isso e muito menos admitir.

Muitos meios de comunicação estão dizendo que há um conflito religioso em curso no país. O que vocês acham?
Ímã Oumar Kobine Layama: Esta é uma manipulação dos políticos. Quando observamos a composição do Seleka, percebemos que não é uma milícia cem por cento muçulmana. Parte de seus membros pertencem a outras religiões. Portanto, não é um grupo muçulmano. É secular. Também entre os anti-Balaka há membros muçulmanos. Estes grupos rebeldes não são movidos por qualquer componente religioso. Eles fazem o que é proibido por todas as religiões. Portanto, não se pode dizer que a religião provocou essa rebelião. A frente do Seleka, não está uma pessoa religiosa, assim como os anti-Balaka. Há certas pessoas que pertencem a uma ou outra religião, mas a causa é puramente política.
Pastor Nicolas Guérékoyaméné-Gbangou: líderes religiosos muçulmanos, católicos e protestantes se uniram desde 2012, e até hoje, para trabalhar pela paz. E todo esse esforço se concretizou em setembro com o Dia da Paz, como parte da semana internacional sobre o mesmo assunto que teve lugar em Bangui.

As pessoas usam os mais fracos para deslizar no campo religioso e provocar hostilidades a fim de obter poder. Mas estamos otimistas. Nós acreditamos que não conseguirão, porque na África Central há 52% de protestante, 29% de católicos e 15% de muçulmanos, o que representa 96% da população total. O que isso significa? Mostra que as pessoas da África Central são profundamente religiosas. Chegará um momento em que os cristãos dirão: "Eu não sou um inimigo dos muçulmanos". E o muçulmano: "Eu não sou um inimigo do cristão".

Diante do que está acontecendo, é possível alcançar uma solução negociada?
Pastor Nicolas Guérékoyaméné-Gbangou: cristãos, muçulmanos e aqueles que não creem dialogam e dialogam sem parar, regularmente. São os políticos que usam os grupos armados para impedir esse diálogo. Ainda assim, acreditamos que vai chegar um momento em que os grupos armados se cansarão de lutar, eles vão enfraquecer e abandonarão as armas.

Por meio da força das palavras, os líderes religiosos irão desarmar os corações dos violentos para que um dia possam novamente viver juntos na República Centro Africana.

O que esperar da visita do Papa Francisco ao país?
Pastor Nicolas Guérékoyaméné-Gbangou: O Papa Francisco nos deu a honra de nos receber no Vaticano por duas vezes. Para nós, os três membros da Plataforma Inter-religiosa, é apenas um retorno de tudo o que ele nos deu. Todos os fiéis da África Central se mobilizarão para ver o Papa Francisco.
Acreditamos que mais uma vez repetirá as belas mensagens de paz que lançou ao nosso povo, a fim que os centro africanos deixem as armas e voltem a viver juntos.

Gostariam de transmitir uma mensagem para a comunidade internacional?
Ímã Oumar Kobine Layama: Pedimos à comunidade internacional para ajudar a população a se recuperar, a libertar-se dos grupos armados, ambos os grupos rebeldes Seleka como anti-Balaka. Que ajude as pessoas, porque elas realmente querem viver juntas.
Pastor Nicolas Guérékoyaméné-Gbangou: A mensagem que eu gostaria de transmitir à comunidade internacional é de que estamos cansados. Cansados de promessas não cumpridas. Cansados porque as resoluções da ONU não são cumpridas na íntegra. Cansados porque não temos a liberdade de movimento e queremos recupera-la. Esperamos todos esses gestos da comunidade internacional. Muito obrigado.



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