Homilia do Papa na Santa Missa pelos mártires ugandeses, sábado, 28 de novembro
Uganda,
29 de Novembro de 2015
(ZENIT.org)
Apresentamos a íntegra da homilia do Santo Padre Francisco
pronunciada neste sábado, 28 de novembro, no Santuário Católico dos
Mártires de Namugongo, Uganda.
«Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e
sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e
até aos confins do mundo» (Act 1, 8).
Desde a Idade Apostólica até aos nossos dias, surgiu um grande número
de testemunhas que proclamam Jesus e manifestam a força do Espírito
Santo. Hoje lembramos, com gratidão, o sacrifício dos mártires
ugandeses, cujo testemunho de amor a Cristo e à sua Igreja chegou,
justamente, até «aos confins do mundo». Recordamos também os mártires
anglicanos, cuja morte por Cristo dá testemunho do ecumenismo do sangue.
Todas estas testemunhas cultivaram o dom do Espírito Santo na sua vida
e, livremente, deram testemunho da sua fé em Jesus Cristo, mesmo a preço
da vida, e vários deles numa idade muito jovem.
Também nós recebemos o dom do Espírito para nos fazer filhos e filhas
de Deus, mas também para dar testemunho de Jesus e torná-Lo conhecido e
amado em todos os lugares. Recebemos o Espírito, quando renascemos no
Baptismo e quando fomos reforçados com os seus dons na Confirmação. Cada
dia somos chamados a aprofundar a presença do Espírito Santo na nossa
vida, a «reavivar» o dom do seu amor divino para sermos, por nossa vez,
fonte de sabedoria e de força para os outros.
O dom do Espírito Santo é-nos concedido para ser partilhado. Une-nos
uns aos outros como fiéis e membros vivos do Corpo místico de Cristo.
Não recebemos o dom do Espírito só para nós mesmos, mas para nos
edificarmos uns aos outros na fé, na esperança e no amor. Penso nos
Santos José Mkasa e Carlos Lwanga que, depois de ter sido instruídos na
fé pelos outros, quiseram transmitir o dom que receberam. Fizeram-no em
tempos perigosos: não só a vida deles estava ameaçada, mas também a vida
dos mais novos, confiados aos seus cuidados. Dado que tinham cultivado a
fé e crescido no amor a Deus, não tiveram medo de levar Cristo aos
outros, inclusive a preço da vida. A fé deles tornou-se testemunho;
venerados hoje como mártires, o seu exemplo continua a inspirar muitas
pessoas no mundo. Continuam a proclamar Jesus Cristo e a força da Cruz.
Se nós, como os mártires, reavivarmos diariamente o dom do Espírito
que habita nos nossos corações, tornar-nos-emos certamente naqueles
discípulos-missionários que Cristo nos chama a ser. Sê-lo-emos sem
dúvida para as nossas famílias e os nossos amigos, mas também para
aqueles que não conhecemos, especialmente para quantos poderiam ser
pouco benévolos e até mesmo hostis para connosco. Esta abertura aos
outros começa na família, nos nossos lares, onde se aprende a caridade e
o perdão, e onde, no amor dos nossos pais, se aprende a conhecer a
misericórdia e o amor de Deus. A referida abertura exprime-se também no
cuidado pelos idosos e os pobres, as viúvas e os órfãos.
O testemunho dos mártires mostra a quantos, ontem e hoje, ouviram a
sua história que os prazeres mundanos e o poder terreno não dão alegria e
paz duradouras. Mas são a fidelidade a Deus, a honestidade e
integridade da vida e uma autêntica preocupação pelo bem dos outros que
nos trazem aquela paz que o mundo não pode oferecer. Isto não diminui a
nossa solicitude por este mundo, como se nos limitássemos a olhar para a
vida futura; pelo contrário, dá uma finalidade à vida neste mundo e
ajuda-nos a ir ter com os necessitados, a cooperar com os outros em prol
do bem comum e a construir uma sociedade mais justa, que promova a
dignidade humana, sem excluir ninguém, que defenda a vida, dom de Deus, e
proteja as maravilhas da natureza, a criação, a nossa casa comum.
Queridos irmãos e irmãs, esta é a herança que recebestes dos mártires
ugandeses: vidas marcadas pela força do Espírito Santo, vidas que ainda
hoje testemunham o poder transformador do Evangelho de Jesus Cristo.
Não tomamos posse desta herança com uma comemoração passageira ou
conservando-a num museu como se fosse uma jóia preciosa. Mas honramo-la
verdadeiramente, como honramos todos os Santos, quando levamos o seu
testemunho de Cristo para os nossos lares e a nossa vizinhança, para os
locais de trabalho e a sociedade civil, quer permaneçamos em nossas
casas, quer tenhamos de ir até ao canto mais remoto do mundo.
Que os mártires ugandeses juntamente com Maria, Mãe da Igreja,
intercedam por nós, e o Espírito Santo acenda em nós o fogo do amor
divino.
Omukama Abawe Omukisa! [Deus vos abençoe!]
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