Páginas

sábado, 21 de novembro de 2015

Bem-aventurada Maria Fortunata Viti

Beneditina. Uma vida heróica, plena da beleza religiosa. Durante setenta anos soube oferecer a Deus as tarefas quotidianas da vida

Madrid, 20 de Novembro de 2015 (ZENIT.org) Dra. Isabel Orellana Vilches

A santidade não requer qualquer ostentação, nem deve ser acompanhada de grandes gestos é o que prova a vida de muitos seguidores de Cristo. Para aquele que aspira alcançar a melhor morada no céu, passar por este vale de lágrimas anonimamente, escondido em Deus, é ter um dos maiores presentes que se pode desfrutar na terra. Afinal de contas, viverá para sempre preso ao amor de Deus com absoluta exclusividade entre os bem-aventurados que o esperam. Nós viemos ao mundo sem qualquer atavio e essa desnudez nos acompanhará até a morte, seremos cobertos, no pleno sentido da palavra, apenas pela misericórdia divina.

O mérito indiscutível desta beata italiana se fundamenta no ter cumprido a sua missão quotidiana, com fidelidade plena, nas tarefas humildes que lhe foram confiadas, no silêncio do claustro, sem qualquer outra aspiração além de querer ser santa, único tesouro pelo qual entregou sua vida consagrada. Façanha cansativa, sem dúvida. Há uma aura de inegável grandeza em ser capaz de realizar o trabalho de lavar, cozinhar, costurar e remendar, que são tão rotineiros, com a alegria e a simplicidade com que ela fez por setenta anos. Isto quer dizer tornar sobrenatural o ordinário, assim como fizeram outros santos e santas.

Nasceu na cidade italiana de Veroli, região Lazio, em 10 de fevereiro de 1827. Sua casa foi governada por um pai que não era exatamente um modelo de virtude. O jogo e o álcool afundaram os negócios de Luigi Viti, um próspero comerciante, e arruinou a vida de sua esposa Anna Bono e de seus nove filhos. Anna Felicia era a terceira dos irmãos. Aos 14 anos, perdeu sua mãe, seu coração não resistiu a tantos descontentamentos e falhou aos 36 anos de idade. Ela teve que substituir o cuidado da numerosa prole. A situação era grave em todos os âmbitos, circunstancia difícil provocada pelos vícios de seu pai. Para combater tal miséria e a fome que sofriam, já que seu pai ainda estava preso ao vício, Anna Felicia trabalhava como empregada para uma família de Monte San Giovanni Campano. Naquele momento, seu trabalho era praticamente a única fonte de renda familiar. Este foi o cenário de sua vida até 24 anos.

Foi-lhe dada a oportunidade de se casar com um cidadão de Alatri, que a cortejou e ofereceu-lhe um futuro de esperança, uma vez que possuía muitos bens, mas a generosa jovem sonhava com a vida religiosa e o rejeitou. Tanto sofrimento refinou o seu amor a Cristo e com Ele foi capaz de rezar diariamente suplicando a benção de seu pai, a quem beijava as mãos respeitosamente sem censurar em seu coração esse despojo humano que se tornou, abatido pelas fraquezas e dominado por seu caráter ruim.

A 21 de março de 1851, com a idade de 24 anos, quando percebeu que seus irmãos estavam no bom caminho, Anna Felicia entrou no mosteiro beneditino de Santa Maria, Veroli. Ao professar os votos tomou o nome de Maria Fortunata. As circunstâncias dolorosas que marcaram o período anterior de sua vida a impediram de formar-se adequadamente. Quando ingressou no convento era analfabeta. Incapaz de lidar com funções litúrgicas no coro, ela foi designada para fazer os trabalhos domésticos nos quais se doava com o firme desejo de conquistar a santidade. Razão que a conduziu ao convento, como disse ao chegar: "Quero me tornar santa". Ela era uma mulher de palavra, porque é fácil comprometer-se verbalmente, mas é preciso provar a autenticidade da declaração a cada segundo do dia. Diz o ditado: “Entre falar e dizer, muito há que fazer”. Ela nunca esqueceu a meta que havia estabelecido.

Heroicamente vivendo o "ora et labora" beneditino, começava o dia nas primeiras horas da manhã para realizar a cada dia e com o mesmo empenho, sem nunca deixar a clausura, as tarefas rotineiras a ela atribuídas. No seu ambiente ignoravam a aridez que padecia esta humilde religiosa, obediente, amável e atenciosa, simples e caridosa. Com uma intensa vida de oração e silêncio, Maria Fortunata se prostrava diante do Santíssimo Sacramento, ao qual tinha grande devoção, dando exemplo de fidelidade e compromisso. Foi abençoada com os dons de milagres e profecia. Deixava transparecer a ternura de Deus que se derrama sobre seus filhos amados, iluminando o caminho que percorrem aqueles que encarnaram em suas vidas as bem-aventuranças: desapego, pureza de coração, inocência, bondade, etc.

Deus não quis que passasse mais de setenta anos no anonimato, estava escondida na sepultura comum do convento em que foi enterrada, sem honra e com certa pressa, quando da sua morte em 20 de Novembro de1922, aos 95 anos de idade. Chegou à idade tão avançada afligida pelo reumatismo, presa ao leito com sua cegueira, surdez e paralisia. Como milagres começaram a ocorrer diante de seu túmulo, treze anos mais tarde os seus restos mortais tiveram que ser removidos e enterrados na igreja, devido ao clamor popular. A 08 de outubro de 1967 foi beatificada pelo Papa Paulo VI, que elevou sua edificante vida de perfeição.

(20 de Novembro de 2015) © Innovative Media Inc.
in


Sem comentários:

Enviar um comentário