Beneditina. Uma vida heróica, plena da
beleza religiosa. Durante setenta anos soube oferecer a Deus as tarefas quotidianas da vida
Madrid,
20 de Novembro de 2015
(ZENIT.org)
Dra. Isabel Orellana Vilches
A santidade não requer qualquer ostentação, nem deve ser
acompanhada de grandes gestos é o que prova a vida de muitos seguidores
de Cristo. Para aquele que aspira alcançar a melhor morada no céu,
passar por este vale de lágrimas anonimamente, escondido em Deus, é ter
um dos maiores presentes que se pode desfrutar na terra. Afinal de
contas, viverá para sempre preso ao amor de Deus com absoluta
exclusividade entre os bem-aventurados que o esperam. Nós viemos ao
mundo sem qualquer atavio e essa desnudez nos acompanhará até a morte,
seremos cobertos, no pleno sentido da palavra, apenas pela misericórdia
divina.
O mérito indiscutível desta beata italiana se fundamenta no ter
cumprido a sua missão quotidiana, com fidelidade plena, nas tarefas
humildes que lhe foram confiadas, no silêncio do claustro, sem qualquer
outra aspiração além de querer ser santa, único tesouro pelo qual
entregou sua vida consagrada. Façanha cansativa, sem dúvida. Há uma aura
de inegável grandeza em ser capaz de realizar o trabalho de lavar,
cozinhar, costurar e remendar, que são tão rotineiros, com a alegria e a
simplicidade com que ela fez por setenta anos. Isto quer dizer tornar
sobrenatural o ordinário, assim como fizeram outros santos e santas.
Nasceu na cidade italiana de Veroli, região Lazio, em 10 de fevereiro
de 1827. Sua casa foi governada por um pai que não era exatamente um
modelo de virtude. O jogo e o álcool afundaram os negócios de Luigi
Viti, um próspero comerciante, e arruinou a vida de sua esposa Anna Bono
e de seus nove filhos. Anna Felicia era a terceira dos irmãos. Aos 14
anos, perdeu sua mãe, seu coração não resistiu a tantos
descontentamentos e falhou aos 36 anos de idade. Ela teve que substituir
o cuidado da numerosa prole. A situação era grave em todos os âmbitos,
circunstancia difícil provocada pelos vícios de seu pai. Para combater
tal miséria e a fome que sofriam, já que seu pai ainda estava preso ao
vício, Anna Felicia trabalhava como empregada para uma família de Monte
San Giovanni Campano. Naquele momento, seu trabalho era praticamente a
única fonte de renda familiar. Este foi o cenário de sua vida até 24
anos.
Foi-lhe dada a oportunidade de se casar com um cidadão de Alatri, que
a cortejou e ofereceu-lhe um futuro de esperança, uma vez que possuía
muitos bens, mas a generosa jovem sonhava com a vida religiosa e o
rejeitou. Tanto sofrimento refinou o seu amor a Cristo e com Ele foi
capaz de rezar diariamente suplicando a benção de seu pai, a quem
beijava as mãos respeitosamente sem censurar em seu coração esse despojo
humano que se tornou, abatido pelas fraquezas e dominado por seu
caráter ruim.
A 21 de março de 1851, com a idade de 24 anos, quando percebeu que
seus irmãos estavam no bom caminho, Anna Felicia entrou no mosteiro
beneditino de Santa Maria, Veroli. Ao professar os votos tomou o nome de
Maria Fortunata. As circunstâncias dolorosas que marcaram o período
anterior de sua vida a impediram de formar-se adequadamente. Quando
ingressou no convento era analfabeta. Incapaz de lidar com funções
litúrgicas no coro, ela foi designada para fazer os trabalhos domésticos
nos quais se doava com o firme desejo de conquistar a santidade. Razão
que a conduziu ao convento, como disse ao chegar: "Quero me tornar
santa". Ela era uma mulher de palavra, porque é fácil comprometer-se
verbalmente, mas é preciso provar a autenticidade da declaração a cada
segundo do dia. Diz o ditado: “Entre falar e dizer, muito há que fazer”.
Ela nunca esqueceu a meta que havia estabelecido.
Heroicamente vivendo o "ora et labora" beneditino, começava o dia nas
primeiras horas da manhã para realizar a cada dia e com o mesmo
empenho, sem nunca deixar a clausura, as tarefas rotineiras a ela
atribuídas. No seu ambiente ignoravam a aridez que padecia esta humilde
religiosa, obediente, amável e atenciosa, simples e caridosa. Com uma
intensa vida de oração e silêncio, Maria Fortunata se prostrava diante
do Santíssimo Sacramento, ao qual tinha grande devoção, dando exemplo de
fidelidade e compromisso. Foi abençoada com os dons de milagres e
profecia. Deixava transparecer a ternura de Deus que se derrama sobre
seus filhos amados, iluminando o caminho que percorrem aqueles que
encarnaram em suas vidas as bem-aventuranças: desapego, pureza de
coração, inocência, bondade, etc.
Deus não quis que passasse mais de setenta anos no anonimato, estava
escondida na sepultura comum do convento em que foi enterrada, sem honra
e com certa pressa, quando da sua morte em 20 de Novembro de1922, aos
95 anos de idade. Chegou à idade tão avançada afligida pelo reumatismo,
presa ao leito com sua cegueira, surdez e paralisia. Como milagres
começaram a ocorrer diante de seu túmulo, treze anos mais tarde os seus
restos mortais tiveram que ser removidos e enterrados na igreja, devido
ao clamor popular. A 08 de outubro de 1967 foi beatificada pelo Papa
Paulo VI, que elevou sua edificante vida de perfeição.
(20 de Novembro de 2015) © Innovative Media Inc.
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