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domingo, 29 de novembro de 2015

"É incrível a devoção aos mártires não só em Uganda, mas em outros países da África"

Entrevista com Antonia Sanchez Morocho, missionária comboniana em Uganda

Roma, 27 de Novembro de 2015 (ZENIT.org) Rocío Lancho García

O Papa Francisco desembarcou nesta sexta-feira em Uganda, segundo país da sua viagem pela África. Não será a primeira vez que este país recebe a visita de um Pontífice. Já Paulo VI o visitou em 1969 e São João Paulo II em 1993. E agora o pontífice argentino também se dirige a este país como "mensageiro de paz", como ele próprio anunciou dias antes da viagem.

Antonia Sanchez Morocho, missionária comboniana neste país conta a ZENIT o entusiasmo pela chegada do Santo Padre, e analisa os desafios sociais, políticos e da Igreja na Uganda. Também explica o significado dos mártires da Uganda e como este país se recuperou e continua recuperando-se das marcas que deixou a  violência da guerra civil de 1981 a 1986.

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ZENIT: Como estão vivendo este tempo de preparação para a chegada do Santo Padre? Quais são as esperanças do povo da Uganda com a visita do Papa Francisco?
Antonio: Estamos vivendo com grande entusiasmo, especialmente a comunidade católica. Acho que a esperança é a de ser confirmados na maturidade de sua fé e em uma pertença plena à Igreja Católica.

ZENIT: Quais são os principais desafios da Igreja neste país?
Antonia: Em minha opinião, o maior desafio é a formação do clero local. Há sacerdotes fantásticos, totalmente dedicados ao seu ministério e a serviço do povo, enquanto que em outros casos existem certas carências.

ZENIT: E do ponto de vista social e político?
Antonia: Poderia ser fortalecer a educação dos jovens em alguns valores tradicionais como a solidariedade, o bem comum, a hospitalidade, etc. A globalização está "impondo" o individualismo e a idolatria do dinheiro, entre outras coisas.

ZENIT: Qual é o seu trabalho em sua missão na Uganda?
Antonia: Amanhã, se Deus quiser, faço 75 anos. Isso significa que sou aposentada duas vezes, mas como as missionárias, e acho que as religiosas no geral, não podemos aposentar-nos nunca enquanto for possível fazer algo. Por isso eu, já faz uns meses, estou na nossa casa central aqui na Uganda ajudando na administração. Ocasionalmente e continuo dando exercícios espirituais e alguma oficina de formação no nosso Centro de Espiritualidade em Namugongo que coordenei até recentemente.

ZENIT: Uma das chaves da visita papal a este país será o 50º aniversário da canonização dos 22 mártires ugandeses. Como o exemplo destes mártires continua influenciando o povo da Uganda?
Antonia: É impressionante a devoção aos mártires não só na Uganda, mas também em outros países da África. Há peregrinações constantes ao longo do ano. Para a festa dos mártires, no dia 3 de junho, o afluxo de peregrinos é enorme. Semanas antes já tem pessoas dormindo em esteiras ao redor do santuário, chuva ou faça frio, eles estão lá. Se você perguntar porque vieram tão cedo para passar frio e dormir no chão, a resposta é: “os mártires sofreram mais pela sua fé”.

ZENIT: O Santo Padre disse viaja para a África como um mensageiro de paz, uma mensagem importante e cheia de esperança para estes países. Como é que se transmite o evangelho da paz e do perdão nestas populações onde as consequências da violência são tão palpáveis?
Antonia: Acho que há uma única maneira de transmitir o Evangelho da paz e do perdão, que é a de Jesus e que Francisco prega aos quatro ventos. "Perdoe seus inimigos e orai pelos que vos perseguem..." Um exemplo: Em meus anos de atividade missionária o primeiro que fiz foi dar aulas de educação religiosa em um instituto feminino de Gulu, norte da Uganda. Algum tempo após o fim da guerra voltei a esta escola. A atual diretora (uma antiga aluna minha) me explicou como conviviam as alunas que, na sua maioria, tinham sido sequestradas pelos guerrilheiros e tinham provado todo tipo de abusos e até torturas. Me disse que era muito difícil, as meninas tinham se tornado agressivas e com frequência brigavam. E assim tinham criado “The reconciliation Room”, a sala da reconciliação. Lá as meninas encontram sempre alguém que as escuta e as guia no processo de perdoar-se. Permanecem na sala até que conseguem reconciliar-se, às vezes ficam horas, dizia-me a diretora, mas conseguem.

(27 de Novembro de 2015) © Innovative Media Inc.
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