Entrevista com Antonia Sanchez Morocho, missionária comboniana em Uganda
Roma,
27 de Novembro de 2015
(ZENIT.org)
Rocío Lancho García
O Papa Francisco desembarcou nesta sexta-feira em Uganda, segundo
país da sua viagem pela África. Não será a primeira vez que este país
recebe a visita de um Pontífice. Já Paulo VI o visitou em 1969 e São
João Paulo II em 1993. E agora o pontífice argentino também se dirige a
este país como "mensageiro de paz", como ele próprio anunciou dias antes
da viagem.
Antonia Sanchez Morocho, missionária comboniana neste país conta a
ZENIT o entusiasmo pela chegada do Santo Padre, e analisa os desafios
sociais, políticos e da Igreja na Uganda. Também explica o significado
dos mártires da Uganda e como este país se recuperou e continua
recuperando-se das marcas que deixou a violência da guerra civil de
1981 a 1986.
***
ZENIT: Como estão vivendo este tempo de preparação para a
chegada do Santo Padre? Quais são as esperanças do povo da Uganda com a
visita do Papa Francisco?
Antonio: Estamos vivendo com grande entusiasmo, especialmente a
comunidade católica. Acho que a esperança é a de ser confirmados na
maturidade de sua fé e em uma pertença plena à Igreja Católica.
ZENIT: Quais são os principais desafios da Igreja neste país?
Antonia: Em minha opinião, o maior desafio é a formação do clero
local. Há sacerdotes fantásticos, totalmente dedicados ao seu ministério
e a serviço do povo, enquanto que em outros casos existem certas
carências.
ZENIT: E do ponto de vista social e político?
Antonia: Poderia ser fortalecer a educação dos jovens em alguns
valores tradicionais como a solidariedade, o bem comum, a hospitalidade,
etc. A globalização está "impondo" o individualismo e a idolatria do
dinheiro, entre outras coisas.
ZENIT: Qual é o seu trabalho em sua missão na Uganda?
Antonia: Amanhã, se Deus quiser, faço 75 anos. Isso significa que sou
aposentada duas vezes, mas como as missionárias, e acho que as
religiosas no geral, não podemos aposentar-nos nunca enquanto for
possível fazer algo. Por isso eu, já faz uns meses, estou na nossa casa
central aqui na Uganda ajudando na administração. Ocasionalmente e
continuo dando exercícios espirituais e alguma oficina de formação no
nosso Centro de Espiritualidade em Namugongo que coordenei até
recentemente.
ZENIT: Uma das chaves da visita papal a este país será o 50º
aniversário da canonização dos 22 mártires ugandeses. Como o exemplo
destes mártires continua influenciando o povo da Uganda?
Antonia: É impressionante a devoção aos mártires não só na Uganda,
mas também em outros países da África. Há peregrinações constantes ao
longo do ano. Para a festa dos mártires, no dia 3 de junho, o afluxo de
peregrinos é enorme. Semanas antes já tem pessoas dormindo em esteiras
ao redor do santuário, chuva ou faça frio, eles estão lá. Se você
perguntar porque vieram tão cedo para passar frio e dormir no chão, a
resposta é: “os mártires sofreram mais pela sua fé”.
ZENIT: O Santo Padre disse viaja para a África como um
mensageiro de paz, uma mensagem importante e cheia de esperança para
estes países. Como é que se transmite o evangelho da paz e do perdão
nestas populações onde as consequências da violência são tão palpáveis?
Antonia: Acho que há uma única maneira de transmitir o Evangelho da
paz e do perdão, que é a de Jesus e que Francisco prega aos quatro
ventos. "Perdoe seus inimigos e orai pelos que vos perseguem..." Um
exemplo: Em meus anos de atividade missionária o primeiro que fiz foi
dar aulas de educação religiosa em um instituto feminino de Gulu, norte
da Uganda. Algum tempo após o fim da guerra voltei a esta escola. A
atual diretora (uma antiga aluna minha) me explicou como conviviam as
alunas que, na sua maioria, tinham sido sequestradas pelos guerrilheiros
e tinham provado todo tipo de abusos e até torturas. Me disse que era
muito difícil, as meninas tinham se tornado agressivas e com frequência
brigavam. E assim tinham criado “The reconciliation Room”, a sala da
reconciliação. Lá as meninas encontram sempre alguém que as escuta e as
guia no processo de perdoar-se. Permanecem na sala até que conseguem
reconciliar-se, às vezes ficam horas, dizia-me a diretora, mas conseguem.
(27 de Novembro de 2015) © Innovative Media Inc.
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