Em entrevista a ZENIT o famoso ator que trabalhou no filme-documentário “Shades of Truth” sobre o Papa Pacelli
Roma,
23 de Novembro de 2015 (ZENIT.org)
Gianluca Badii
"O que aconteceu em Paris é algo terrível. Muitas pessoas inocentes foram mortas”, comentou sobre os atentados de Paris Remo Girone, famoso ator de teatro, cinema e televisão italiana. Poucas palavras, mas cheias de sentimento e emoção, no signo do maior respeito pelo acontecido, sem cair nos falsos moralismos e na retórica.
ZENIT entrevistou-o por causa da sua participação no filme Shades of
Truth de Liana Marabini, para depois abordar argumentos como a sua
relação com a fé e os projetos futuros do ator.
***
ZENIT: Você participou do filme Shades of Truth de Liana
Marabini, filme documentário sobre a figura do Papa Pio XII. O que o
motivou a participar de tal projeto?
Remo Girone: Conheço Liana Marabini há muito tempo, e a minha estima
por ela é altíssima. Além disso, o personagem que eu tive que
interpretar me atrai muito.
ZENIT: De fato, você interpretou o papel de Soares,
ex-funcionário consular da embaixada portuguesa de Roma, que persuadido
pelo Papa decidiu colocar o carimbo para o visto de milhares de hebreus,
permitindo-lhes, assim, a expatriação. Uma história incrível. O que
você sentiu ao interpretá-lo?
Remo Girone: Soares é um velho homem que espera a morte serenamente,
com a consciência de ter feito algo bom na sua vida. Também eu gostaria
(o mais possível) de enfrentar o fim da vida com a consciência limpa.
Acho, porém, que seja algo muito difícil para qualquer um.
ZENIT: No filme de Marabini vemos o lento colapso das
certezas de David Milano, protagonista da história, que inicialmente
apoiava as teses de que o Papa Pio XII foi o “Papa de Hitler”, até
compreender a grandeza real do Papa Pacelli. Antes do filme você era
sabia de tudo o que o Papa Pio XII tinha feito para salvar o máximo de
vidas possível?
Remo Girone: Sem. Eu já sabia. Já tinha feito um filme, de duas
partes, para a televisão alemã, onde interpretei o papel de Pio XII. Foi
naquela ocasião que aprofundei o meu conhecimento do Papa Pacelli.
ZENIT: Qual é a sua opinião sobre a figura de Pio XII? O filme ajudou a formar ou a modificar a sua opinião?
Remo Girone: Tenho uma grande estima pelo Papa Pacelli. Com o filme
para a tv alemã pude aprofundar a sua vida, interpretando também os anos
em que foi Núncio em Mónaco antes e em Berlim depois. O filme de Liana,
no entanto, serviu para reforçar esta minha estimativa.
ZENIT: Qual é a sua relação com a fé?
Remo Girone: É difícil falar sobre a minha relação com a fé. Sou
batizado, fiz a primeira comunhão e a crisma, mas devo dizer que não sou
um grande frequentador das funções religiosas e tenho frequentemente
muitas dúvidas. Nos momentos difíceis, porém, recito orações e me dão
conforto.
ZENIT: Na sua carreira, você participou de mais de 60
trabalhos entre cinema e tv, presenteando ao público célebres
personagens como Tano Cariddi de “La Piovra”, sem considerar o imenso
trabalho que você desenvolveu em campo teatral, pensemos no “Zio Vanja”
dirigido por Peter Stein. Como você avalia o panorama cultural italiano
contemporâneo, especialmente no campo cinematográfico?
Remo Girone: Conseguir fazer filmes para as salas de cinema é muito
difícil e complicado na Itália. Todos aqueles que fazemos cinema
colocamos toda a carne no assador, do produtor ao roteirista, do diretor
aos atores, junto com as pessoas dos vários departamentos até o último
operador de máquinas. Cada filme é o resultado do trabalho complexo de
muitas pessoas que têm competência, habilidade e amor pelo próprio
trabalho. É importante que se fale sempre com respeito. O
profissionalismo de todos aqueles que amam o cinema faz com que os
italianos consigamos até Óscares, apesar das imensas dificuldades que
persistem.
ZENIT: Quais são os próximos projetos de filmes e/ou teatro em que estará presente?
Remo Girone: Está no forno, quase saindo, um filme que se chama
“Infernet” sobre os danos que o mau uso da Rede provoca, no qual
interpreto o papel de um sacerdote. Acabou de sair “Rosso Mille Miglia”
onde participa, como no filme de Liana Marabini, também a minha esposa,
Victoria Zinny. Também realizei dois filemes americanos que passaram na
Itália: “Voice from the stone”, um filme psicológico em que o personagem
principal é Emilia Clark (atriz de "Game of Thrones" e do novo
"Terminator"), onde interpreto o misterioso mordomo do castelo onde
acontece a história. O segundo filme se chama “SMITTEN” e é uma comédia
romântica que tem algo do “Sogno d’una notte di mezz’estate”, com a
direção e roteiro de Barry Morrow, já prémio Óscar de roteirista de
“Rain Man”. Para o teatro sei o narrado do “Kaddish” de Bernstein, com a
orquestra sinfónica nacional da RAI, no próximo ano.
ZENIT: Dada a sua grande experiência, que conselho você daria
para a nova leva que pretende aproximar-se do mundo cinematográfico ou
teatral, talvez entrando na Academia Nacional de Arte Dramática Silvio
D’amico como você fez?
Remo Girone: Vinte pessoas entram na academia, realizando um
concurso, por ano. Se a pessoa tem as habilidades necessárias para ser
admitido, então, passa por três anos de estudo muito importantes. Servem
também, ou principalmente, para verificar se tem-se a verdadeira paixão
e a seriedade necessária para realizar este trabalho, porque, senão,
não se superam os enormes obstáculos, frustrações e dificuldades da
carreira de um ator. Mas, a academia não é o único caminho par a se
“tornar” atores: pode-se chegar ao trabalho também pelo teatro
Filodrammatico. Pode-se ser filhos da arte... por fim, as estradas são
muitas. Mas, a seriedade, o estudo, a paixão e, importantíssimo, o
talento de base, são indispensáveis, sempre e de qualquer maneira.
(23 de Novembro de 2015) © Innovative Media Inc.
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