Entrevista ao sacerdote missionário Torquato Paolucci. "Hoje, o problema é a corrupção"
Roma,
27 de Novembro de 2015
(ZENIT.org)
Sergio Mora
O Papa Francisco chega hoje, sexta-feira, na Uganda, e permanecerá
lá até o domingo 29. Será o segundo país da África que visita nesta
viagem apostólica que começou na quarta-feira passada, 25, no Quénia e
que termina na segunda-feira, 30 na República Centro Africana.
O padre Torquato Paolucci, missionário comboniano, italiano de
Urbania, trabalhou de 1972 a 2010 em Uganda. Entrevistado pela ZENIT
comentou alguns detalhes que nos ajudarão a entender melhor a viagem do
Papa Francisco a este país. Compartilhamos com os nossos leitores.
***
ZENIT: Hoje, qual é o principal problema da Uganda?
Padre Torquato: É a luta contra a corrupção. Este governo, no começo,
realizou muitas coisas, até mesmo boas, mas depois pensou somente em
enriquecer-se. Portanto, existe uma classe muito rica e uma maioria de
gente muito pobre.
ZENIT: Com relação ao passado, qual é a situação atual?
Padre Torquato: Tem havido um progresso geral, mais estradas, mais
liberdade. Este governo tem feito muito relação ao passado, mas o grupo
dirigente é como uma máfia e, portanto, tudo é manipulado. Também as
eleições que se realizaram quando eu estive lá há alguns anos atrás.
Rodava dinheiro, urnas cheias de votos desapareciam. Existe muita
traição. Somente pensam em realizar negócios importantes e que não sejam apanhados . Em fevereiro próximo haverá eleições políticas e muitos temem
que se repita a fara das outras vezes.
ZENIT: Na sua opinião qual é a saída para esta situação e como pode influenciar a visita do Papa?
Padre Torquato: O tema principal é o de conseguir mais honestidade,
mais atenção aos pobres e doentes. As pessoas estão muito feliz com este
encontro que terão com o Papa Francisco que veio celebrar os 50 anos da
canonização dos mártires da Uganda.
ZENIT: Qual é a mensagem destes 22 mártires?
Padre Torquato: Eles se converteram ao catolicismo graças aos
missionários da África, do Cardeal Charles Lavigerie, dos Padres
Brancos. E foram mortos entre 1885 e 1887, por serem cristãos. Os
Mártires de Uganda eram todos leigos e os leigos estão muito
comprometidos com associações e iniciativas católicas.
ZENIT: Quantos católicos há no país?
Padre Torquato: Um 45% por cento da população é católica, o 25%
protestante e 10% são muçulmanos, o resto são animistas e de outras
religiões.
ZENIT: E o diálogo inter-religioso funciona?
Padre Torquato: No passado, na relação entre católicos e protestantes
houve uma grande tensão. Além do mais porque na política os protestantes
tinham o apoio da Inglaterra e tentaram marginalizar os católicos
sempre. Mas, como estes últimos eram a grande maioria, chegou um ponto
em que não conseguiram fazê-lo. Depois, com o passar dos anos, começou
um processo de maior colaboração no campo social. Não tanto desde o
ponto de vista doutrinário, mas sim houve alguns encontros. A
convivência na maior parte da Uganda é boa e existe colaboração, embora
em algumas regiões permaneçam as tensões do passado.
ZENIT: Qual é a situação com os muçulmanos?
Padre Torquato: Eles estão, principalmente, nas cidades e no
comércio. Com os muçulmanos não encontrei tensões nos anos em que
trabalhei lá. Houve um bom relacionamento com eles e realizamos com eles
muitos trabalhos. Também colocamos nossos hospitais e escolas à
disposição. E em algumas ocasiões ajudei a alguns jovens muçulmanos a ir
à escola e até à universidade, porque não iam. Existia uma relação
discreta, falo de cinco anos atrás. Não sei se hoje existirão
infiltrações dos fundamentalistas.
ZENIT: Poderia resumir-me o trabalho dos Combonianos na Uganda?
Padre Torquato: Os Missionários Combonianos chegaram à Uganda em
1910, e trabalharam principalmente no norte, em direção à fronteira com o
Sudão. Para o sul, no entanto, com os Padres Brancos. Para alcançar o
coração das pessoas fizemos muitas obras sociais. A grande maioria das
escolas surgem do trabalho da Igreja. Também a saúde derivada do
trabalho dos Missionários Combonianos. Ainda hoje o 65% das estruturas
médicas são administradas pela Igreja, graças a voluntários. Assim, ao
dar testemunho com a caridade de Jesus, muitos viram na caridade cristã a
mensagem de esperança e de salvação.
Nesse último período, quando aconteceram as guerras com fundo tribal
pelo poder, mais de 20 anos de guerra, destruição e massacres, os
missionários Combonianos foram os únicos brancos que permaneceram no
território, embora 13 deles foram mortos. Isto tem ajudado mais às
pessoas a acreditarem em Jesus. Não se sentiram abandonados e nos
tornamos sinais de esperança para muitos.
Hoje, a Igreja em Uganda tem grande vitalidade e vocações ao ponto de
que quase todas as nossas estruturas foram entregues às Igrejas locais,
e por tanto, estamos saindo deste país. Um pouco porque estamos mais
velhos e outro pouco porque Uganda não precisa de missionários, porque
contam com suficiente pessoal para fazer o trabalho da Igreja e para ir
como missionários em outros países. Atualmente, neste país, há 130
missionários combonianos.
(27 de Novembro de 2015) © Innovative Media Inc.
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