Mais de um século atrás, o beato economista já propunha a caridade como revolução social
Roma,
26 de Novembro de 2015
(ZENIT.org)
Antonio Gaspari
Giuseppe Toniolo, economista e sociólogo, foi beatificado por Bento
XVI em 29 de abril de 2012. Seu programa social, sua antropologia e sua
economia são muito próximos e semelhantes aos que hoje o papa Francisco
empreende, conforme afirma o ensaio Alegria solidária, de dom Domenico
Sorrentino, bispo de Assis e postulador da causa de beatificação de
Toniolo.
Eleito em 13 março de 2013, Francisco pôs no centro do seu programa
pastoral os pobres, criticou o utilitarismo e a cultura do descarte e
rejeitou a idolatria do dinheiro, que reduz o humano e justifica novas e
velhas escravidões. Para dom Sorrentino, Toniolo foi "um precursor e um
profeta".
O beato apontou para um compromisso social da Igreja que não se
limitasse à caridade individual, mas que fizesse da partilha e da
cultura do dom uma verdadeira revolução social. Ele foi um pensador
“incómodo”, como é o Evangelho e como são todas as testemunhas radicais
da Palavra de Deus.
Toniolo deu continuidade a um grupo de economistas católicos que se
opuseram às teorias de Malthus, ao darwinismo social e ao imperialismo
britânico. À frente do seu tempo, ele advertiu contra os perigos do
comunismo e denunciou os limites do sistema financeiro especulativo.
Propôs a cultura do dom e a aliança entre finanças, empresa e trabalho,
em defesa e pelo desenvolvimento do bem comum.
Seus ensinamentos ecoam na Evangelii Gaudium, a exortação apostólica
em que o papa Francisco critica a economia dominante e diz "não a uma
economia da exclusão (EG 53). Não à nova idolatria do dinheiro (EG 55).
Não a um dinheiro que governa em vez de servir (EG 57). Não à
desigualdade que gera violência (EG 59)".
Toniolo conhecia bem esses problemas e tentou atacá-los com o
programa de Milão (1894), em que denunciava a patologia de um comércio
onde o dinheiro tendia a assumir um papel autónomo e prevaricante. Logo
após a publicação da encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII, Toniolo
propôs uma reforma social da prevalência ética sobre as leis da
economia. Propôs uma solução da questão social que rejeita tanto o
individualismo utilitarista do sistema capitalista quanto o coletivismo
materialista defendido pelo socialismo. Ele rejeita as duas ditaduras: a
do dinheiro e das finanças e a do estado e do partido.
Dom Sorrentino comenta em seu livro que, no passado, a Igreja tentou
combater e limitar a especulação financeira tachando-a de usura e
tentando moderar a multiplicação do dinheiro com lucros
desproporcionados, em que os emprestadores de dinheiro se tornavam
aproveitadores e especuladores, sem a menor relação com a realidade e
pondo em risco a organização do trabalho.
A Igreja, desde o início, denunciou os modos de operar em que o
bezerro de ouro se torna objeto de idolatria. O dinheiro e a sua
multiplicação desmedida assumiram hoje dimensões globais, desafiando
todo princípio ético e os mecanismos de regulação.
Para combater a especulação, o economista afirmou: "Na complexidade
vertiginosa da vida comercial, é necessário proteger-se contra o
monopólio do crédito que beneficia poucos especuladores mediante a comum
servidão". É urgente modernizar a repressão legal da usura, sujeitar as
bolsas a normas rigorosas e tornar o crédito uma função social, não
especuladora.
O programa corresponde às palavras do papa Francisco quando ele
afirma que "o dinheiro deve servir e não governar". A Igreja ama todos,
ricos e pobres, mas lembra que os ricos devem ajudar, respeitar e
promover os pobres. Disse o papa na Evangelii Gaudium: "Exorto-vos à
solidariedade abnegada e a um retorno da economia e das finanças a uma
ética a favor do ser humano".
(26 de Novembro de 2015) © Innovative Media Inc.
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