"Chorar,
orar, servir”, são as três palavras-chave do Pontífice no encontro com o
clero na Santa Mary School, que recorda que “Deus nos escolheu” e que
“na vida consagrada, entra-se pela porta e não pela janela”.
Roma,
26 de Novembro de 2015
(ZENIT.org)
Salvatore Cernuzio
Chorar, rezar, servir os demais (e não servir-se deles), e nunca,
jamais, esquecer Cristo crucificado, porque um sacerdote, um consagrado,
um religioso ou uma religiosa que faz isso quer dizer que caiu em um
“pecado muito feio”, a tibieza. Um pecado que faz Deus “vomitar”.
Improvisando, principalmente em espanhol, mas oscilando entre o inglês e
o italiano, Francisco é paterno mas incisivo com o clero de Nairobi que
encontrou nesta tarde no St Mary School, instituto fundado pelos Padres
Spiritati que contém no seu interior a igreja de Santo Austin.
No campo de desporto, o Papa abraça todos os presentes, depois escuta
dois testemunhos: o do Pe. Felix J. Phiri Mafr, presidente da Religious
Superior Conference of Kenya (RSCK) e da irmã Michael Marie
Rottinghaus, presidente da Association of Sisterhoods of Kenya (AOSK),
que falam sobre o seu compromisso para “promover incansavelmente a
dignidade da pessoa humana independentemente da sua origem étnica e
religiosa”, e também pelo cuidado da casa comum.
Um compromisso, na verdade, um serviço, pelo qual o Papa expressou
profunda gratidão. "Gostaria de dizer-lhes tantas coisas para cada um de
vocês”, acrescenta, “mas tenho medo de falar em inglês e gostaria de
falar na minha língua”. Em espanhol, Bergoglio, aborda, portanto, um
primeiro e fundamental ponto: a vocação. “O Senhor escolheu a todos nós.
Começou a sua obra no dia em que nos olhou depois do batismo, depois e
além, e disse ‘venha comigo’. E lá nos nos colocamos em fila e começamos
o caminho. Mas foi ele que começou o caminho conosco”.
Isso nunca deve ser esquecido: "No seguimento de Jesus Cristo, no
sacerdócio ou na vida consagrada, entra-se pela porta e a porta é
Cristo. É ele que começa, que faz o trabalho”. Porém, destaca o Papa,
“existem alguns que querem entrar pela janela. Isso não está bem. E
alguém tem algum companheiro ou companheira que quer entrar pela janela,
abracem-no e digam-lhe que é melhor que saia e que siga a Deus em outro
lugar, porque nunca fará uma obra que Jesus enviou”.
É necessário, de fato, a "consciência de ser pessoas escolhidas”. E
também, caso haja alguns que “não sabem porque Deus lhes chama, mas
sentem que Deus lhes chama, tranquilos! Deus fará com que vocês entendam
porque lhes chamou”. É necessário estar atentos àqueles que querem
seguir o Senhor por algum interesse. Um pouco como a mãe de Tiago e João
que, recorda o Pontífice, pergunta: “Senhor, gostaria de lhe pedir:
quando divida a torta pode dar o maior pedaço para os meus filhos? Que
um esteja na tua direita e outro na tua esquerda”.
É "a tentação de seguir a Jesus por ambição - observa o Papa - a
ambição do dinheiro, a ambição do poder". O fato é que "no seguimento de
Jesus, não há lugar para riquezas ou para ser uma pessoa importante no
mundo”. Na verdade, “Devemos seguir a Jesus até o último passo da sua
vida terrena, a cruz, depois Ele se preocupa de ressuscitar-nos, mas até
aquele ponto devemos chegar”. Francisco destaca, portanto, um dos seus
light motif: “A Igreja não é uma empresa, nem uma ONG, a Igreja é um
mistério: o mistério do olhar de Jesus sobre cada um que Ele diz ‘Vem’.
Portanto, isso é claro: que aqueles que Jesus chama devem entrar pela
porta e não pela janela. Depois, é necessário seguir o caminho de
Jesus”.
Além disso, quando Cristo nos escolhe não “nos canoniza”,
“continuamos a ser os mesmos pecadores” de sempre. “Se há aqui alguém,
algum sacerdote ou religioso que não se sente pecador levante a mão.
Todos somos pecadores, eu em primeiro lugar e depois vocês. Mas, o que
nos leva adiante é a ternura e o amor de Jesus”, afirma o Santo Padre. A
este respeito, submeteu todos os presentes a um teste: “Vocês se
lembram do Evangelho do apóstolo Tiago chorando? Não! E quando chorou o
apóstolo João? Não! E quanto chorou algum dos outros apóstolos? Não! O
Evangelho só fala de um que chorou, aquele que se deu conta de que era
pecador. Era tão pecador que tinha traído o Senhor e quando se deu conta
disso chorou. Depois Jesus o fez Papa. Quem compreende Jesus? É um
mistério!”
Tudo para dizer que os consagrados não devem jamais “deixar de
chorar”, porque “quando um sacerdote, um religioso ou uma religiosa
secam as lágrimas há algo errado”. É necessário chorar, reitera o Papa,
“chorar pelas próprias infidelidades, pela dor do mundo, pelas pessoas
descartadas, pelos anciãos abandonados, pelas crianças assassinadas,
pelas coisas que não compreendemos”. Chorar “quando nos perguntam por
quê?”. “Nenhum de nós tem todas as respostas aos porquês”, admite
Francisco, “cada vez que cumprimento uma criança que tem câncer ou uma
doença rara me pergunto porque aquela criança sofre e eu não tenho a
resposta para isso, só olho para Jesus na cruz. Existem situações na
vida que nos levam a chorar olhando para Jesus na cruz e esta é a única
resposta a certas dores, a certas situações da vida”.
"Lembrem-se de Cristo crucificado", exortava, de fato, São Paulo. No
sentido de que “quando um consagrado, um sacerdote, um religioso se
esquece de Cristo crucificado – pobrezinho! – quer dizer que caiu em um
pecado muito feio. Um pecado que dá horror a Deus, um pecado que faz
Deus vomitar”. O pecado, ou seja, da “mediocridade”. “Irmãos, irmãs,
cuidado para não cair no mercado da mediocridade”, adverte o Papa.
E do fundo do seu coração, ele pede aos religiosos de Nairobi para
nunca deixarem de, além de chorar, de rezar. “’Mas, padre, às vezes é
tão chato rezar, cansa, dá sono’. ‘Ok, durmam diante do Senhor. Este é
um modo de rezar. Mas permaneçam ali diante Dele’”. Se abandonarem a
oração, de fato, “a alma seca, endurece, como aqueles ramos secos”. E a
alma de um religioso que não reza “é uma alma feia”. Cada um, portanto,
se pergunte em toda consciência: “Eu tiro tempo do sono? Quanto tempo
tiro do rádio, da tv, das revistas, para rezar ou prefiro estas coisas?”
Então, chorar e rezar. Sempre. Mas também servir. Esta é a última
recomendação do Papa: "Todos aqueles que se deixaram escolher por Jesus
estão ali para servir o povo de Deus – recorda - , para servir os mais
pobres, os mais descartados, os mais distantes da sociedade, as crianças
e os anciãos, para servir também as pessoas que não têm consciência da
soberba e do pecado que eles próprios vivem, para servir a Jesus”.
"Deixar-se escolher por Jesus significa deixar-se escolher para
servir não para ser servido”, diz o Santo Padre, contando uma anedota de
um ano atrás, quando, durante os exercícios espirituais, a cada dia
havia um turno de sacerdotes que deviam servir a mesa. “Alguns deles se
lamentavam: ‘Nós devemos ser servidos. Nós pagamos para ser servidos’.
Por favor, nunca mais isso na Igreja!”.
Depois uma outra nota pessoal: “Me falava um cardeal ancião – de
fato, é um ano mais velho do que eu – que quando ele vai ao cemitério
onde estão os missionários, missionárias, religiosos que deram as suas
vidas, se pergunta: ‘Por que esta pessoa não é canonizada amanhã? Dado
que passaram as suas vidas servindo”. “Eu – admite Bergoglio – fico
emocionado quando cumprimento depois de uma Missa um sacerdote, uma
religiosa que há 30-40 anos estão naquele hospital, de missão naquele
lugar ou em outro. Isso me toca a alma. Porque eles compreenderam que
servir a jesus é servir os outros e não servir-se dos outros”.
Eles merecem um profundo "obrigado". Mas um obrigado também a todos
os presentes: “Obrigado por terem a coragem de seguir a Jesus – conclui o
Papa -. Obrigado por todas as vezes que se sentiram pecadores, por toda
carícia de ternura que vocês dão nos necessitados, por todas as vezes
que ajudastes alguém a morrer em paz. Obrigado por dar esperança na
vida, e obrigado porque vocês se deixaram ajudar, corrigir e perdoar a
cada dia”.
(26 de Novembro de 2015) © Innovative Media Inc.
in
Sem comentários:
Enviar um comentário