A
misericórdia do Pai, a paz de Jesus Cristo Nosso Senhor, e a comunhão do
Espírito Santo estejam convosco!
Queremos
convidar-vos, queridos irmãos e irmãs, a celebrar e a viver intensamente, com
toda a Igreja, o Ano Jubilar da Misericórdia promulgado pelo Papa Francisco,
para comemorar os 50 anos da conclusão do Segundo Concílio do Vaticano.
Inaugurado por S. João XXIII e concluído pelo beato Paulo VI, o último Concílio
Ecuménico preparou a Igreja para estes novos tempos, em que devemos anunciar o
mesmo Evangelho de sempre em contextos muito diferentes daqueles que foram os
da cristandade. O tempo da cristandade passou e o Papa Francisco não se cansa
de nos lembrar a urgência de recentrar a vida e a ação da Igreja no essencial,
para que possamos revelar e oferecer ao mundo, com mais eficácia, o tesouro da
misericórdia de Deus. Essa renovação profunda deve começar, necessariamente,
por cada um de nós. Por isso vos pedimos: abri os corações à misericórdia do
Senhor para vos tornardes, em Cristo, misericordiosos como o Pai.
1. A misericórdia revela Deus
De
facto, para sermos cristãos, não nos basta saber coisas acerca de Deus, de
Cristo e da Igreja; cada um de nós precisa de viver a experiência concreta da
Sua misericórdia que nos liberta do poder
das trevas e nos faz passar para o Reino de Seu Filho muito amado (cf.
Cl.1,13). A nós, que estávamos mortos em
nossos pecados, Deus, que é rico em misericórdia, vivificou-nos juntamente com
Cristo e com Ele nos ressuscitou e nos fez sentar nos céus (cf Ef 2,1.4-6).
Se nestas palavras de S. Paulo reconheces a tua história e o programa da tua
vida futura, feliz de ti que alcançaste misericórdia! Sê misericordioso,
porque, segundo a promessa do Senhor, sempre alcançarás misericórdia (cf Mt
5,7).
Para
podermos alcançar misericórdia e testemunhá-la ao mundo, serve precisamente
este Ano Jubilar. Por meio dele, Cristo Bom Pastor vem à procura das suas
ovelhas transviadas. Deixa-te encontrar por Ele, sai dos esquemas egocêntricos
e mesquinhos em que te resguardas, abre-te à largueza da Sua graça, deixa-te
apascentar e conduzir por Ele até à casa do Pai, que te espera transbordante de
amor e de perdão, para te abraçar e te revestir da dignidade própria dos seus
filhos, tal como vemos na parábola do filho pródigo.
2. A Igreja, estalagem da
misericórdia
Constituída
por pecadores que acolheram o Evangelho e estão a caminho da Terra Prometida, a
Igreja é, no dizer do Papa Francisco, como um hospital de campanha ou como a
estalagem da parábola do Bom Samaritano, onde o Senhor nos recebe
misericordiosamente e cura as nossas feridas. A Igreja é o lugar de encontro de
Deus com o homem e do homem com Deus, o lugar da graça e da misericórdia. Nela,
Jesus é o rosto do Pai misericordioso que nos atrai, e, como Ele próprio
afirmou, a porta pela qual entramos para ser salvos. Por Ele entramos na
comunhão da Igreja ao sermos batizados e ao renovarmos o Batismo no sacramento
da Reconciliação. Por Ele, impelidos pelo Seu Espírito, saímos como Igreja
enviada ao mundo para dar testemunho da Sua misericórdia e anunciar o
Evangelho.
A
propósito, transcrevemos aqui o que diz o Santo Padre na bula de proclamação do
Jubileu: a arquitrave que suporta
a vida da Igreja é a misericórdia. Toda a sua ação pastoral deveria estar
envolvida pela ternura com que se dirige aos crentes; no anúncio e
testemunho que oferece ao mundo, nada pode ser desprovido de misericórdia. A
credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso e compassivo.
Citando
a encíclica Dives in Misericordia de S. João Paulo II, continua o Papa: « A Igreja vive
uma vida autêntica quando professa e proclama a misericórdia, o mais admirável
atributo do Criador e do Redentor, e quando aproxima os homens das fontes da
misericórdia d
o Salvador, das quais ela é depositária e dispensadora».
Por isso, onde a Igreja estiver
presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai. Nas nossas
paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos – em suma, onde
houver cristãos –, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de
misericórdia. (Cf Bula O Rosto da Misericórdia nn. 10 ss)
3 – Acolher, cultivar e testemunhar
Para
que estas palavras se tornem realidade nas nossas paróquias e na nossa diocese procure cada um acolher a misericórdia,
cultivar a misericórdia sobretudo na igreja e na família, e dar testemunho da
misericórdia.
Convertamo-nos à misericórdia de Deus que nos
revela a nossa miséria, nos põe na humildade e nos mostra a necessidade
absoluta de sermos salvos desta ilusão hoje tão propagada de que não precisamos
d’Ele para ser felizes. Reconciliemo-nos com Deus confessando os nossos pecados
e recebendo o Seu perdão no Sacramento da Reconciliação.
Cultivemos no seio de cada comunidade cristã a
misericórdia pois não tem condições para se desenvolver fora dela. A ácida
atmosfera do mundo em que vivemos é adversa à cultura da misericórdia, mas o
mundo precisa dos seus frutos para subsistir. A árvore da misericórdia dá
frutos na terra, mas tem no céu as suas raízes e alimenta-se do Espírito que
nos é dado gratuitamente por Jesus Cristo. A Igreja é a estufa, o ambiente propício
onde esta frágil planta pode desenvolver-se, florescer e frutificar. É nela que
recebemos o Espírito Santo e aprendemos a não julgar, a perdoar, a orar em
comum, a praticar a correção fraterna. É em comunidade que aprendemos a ser
solícitos pelo bem dos outros, aceitando-os como são, ajudando-os e
servindo-os, esquecendo-nos de nós mesmos, é lá que aprendemos a amar os
inimigos e a dar a própria vida imitando o Senhor Jesus.
Convidamos-vos
a aprender de cor e a praticar as catorze obras de misericórdia, corporais e
espirituais. As corporais são: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a
quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, assistir aos
enfermos, visitar os presos, sepultar os mortos. E as espirituais são estas:
dar bom conselho, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os
tristes, perdoar as injúrias, sofrer com paciência as fraquezas do próximo,
rogar a Deus por vivos e defuntos. Podemos resumi-las em catorze verbos:
alimentar, dessedentar, agasalhar, albergar, curar, visitar e sepultar;
aconselhar, ensinar, corrigir, consolar, perdoar, suportar e orar.
Testemunhemos
a misericórdia! Ao longo dos tempos, conforme as circunstâncias, para além da
prática individual e discreta que só Deus conhece, os cristãos encontraram formas
organizadas e públicas de praticar as obras de misericórdia. Desde o século XVI
as Santas Casas da Misericórdia, fundadas por todo o lado em Portugal,
tornaram-se expressões eficientes da caridade cristã para com os necessitados.
E agora, quanta assistência se faz nos Centros Sociais e em muitas instituições
cristãs de solidariedade cujo único objetivo é fazer o bem a quem precisa,
dentro e fora da Igreja, em Portugal e no mundo! Quantos Institutos e
Congregações Religiosas, quantas organizações da Igreja Católica auxiliam os
pobres e necessitados e são, em todo o mundo, sinais da misericórdia de Deus e
da solicitude da Mãe Igreja para com os pobres? Hoje, entre nós, talvez não
seja preciso multiplicar as Instituições que se dedicam à prática da Caridade,
mas é necessário que sejam revitalizadas pela seiva do Espírito, para que a sua
ação não fique reduzida a mero altruísmo. É por amor a Cristo presente nos
pobres e necessitados que nós cristãos praticamos as obras de misericórdia. Sem
isso, seríamos erradamente louvados pelos homens que, ao ver as nossas boas
obras, devem glorificar o Pai que está nos céus, e não a nós.
4. Peregrinações do Ano Jubilar
Vivamos
os breves meses deste Ano Jubilar em conversão sincera. Façamos uma
peregrinação jubilar e atravessemos a Porta da Misericórdia para recebermos o
dom da indulgência plenária, importantíssima não apenas para nos fazer
progredir na comunhão com o Senhor, mas também para edificar a comunhão nas
nossas comunidades cristãs.
Para
recebermos a graça da indulgência plenária que nos liberta de qualquer resíduo
das consequências do pecado e nos habilita para agirmos com caridade,
cultivando a comunhão fraterna, além de uma confissão bem-feita, detestando o
pecado e com firme propósito de emenda e de participar na Eucaristia e comungar
sacramentalmente, é necessário também proclamar o Credo e rezar pelas intenções
do Papa.
Para
além da abertura solene da Porta da Misericórdia no domingo dia 13 de dezembro
e da dedicação do novo altar da Sé, celebração duplamente importante para a
qual todos estão convidados, apresentamos-vos o programa das peregrinações
jubilares dos diversos arciprestados da diocese à nossa catedral: Odemira, em
21 de Fevereiro; Almodôvar, em 28 de Fevereiro; Moura, em 6 de Março; Beja, em
13 de Março; Santiago do Cacém, em 3 de Abril e Cuba, em 17 de Abril.
Além
destas, estão programadas também outras peregrinações que vos anunciamos desde
já: encerramento do Ano da Vida Consagrada em 30 de janeiro; Forum Jovem em 19
de março, e Jubileu dos Diáconos em 29 de maio. Outras ainda serão anunciadas
oportunamente.
Lembramos
a Peregrinação Diocesana ao Santuário de Fátima em 25 e 26 de Junho, (Jubileu
Mariano), na qual confiaremos a Nossa Senhora as conclusões do Sínodo
Diocesano.
Os párocos terão o cuidado de preparar
convenientemente estas peregrinações, para que os fiéis possam receber
abundantemente as graças deste jubileu.
A
Virgem Santa Maria, Mãe de misericórdia, que na sua imagem peregrina nos está
visitando como que a preparar-nos para o início do Ano Jubilar, interceda por
todos nós e abençoe as famílias, as paróquias e todas as comunidades da nossa
diocese.
† António Vitalino e † J. Marcos
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