Missionário no país fala da guerra e denuncia cumplicidades que a França e a ONU gostariam de manter escondidas do papa
Roma,
19 de Novembro de 2015
(ZENIT.org)
Federico Cenci
Guerras civis que se repetem sistematicamente, represálias que
fazem numerosas vítimas, cerca de 900.000 pessoas deslocadas numa
população de 4,5 milhões de habitantes. Enquanto os olhos do mundo ainda
estão fixos em Paris, a República Centro-Africana sofre e morre em
silêncio.
O país foi escolhido pelo papa Francisco, no entanto, para receber a
sua próxima visita, que representa para seus habitantes "um sopro de
esperança" segundo a voz firme do pe. Mauro Milani, da ordem dos Cónegos
Regulares Lateranenses (CRL), missionário na África Central há oito
anos. Ele voltou para a Itália há algumas semanas porque acabou o prazo
de custódia dessa missão aos CRL, mas deixou na África um pedaço do seu
coração. Ele trabalhava junto com o pe. Sandro Canton na paróquia de
Safa, que faz parte da diocese de Mbaiki.
Àquela região só chegou o eco das guerras que assolam a capital, Bangui, mas foi suficiente para deixar a atmosfera tensa e suscitar alguns surtos de violência. O pe. Mauro lembra que, em janeiro de 2014, após a renúncia do presidente Michel Djotodia, "um grupo de jovens roubou as ovelhas de um coronel ligado ao governo. Ele se vingou mandando queimar trinta casas e matando quatro pessoas".
Os efeitos desse episódio duraram um mês. A população de Safa teve de fugir para a floresta e, embora até então nunca tivesse havido nenhum problema interconfessional, "uma comunidade muçulmana permaneceu barricada não muito longe da aldeia, protegida pelos capacetes azuis da ONU".
"Infelizmente, tornou-se uma guerra de religião porque o conflito atualmente opõe os muçulmanos (do grupo Seleka, cujo líder é Djotodia) a todos os não muçulmanos". Como acontece tantas vezes nesses casos, "usa-se o pretexto religioso e tribal para disfarçar interesses políticos, de poder, de controle dos recursos...".
As milícias que se opõem ao grupo rebelde Seleka são chamadas de "cristãs" pela imprensa, "embora tenham bem pouco de cristão e a Igreja tenha sempre se dissociado energicamente da sua violência". O pe. Mauro reflete: "Esta manipulação da media atende aos interesses de alguém".
Esse alguém quer mergulhar a África Central no caos "para continuar controlando os seus recursos", denuncia ele, referindo-se a atores externos. A França mantém no país a missão militar Sangaris, apesar de que a época colonial terminou oficialmente em 1960. Foi justamente o Ministério francês da Defesa que informou aos serviços de segurança do papa, dez dias atrás, que a sua visita à Rep. Centro-Africana é “de alto risco”, tentando persuadi-los a cancelar a viagem.
O pe. Mauro considera que a violência dos últimos meses "pode ter sido causada de propósito para dissuadir o papa de ir à República Centro-Africana". O missionário observou "certa passividade das forças de paz da ONU e do exército francês diante dos novos confrontos que eclodiram em setembro".
Além disso, se o papa visitar a África Central, "ele vai trazer à tona a grave situação de um país que hoje está escondido da opinião pública mundial"; ele vai trazer à tona "a falta de responsabilidade da França, que, desde sempre, está ligada a cada agitação política que afeta a República Centro-Africana".
O missionário fala da primeira imagem que o papa Francisco verá em 29 de novembro ao lado do aeroporto de Bangui: "uma enorme favela sem serviços", cartão de visita de um país "cheio de desolação e desprovido de quaisquer sinais de recuperação".
Mas um primeiro sinal pode vir justamente da chegada do papa e esta é uma certeza do povo do país. "Conversando com as pessoas, ouvindo o rádio, você percebe que há uma grande expectativa em torno desta visita", diz o padre Mauro. Ele espera que o bispo de Roma "viste um campo de refugiados, vá à paróquia de Fátima, atingida em maio de 2014 por um violento ataque armado, vá também à mesquita central de Bangui...".
A esperança do pe. Mauro, em suma, é que a autoridade espiritual do papa alivie os sofrimentos da República Centro-Africana e denunciar ao mundo os seus responsáveis. O que para ele é uma esperança, no entanto, é uma preocupação para alguns outros. Por este motivo, conclui o missionário, "eles realmente não temem pela segurança do papa, mas pela revelação desta situação desastrosa, cheia de cumplicidade".
Àquela região só chegou o eco das guerras que assolam a capital, Bangui, mas foi suficiente para deixar a atmosfera tensa e suscitar alguns surtos de violência. O pe. Mauro lembra que, em janeiro de 2014, após a renúncia do presidente Michel Djotodia, "um grupo de jovens roubou as ovelhas de um coronel ligado ao governo. Ele se vingou mandando queimar trinta casas e matando quatro pessoas".
Os efeitos desse episódio duraram um mês. A população de Safa teve de fugir para a floresta e, embora até então nunca tivesse havido nenhum problema interconfessional, "uma comunidade muçulmana permaneceu barricada não muito longe da aldeia, protegida pelos capacetes azuis da ONU".
"Infelizmente, tornou-se uma guerra de religião porque o conflito atualmente opõe os muçulmanos (do grupo Seleka, cujo líder é Djotodia) a todos os não muçulmanos". Como acontece tantas vezes nesses casos, "usa-se o pretexto religioso e tribal para disfarçar interesses políticos, de poder, de controle dos recursos...".
As milícias que se opõem ao grupo rebelde Seleka são chamadas de "cristãs" pela imprensa, "embora tenham bem pouco de cristão e a Igreja tenha sempre se dissociado energicamente da sua violência". O pe. Mauro reflete: "Esta manipulação da media atende aos interesses de alguém".
Esse alguém quer mergulhar a África Central no caos "para continuar controlando os seus recursos", denuncia ele, referindo-se a atores externos. A França mantém no país a missão militar Sangaris, apesar de que a época colonial terminou oficialmente em 1960. Foi justamente o Ministério francês da Defesa que informou aos serviços de segurança do papa, dez dias atrás, que a sua visita à Rep. Centro-Africana é “de alto risco”, tentando persuadi-los a cancelar a viagem.
O pe. Mauro considera que a violência dos últimos meses "pode ter sido causada de propósito para dissuadir o papa de ir à República Centro-Africana". O missionário observou "certa passividade das forças de paz da ONU e do exército francês diante dos novos confrontos que eclodiram em setembro".
Além disso, se o papa visitar a África Central, "ele vai trazer à tona a grave situação de um país que hoje está escondido da opinião pública mundial"; ele vai trazer à tona "a falta de responsabilidade da França, que, desde sempre, está ligada a cada agitação política que afeta a República Centro-Africana".
O missionário fala da primeira imagem que o papa Francisco verá em 29 de novembro ao lado do aeroporto de Bangui: "uma enorme favela sem serviços", cartão de visita de um país "cheio de desolação e desprovido de quaisquer sinais de recuperação".
Mas um primeiro sinal pode vir justamente da chegada do papa e esta é uma certeza do povo do país. "Conversando com as pessoas, ouvindo o rádio, você percebe que há uma grande expectativa em torno desta visita", diz o padre Mauro. Ele espera que o bispo de Roma "viste um campo de refugiados, vá à paróquia de Fátima, atingida em maio de 2014 por um violento ataque armado, vá também à mesquita central de Bangui...".
A esperança do pe. Mauro, em suma, é que a autoridade espiritual do papa alivie os sofrimentos da República Centro-Africana e denunciar ao mundo os seus responsáveis. O que para ele é uma esperança, no entanto, é uma preocupação para alguns outros. Por este motivo, conclui o missionário, "eles realmente não temem pela segurança do papa, mas pela revelação desta situação desastrosa, cheia de cumplicidade".
(19 de Novembro de 2015) © Innovative Media Inc.
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