Alberto
Negri, correspondente de longa data do Oriente Médio, volta sobre os
massacres de Paris e acredita que a única maneira de destruir o Isis
seja redesenhando o quadro de alianças internacionais
Roma,
18 de Novembro de 2015
(ZENIT.org)
Federico Cenci
As ruas de Paris, ainda molhadas com o sangue dos inocentes mortos
na sexta-feira passada, continuam a ser pulverizadas com as lágrimas de
todo o mundo. Os massacres que atingiram a capital francesa abalaram os
corações. Mas também levantaram dúvidas sobre a eficácia dos meios de
dissuasão adotados até agora pelos Países ocidentais para combater o
terrorismo, bem como das intrincadas relações diplomáticas que revelam
apoios insuspeitos com relação ao Califado.
Alberto Negri, jornalista de Il Sole 24 Ore com uma longa experiência
como correspondente no Oriente Médio, não hesita em chamar os massacres
de Paris de “a ressaca” dos conflitos na Síria e no Iraque, cozidos com
“traições e oportunismos pelos seus protagonistas”. Entrevistado por
ZENIT, Negri identifica no presidente turco, Tayyip Erdogan, o "príncipe
da ambiguidade" com relação ao Isis. Um príncipe rodeado, porém, de uma
corte fiel de Estados ocidentais.
Rebobinando a fita da recente história do Isis, Negri recorda como em
2011, "milhares de jihadistas foram feitos passar pela Turquia para
lutarem na Síria contra Assad”. De acordo com o correspondente no
Oriente Médio, Erdogan sempre serviu-se do Isis para dois objetivos:
"derrubar o regime sírio” preenchendo depois o vazio de poder deixado em
Damasco e “impedir que os curdos constituam uma região independente nas
fronteiras do Curdistão iraquiano".
Uma operação que aconteceu com o consentimento "não só dos EUA, mas
também da própria França”. E enquanto estes fanáticos pela morte
infestavam a Síria, a media ocidental – recorda Negri – “muitas vezes e
conscientemente pintavam a oposição a Assad como uma força moderada,
que, na verdade, sempre foi inexistente”.
Portanto, se a bandeira negra do Isis conseguiu plantar-se também no
coração da Europa através de ataques devastadores, a causa deva ser
buscada – observa Negri – também “na cumplicidade ocidental”. E no papel
desempenhado pela Arábia Saudita, que nos últimos anos não recebeu
condenações da França pelo seu apoio àqueles que hoje atacaram Paris,
mas sim “aeronaves e centrais nucleares”. O enviado do Il Sole 24 Ore
define a guerra na Síria “um conflito por procuração ao Irão xiita
promovido pelas potências ocidentais e as monarquias sunitas do Golfo
Pérsico."
A este respeito, a análise de Negri é muito precisa. Ele lembra que
"o ponto de viragem foram as negociações nucleares com Teerão, que
alimentaram ainda mais as preocupações das monarquias do Golfo pela
influência iraniana”. Segundo o repórter, “mais se aproxima um acordo e
maiores se tornam as ofensivas do Isis”. Os EUA, no entanto, fazem uma
coligação internacional para combater os terroristas, “que, porém, se
mostra ineficaz”. A tese de Negri é que “o Califato era conveniente como
meio de pressão para persuadir Teerão a chegar a um acordo."
Financiar o terrorismo para o proveito próprio é um costume que tem
raízes antigas. Negri recorda que há "trinta anos que estamos reféns dos
jihadistas, desde quando os Estados Unidos decidiram usar os Talibães
contra a União Soviética no Afeganistão".
Mas o sangue derramado em Paris servirá para pôr fim a essas ambiguidades? De acordo com Negri, a resposta está nas ações que serão
tomadas no curto prazo. "Se a reação se esgotar com os ataques aéreos,
como começou a fazer a França, significa que não se quer ir além de uma
mera expedição punitiva contra o Isis", explica. "Se, pelo contrário -
continua – se deseja realmente derrubar o Califato, é necessário
comprometer-se para formar uma coligação internacional de caráter
militar, com tropas de terra, que possam apoiar quem já está combatendo
contra o Califato...”.
Negri refere-se aos Guardas Revolucionários Iranianos, aos Hezbollah
libaneses, aos curdos, ao exército sírio e também à Rússia. Formar uma
coligação com estes atores, porém, significaria para os ocidentais
redesenhar o próprio quadro de alianças. “As monarquias do Golfo têm
importantes alavancas financeiras sobre o mundo ocidental, que vão desde
investimentos em armas, passando pelo petróleo”, destaca Negri que
acrescenta: “É, portanto, indispensável revisar certas relações para
desencorajar os Países do Golfo de financiarem os grupos radicais
islâmicos”. Esse é o caminho a ser seguido, se, além de expressar
solidariedade e expor bandeiras de meio mastro, se quer, realmente,
parar na fonte o terrorismo islâmico.
(18 de Novembro de 2015) © Innovative Media Inc.
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