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quarta-feira, 11 de junho de 2014

«Cresci debaixo de um bombardeio de ateísmo e marxismo-leninismo»: procurou o infinito e encontrou Cristo

Bujar Tripa, engenheiro na Albânia comunista

O Partido Comunista Albanês - o PPSH - foi o mais militantemente
ateu dos partidos comunistas
Actualizado 5 de Maio de 2014

P.J.G./ReL

Durante os seus primeiros 35 anos de vida, o jovem Bujar Tripa viveu e formou-se no país mais ferreamente ateu da Europa, a Albânia comunista governada por Enver Hoxha, o único país do mundo que oficialmente declarou o ateísmo como ideologia orientadora do Estado.

A sua família, como a maioria dos albaneses, era de tradição muçulmana, mas nenhuma fé podia pregar-se nem transmitir-se de pais para filhos sem grande perigo.

Bujar via os seus avôs rezar, sempre escondidos, com o “tespie” na mão, o rosário muçulmano que repassa os nomes de Alá.

Também os via prostrar-se na oração várias vezes ao dia. Sempre às escondidas, sempre sem fazer ruído, sem que o soubessem os vizinhos.

Do cristianismo, não sabia nada. Recordava que na sua mais tenra infância tinha havido uma festa onde as pessoas se ofereciam postais de cores fascinantes, com desenhos de personagens santos e felicitações. E alguma vez os seus avôs falaram-lhe de Jesus, um profeta anterior a Maomé. E já está.

Essa era a sua formação religiosa.

“Como todos os da minha geração, cresci debaixo de um bombardeio de lições de marxismo-leninismo e ateísmo, primeiro no instituto, depois na universidade, seguidas por obrigação más que por convicção”, recorda Bujar no livro “Convertidos vindos do Islão” (Editorial Libros Libres).

“A única referência ideal que se nos propunha era o partido, uma entidade sem rosto”, e isso deixava um buraco.

No lugar de Deus, às vezes não basta um
partido "sem rosto"; o ditador Enver Hoxha
deu esse rosto e ocupou esse lugar de Deus, pai,
guia, etc... Para muitos... Alguns anciãos ainda
o veneram
“Ficava sem resposta a pergunta sobre o sentido da existência, esse Deus negado pelos livros de texto e pelos professores mas que, periodicamente, se assomava à vida como uma possibilidade remota e, ao mesmo tempo, fascinante, a ter em conta”.

Bujar foi um estudante modelo, primeiro no liceu Sami Frasheri de Tirana, depois na universidade, onde se licenciou como engenheiro.

Mas a ideia de que a vida se reduz à matéria, a fórmulas físicas e químicas, que a morte acaba com tudo… Parecia-lhe inaceitável.

“Eu procurava razões fortes sobre as quais fundar a existência. Nas minhas crises existenciais desses anos recordo a vontade de crer em algo infinito, algo que, ao mesmo tempo, se pudesse experimentar na vida quotidiana, pelo menos um pouco”.

Aos 28 anos teve a sua primeira experiência de liberdade: uma bolsa de estudo temporária em Paris em 1984.

Na França pode tratar pela primeira vez com cristãos que falassem e vivessem em liberdade. E começou a conhecer algo de Jesus, as afirmações assombrosas que faziam sobre este homem que para o Islão era um profeta.

Que, para os cristãos, era verdadeiro Deus, feito verdadeiro Homem.


Que é possível tratar com Ele pessoalmente, na Igreja.
 

Que inclusive se o pode comer no ritual da missa!

Passaram 7 anos e o mundo deu a volta. Afundou-se o Muro de Berlim em 1989.

Os albaneses derrubam a colossal estátua do ditador
Hoxha no centro da capital
Em 1991 a Albânia ainda tentava alargar a sua condição de regime ateu e comunista, o último na Europa do Este, mas já cambaleava, e Bujar, como milhares de albaneses técnicos, tinha fugido para Itália. Não tinha casa, trabalhava de operário, tardaria em ordenar os seus papéis… Mas visitava as formosas igrejas italianas e fazia-se perguntas sobre o Homem-Deus, o Deus com rosto humano, um rosto dorido debaixo uma coroa de espinhos, diferente do Deus invisível e longínquo dos seus avôs muçulmanos.

Conheceu em pessoa o bispo de Rieti, localidade a 90 quilómetros de Roma, que se interessou por Bujar e a sua procura espiritual. A paróquia do povoado de Antrodoco acolheu-o.
Começou a ler com avidez sobre a fé cristã.

E depois conheceu o Movimento dos Focolares (www.focolare.org/es/), presente na diocese desde há muitos anos.

“Fascinava-me a forma como se olhavam e tratavam. Pelos seus testemunhos, mais que pelas páginas dos livros, comecei a compreender que quer dizer que Jesus Cristo está presente nos homens e na Igreja”.

Em 1986, dois anos depois da sua bolsa de estudo em Paris, Bujar tinha-se casado na Albânia com Iris, uma rapariga de família de tradição muçulmana que também tinha passado um tempo como universitária em Itália e se tinha feito perguntas sobre o cristianismo, que via na sua anciã caseira. Desde esse tempo, Iris se tinha feito “a pergunta sobre Jesus”. E reflectia também sobre o papel da mulher na cultura cristã, muito mais aberto.

Acompanhados por famílias do Movimento dos Focolares, Iris e Bujar deram o grande passo: na noite de Páscoa de 1995, das mãos do bispo de Rieti, Giuseppe Molinari, ambos receberam 4 sacramentos seguidos: baptismo, comunhão, confirmação e matrimónio. Também as suas duas filhas foram baptizadas.

Nascia assim “do Alto” uma nova família cristã, integrada em “Famílias Novas”, o ramo de famílias dos Focolares, e voltada para a colaboração nas suas actividades de caridade e solidariedade, porque nela, disse Bujar, “podes tocar com a mão que Deus se fez companheiro da tua vida”.


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