Celebra-se no dia 1 de Outubro de
2018 o Dia Internacional do Idoso, instituído pelas Nações Unidas em 1991, com
o objetivo de sensibilizar a sociedade para as questões relativas ao
envelhecimento, bem como para a necessidade de proteger e prestar cuidados de
saúde adequados às necessidades específicas da população mais idosa.
Encontramo-nos igualmente a celebrar o aniversário dos 70 anos da adoção da Declaração
Universal dos Direitos Humanos que permanece relevante e importante. Ligando
estes dois acontecimentos e no sentido de se comemorar o aniversário do Dia
Internacional do Idoso, cujo lema escolhido para este ano se denominou: “Os
Campeões dos Direitos Humanos dos Mais Velhos”, pretendendo dar visibilidade às
pessoas de mais idade que pelo mundo fora dedicam a sua vida enquanto campeãs
na defesa dos direitos humanos. Os campeões mais velhos dos direitos humanos
nasceram por ocasião da adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos proclamada
pela Assembleia Geral da Nações Unidas em Paris, a 10 de Dezembro de 1948. Esta
celebração promove a visibilidade dos mais idosos enquanto membros ativos da
sociedade empenhados na melhoria e no gozo dos direitos humanos em muitas áreas
da vida… As pessoas idosas cada vez mais são reconhecidas como defensoras dos seus
direitos e de uma plena participação na sociedade. O Dia Internacional do Idoso
concede uma oportunidade ideal para o fazer, consciencializando-nos sobre o
preconceito e a discriminação relativa à idade que os idosos enfrentam.
Há alguns dias chegou a Lisboa,
oriunda do Rio de Janeiro, uma amiga brasileira que se interessa pelas estas questões
dos mais idosos, entre outros temas relevantes, nomeadamente a narrativa e a
poesia. Convidou-me para participar no V Encontro dos Poetas da Língua
Portuguesa comemorativo do Vº aniversário da EPLP, em que era lançada a
Antologia “A Poesia do Fado e dos Tambores”, que teve lugar no Palácio Foz, na
Biblioteca do Museu Nacional do Desporto. Aceitei o convite de bom grado. Na verdade
foi muito interessante, diria mesmo comovedor, poder estar entre poetas jovens
e menos jovens de Portugal, do Brasil, de Angola, de Moçambique, de Cabo Verde
e da Guiné, num ambiente acolhedor e envolvente, com boa disposição, de
aceitação e de integração de cada novo colega, oriundo dos países da lusofonia.
Cada poeta presente colaborou na edição desta antologia e, no evento, cada um
era apresentado e posteriormente declamava os seus poemas. No final houve um
Porto de Honra precedido do canto do fado “Foi Deus” e de algumas canções e
danças alusivas a cada País da Lusofonia representado, bem alegres por sinal,
num ambiente descontraído e informal em que se celebra a poesia, a lusofonia, a
evolução dos tempos.
Mais tarde teria a oportunidade
de confraternizar um pouco com esta minha amiga da área dos idosos no Brasil,
com todo um trabalho reconhecido. Ofereceu-me uma cartilha, promovida pela
Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos e
pela Secretaria de Políticas Para Idosos, “Estatuto do Idoso”, que refere na
sua apresentação: “O Estatuto do Idoso garante uma boa qualidade de vida e um
envelhecimento ativo às pessoas com mais de 60 anos. Com certeza este estatuto
é uma das principais conquistas da pessoa idosa, pois estas leis promovem a
inclusão social e asseguram os direitos desta população. Com o crescimento da
longevidade da população brasileira é preciso formular políticas públicas que
garantam a plena vivência nessa faixa etária.” É bom sabermos o que está a ser promovido
a nível internacional, pois é nesta partilha de saberes e conhecimentos, que nos
vamos enriquecendo. Antes de concluir o nosso encontro, a minha amiga
surpreendeu-me com a entrega de um texto sobre a amizade, que simbolizava segundo
ela a “receita” da amizade e que passo a citar: “Meus amigos são todos assim:
metade loucura, metade santidade. Escolho-os não pela pele, mas pela pupila,
que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. Escolho meus
amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo,
quero também a sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer
junto…” Gostei imenso da ideia e claro do poema. Despedimo-nos com um até
sempre, talvez até ao próximo ano, aquando da realização do VI Encontro de Poetas
da Língua Portuguesa que usa como lema a frase: “Somos Um Só Verso”.
Por esta ocasião os leitores já
devem estar a questionar sobre o título deste artigo. Mas não, não me esqueci,
foi intencional. Prende-se com as relações intergeracionais mais complicadas,
que causam sofrimento humano, que senti que deveria dar algum destaque enquanto
consciencialização e contributo para a celebração do Dia Internacional do
Idoso. Chamar a atenção para uma das muitas situações que vivenciam os mais
idosos, algumas vezes sentindo-se mais sós, mais isolados, sofrendo de alguma
patologia, de abandono, de violência, de privação do contacto familiar…Também
quero enaltecer o muito amor dedicado, o maior cuidado e compreensão, amizade,
solidariedade…
Duas amigas comentaram-me o seu
sofrimento relativamente ao impedimento de privar com os netos, já que não lhes
era permitido, a uma ver a sua neta de quem gostava imenso e cujo amor era
reciproco. Em desespero de causa foi vê-la à escola por entre as grades. Uma empregada
viu-a e foi chamar a neta que veio a correr. Deram um beijo através das grades
da escola, tendo posteriormente partido em silêncio, com uma lágrima a cair
pela face. A outra, por motivos de saúde e familiares não consegue encontrar-se
com os netos que gostam imenso da avó e que sofre com a sua ausência. Até
quando não se dá um enfoque especial e se valorizam mais as relações
intergeracionais, promovendo ações de sensibilização sobre não digo sobre os
direitos, porque esses existem e estão consagrados, mas mais informação sobre o
malefício que provoca para os avós/netos este afastamento devido a querelas
familiares que importa ultrapassar defendendo o interesse superior dos avós e
das crianças.
Termino com outro exemplo que
muito me comoveu pela positiva. Um amigo cuidou da sua mãe até ao último
momento. Não a deixou ir para um lar. Muitas vezes durante a noite e durante
muito tempo levantava-se para ver se estava tudo bem, quando a mãe adoeceu
gravemente. Vi-o com um ar exausto. Questionei porque não arranjava uma
alternativa, um apoio. A sua resposta foi: “A minha mãe cuidou de mim quando eu
era pequeno, agora sou eu que retribuo, e é pouco”.
Maria Helena Paes |
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