Hoje ao sair para fazer umas
compras, quando me encontrava na caixa a fazer o pagamento fui confrontada com
uma história singular que passo a referir. Ao meu lado surgiu um senhor já com
alguma idade, com um ar envergonhado e receoso. Questionou a funcionária como
se chamava um rapaz empregado do supermercado que se encontrava a organizar
umas prateleiras e o local onde morava. Algo admirada a funcionária perguntou
qual era o motivo, porque colocava esta questão. O idoso ficou algo indeciso
sem querer adiantar muito mais. Perante o silêncio da empregada, acrescentou
que parecia que o conhecia. Depois virou-se para mim e confidenciou. “Sabe,
minha senhora, parece o meu neto, que não vejo há muitos anos”. De imediato
senti o meu coração estremecer. Tornava-se necessário esclarecer a situação.
Enquanto cliente habitual, conhecia o rapaz em questão. Perguntei ao senhor
qual era o nome do neto. Com um sorriso nos lábios referiu o seu nome. Posto
isto, chamei o funcionário em causa pelo nome referido. Admirado voltou-se para
mim. Pedi-lhe para se aproximar e questionei em que zona morava. Muito admirado
mesmo respondeu afirmativamente à minha solicitação. De repente sai de trás de
mim o idoso. O funcionário olhou e exclamou admirado e enternecido “Avô”!
Seguiu-se um abraço comovedor de fazer chorar as pedras da calçada à pessoa
mais insensível. Miríades de anjos e de santos batiam as palmas no Céu perante
esta reaproximação cheia de doçura. Que lindo mesmo. Tocavam mesmo uma música
celestial. Reparei que todas as pessoas das diferentes caixas sorriam muito
enternecidas com aquele abraço de amor e de saudade entre o avô e o neto. O avô
agradeceu-me todo o apoio e sem querer aprofundar mais sobre a história que
tinha motivado esta separação, deixei o supermercado. Já tinha cumprido a minha
missão, ou seja, promover a comunicação, o resto a Deus pertence. Este Deus que
se serve das pessoas para trazer a alegria de volta às suas vidas. Sou sensível
ao afastamento das pessoas, às vezes por razões insignificantes, em detrimento
de um convívio são e afetuoso, tendo em vista a promoção das relações entre
gerações. Quanto sofrimento desnecessário, quanto amor fica por dar e receber, quanto
isolamento e solidão devido a este facto. Torna-se necessário perdoar e
esquecer em prol de um bem maior, a reunificação das famílias. S. João Paulo II
escreveu: “A pior prisão é um coração fechado”. Bem basta, quando por motivos
que se prendem com as diferentes guerras, revoluções, atentados, catástrofes, migrações,
entre outros, essa separação existe por força das circunstâncias. Por esse motivo
ser semeador de paz, promover a comunicação e o entendimento entre as partes em
conflito, se torna cada vez mais necessário em prol de um Bem maior, da
promoção dos valores, (sendo que é na família o local onde se aprende em primeiro
lugar os valores que nos irão orientar bem como as regras, a solidariedade, a
dignidade do ser humano, a educação, a necessidade do bem-estar social).
Regressando a S. João Paulo II: “Que os homens aprendam a lutar pela justiça
sem violência, renunciando tanto à luta de classes, nas controvérsias internas,
como às guerras internacionais. Não há verdadeira paz, a não ser a que vem
acompanhada de equidade, verdade, justiça e solidariedade. A violência é um mal
inaceitável que jamais resolve conflitos, nem diminui as suas consequências
dramáticas”.
Deixei de parte estas minhas
considerações já que me tinha proposto assistir a uma missa em que se celebrava
um jubileu sacerdotal. Que melhor forma de comunicação poderia encontrar.
Cinquenta anos ao serviço do próximo em prol da paz, da ajuda desinteressada ao
próximo, constituindo assim um caminho de verdadeira dedicação aos outros,
perdoando sempre com o pensamento de que não sabem o que fazem. Na verdade,
vemos no sacerdote o médico, o mestre, um pai, alguém que correspondeu a um
chamamento de Deus para estar ao serviço das almas, passando despercebido. Certamente
terá sido chamado na hora oportuna, talvez no seio de uma família, a estudar… E
Deus foi-lhe dando luzes às quais soube corresponder. Prova disso é
encontrarmo-nos a celebrar o jubileu sacerdotal, muito agradecidos por tudo o
que nos tem dado ao longo dos anos, pelas bênçãos e graças de Deus que nos
trouxe. Na pagela distribuída constava: “O sacerdote é chamado por Deus para
oferecer os trabalhos, dores e alegrias dos homens”. (cf. Heb 5,1-4).
Termino este artigo enfatizando
que o sacerdote faz as pontes entre a Terra e Deus, faz a ligação com o Céu, ou
seja, num sentido mais amplo promove a comunicação. A nossa Mãe, Santa Maria, a
mais santa das criaturas, Rainha dos Sacerdotes, coroada com as doze estrelas, “trouxe
Jesus ao mundo. Os sacerdotes trazem-no à nossa terra, ao nosso corpo e à nossa
alma todos os dias”. (S. Josemaria).
Maria Helena Paes |
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