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sábado, 15 de setembro de 2018

Proponhamos que se fechem as universidades

A Assembleia da República aprovou a lei que permite a mudança da identidade de género a partir dos 16 anos e que impede a atuação da medicina nos bebés que nascem com qualquer espécie de dimorfismo sexual, nas circunstâncias explícitas nessa mesma lei.
É demasiado grave para a sociedade portuguesa e para os indivíduos em particular que esta lei possa vir a ser promulgada.
Quanto ao atestado médico ou psicológico, nos termos em que é exigido para os jovens dos 16 aos 18 anos, facilitará aquilo que a nossa ingenuidade não deve pretender encobrir: para quantos médicos e psicólogos que não tenham escrúpulos, esta será mais uma maneira fácil de ganhar dinheiro. Para que não se pense que isto possa ser um exagero, há de facto precedentes. Lembro-me que logo a seguir à aprovação da lei do aborto em Portugal, num hospital em que a maioria dos ginecólogos/obstetras eram objetores de consciência, vinham médicos de fora fazer os abortos, recebendo um pagamento por hora bastante superior aos colegas do quadro do hospital que todos os dias ali davam o seu trabalho para tornar os nascimentos dos bebés um êxito para as mães e nascituros (injustiças do Estado pagas com o dinheiro dos contribuintes!… Ironias da vida a favorecer os oportunistas!).
Esta lei agora aprovada leva-nos também a pensar que estamos perante um total absurdo legal: a lei não permite a decisão, ou seja, o voto, em eleições a menores de 18 anos e permite a decisão a esses mesmos em matérias em nada menos graves!
Além disto, há de facto um desrespeito total por parte dos deputados da Assembleia da República em relação ao pronunciamento avalisado de entidades médicas e psiquiátricas, que de direito se manifestaram sobre estes assuntos estudados e concernentes à Medicina. Se estes pareceres são assim ignorados, seria o caso de pensar mandar fechar as faculdades de biologia, medicina e afins, pois as ideologias pretendem impor-se aos conhecimentos científicos médicos e até condicionar o seu avanço!
Na continuação do referido acima, mostra-se uma tirania a proibição de intervir cirurgicamente nos bebés que apresentem algum tipo de dimorfismo sexual. Hoje, a biologia molecular permite através do estudo do ADN verificar qual é o sexo que o bebé traz inscrito em todas as suas células e corrigir de acordo com isso qualquer anomalia que se expresse fisicamente. Da mesma maneira, a medicina hormonal está cada vez mais desenvolvida para poder corrigir os casos em que as células das pessoas tenham dificuldade em produzir as hormonas necessárias e próprias em quantidade suficiente. Será que em casos semelhantes, que já aconteceram na história da humanidade, em que um bebé nasce com duas cabeças ou nascem dois bebés siameses, também proporíamos esperar que crescessem assim, sem nenhuma intervenção cirúrgica, até terem idade para escolher se querem permanecer assim ou ser operados?! Com certeza que isso nem nos passaria pela cabeça, pelos inconvenientes e sofrimentos que trariam para essas pessoas.
Não é preciso saber muito de medicina, nem de biologia, nem de bioquímica, para perceber o sofrimento grave de um bebé que tem hormonal e fisicamente dentro de si um “combate” entre dois sexos (como nestes casos de dimorfismo sexual) e que este deve ser resolvido tão rapidamente quanto a ciência tem meios para o fazer.
Pergunto-me realmente se não estará em forte ação, neste momento, em Portugal, uma ditadura de certos lobbies contra os interesses e as convicções da maioria da população. Na minha experiência de vastíssimos relacionamentos diários estou convencida de que esta afirmação não é exagerada.
Que os senhores deputados repensem a sua atitude, que se demitam caso o seu mandato tenha pretensões ideológicas que afrontam a sabedoria, o trabalho e a investigação médica e que a sociedade portuguesa intervenha contra todas as ditaduras ideológicas que um pequeno grupo quer impor a todos, contra a própria evidência científica (para que não tenhamos que mandar fechar algumas das nossas universidades para sermos coerentes com as leis aprovadas!). A bem da Nação e de todos os portugueses!

Fernanda Mendes

Nota: Este texto foi publicado no OBSERVADOR em 29.7.2018, o qual teve a gentileza de autorizar a sua divulgação






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