A Assembleia da República
aprovou a lei que permite a mudança da identidade de género a partir dos 16
anos e que impede a atuação da medicina nos bebés que nascem com qualquer
espécie de dimorfismo sexual, nas circunstâncias explícitas nessa mesma lei.
É demasiado grave para a sociedade portuguesa e para
os indivíduos em particular que esta lei possa vir a ser promulgada.
Quanto ao atestado médico
ou psicológico, nos termos em que é exigido para os jovens dos 16 aos 18 anos,
facilitará aquilo que a nossa ingenuidade não deve pretender encobrir: para
quantos médicos e psicólogos que não tenham escrúpulos, esta será mais uma
maneira fácil de ganhar dinheiro. Para que não se pense que isto possa ser um
exagero, há de facto precedentes. Lembro-me que logo a seguir à aprovação da
lei do aborto em Portugal, num hospital em que a maioria dos
ginecólogos/obstetras eram objetores de consciência, vinham médicos de fora
fazer os abortos, recebendo um pagamento por hora bastante superior aos colegas
do quadro do hospital que todos os dias ali davam o seu trabalho para tornar os
nascimentos dos bebés um êxito para as mães e nascituros (injustiças do Estado
pagas com o dinheiro dos contribuintes!… Ironias da vida a favorecer os oportunistas!).
Esta lei agora aprovada
leva-nos também a pensar que estamos perante um total absurdo legal: a lei não
permite a decisão, ou seja, o voto, em eleições a menores de 18 anos e permite
a decisão a esses mesmos em matérias em nada menos graves!
Além disto, há de facto
um desrespeito total por parte dos deputados da Assembleia da República em
relação ao pronunciamento avalisado de entidades médicas e psiquiátricas, que
de direito se manifestaram sobre estes assuntos estudados e concernentes à Medicina.
Se estes pareceres são assim ignorados, seria o caso de pensar mandar fechar as
faculdades de biologia, medicina e afins, pois as ideologias pretendem impor-se
aos conhecimentos científicos médicos e até condicionar o seu avanço!
Na continuação do referido
acima, mostra-se uma tirania a proibição de intervir cirurgicamente nos bebés
que apresentem algum tipo de dimorfismo sexual. Hoje, a biologia molecular
permite através do estudo do ADN verificar qual é o sexo que o bebé traz
inscrito em todas as suas células e corrigir de acordo com isso qualquer
anomalia que se expresse fisicamente. Da mesma maneira, a medicina hormonal
está cada vez mais desenvolvida para poder corrigir os casos em que as células
das pessoas tenham dificuldade em produzir as hormonas necessárias e próprias
em quantidade suficiente. Será que em casos semelhantes, que já aconteceram na
história da humanidade, em que um bebé nasce com duas cabeças ou nascem dois
bebés siameses, também proporíamos esperar que crescessem assim, sem nenhuma
intervenção cirúrgica, até terem idade para escolher se querem permanecer assim
ou ser operados?! Com certeza que isso nem nos passaria pela cabeça, pelos
inconvenientes e sofrimentos que trariam para essas pessoas.
Não é preciso saber muito
de medicina, nem de biologia, nem de bioquímica, para perceber o sofrimento
grave de um bebé que tem hormonal e fisicamente dentro de si um “combate” entre
dois sexos (como nestes casos de dimorfismo sexual) e que este deve ser
resolvido tão rapidamente quanto a ciência tem meios para o fazer.
Pergunto-me realmente se
não estará em forte ação, neste momento, em Portugal, uma ditadura de certos lobbies
contra os interesses e as convicções da maioria da população. Na minha
experiência de vastíssimos relacionamentos diários estou convencida de que esta
afirmação não é exagerada.
Que os senhores deputados repensem a sua
atitude, que se demitam caso o seu mandato tenha pretensões ideológicas que
afrontam a sabedoria, o trabalho e a investigação médica e que a sociedade portuguesa
intervenha contra todas as ditaduras ideológicas que um pequeno grupo quer
impor a todos, contra a própria evidência científica (para que não tenhamos que
mandar fechar algumas das nossas universidades para sermos coerentes com as
leis aprovadas!). A bem da Nação e de todos os portugueses!
Fernanda Mendes |
Nota:
Este texto foi publicado no OBSERVADOR em 29.7.2018, o qual teve a gentileza de
autorizar a sua divulgação
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