Páginas

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O papa Francisco conversa com o metropolita russo Hilarion

Stefano Caprio, professor do Pontifício Instituto Oriental, explica o encontro e diz que a fraternidade entre imigrantes ortodoxos e católicos favorece o ecumenismo de base


Cidade do Vaticano, 22 de Outubro de 2014 (Zenit.org) Rocio Lancho García


O papa Francisco recebeu na semana passada o presidente do Departamento para as Relações Eclesiásticas Exteriores do Patriarcado de Moscovo, o metropolita Hilarion, que transmitiu ao Santo Padre a saudação do patriarca de Moscovo e de todas as Rússias, Kirill. Por sua vez, o papa enviou as suas saudações ao patriarca.

A reunião dedicou grande atenção à dramática situação na Ucrânia, onde há quase um ano os conflitos tiram milhares de vidas. Em comunicado, o patriarcado informa que o metropolita "falou da situação na Ucrânia oriental, onde três sacerdotes foram assassinados e cerca de cinquenta igrejas foram completa ou parcialmente destruídas".

Também a dramática situação da população cristã no Oriente Médio foi abordada. "As duas partes revelaram a necessidade de acções conjuntas das Igrejas em defesa dos cristãos na região do Oriente Médio", diz o comunicado. A propósito, o metropolita Hilarion informou ao papa sobre as iniciativas da Igreja russa neste campo e lhe agradeceu pelo constante compromisso em favor da paz.

Foram tocados ainda outros aspectos da cooperação católico-ortodoxa. Hilarion expôs os progressos e resultados da XIII Sessão Plenária da Comissão Mista para o Diálogo Teológico Católico-Ortodoxo, que aconteceu de 15 a 22 de setembro em Amã, Jordânia.

O professor do Pontifício Instituto Oriental em Roma, pe. Stefano Caprio, explicou a ZENIT que as relações entre a Igreja católica e o patriarcado de Moscovo "têm sido muito cordiais e sem sombras" neste ano e meio de pontificado de Francisco. "O patriarcado de Moscovo olha com interesse para o primeiro papa não europeu, até porque a Rússia é um país multiétnico e multicontinental, com fiéis dispersos por todo o mundo e com um olhar universal para a missão da Igreja. Os gestos e palavras de Francisco, que mostra querer dar ao serviço petrino uma marca mais de comunhão e ecuménica, não podem deixar de contar com a simpatia de todos os ortodoxos. Hilarion está em Roma com frequência e o diálogo com a Sé Apostólica é construtivo".

Sobre o diálogo entre a Igreja católica e a Igreja ortodoxa russa, o especialista afirmou que "nos últimos dez anos ele superou o fechamento do fim dos anos noventa, voltando a ser mais franco e directo. A Igreja russa pede que todos os cristãos testemunhem juntos a fidelidade aos valores cristãos tradicionais perante os grandes desafios do mundo contemporâneo, defendendo, sobretudo, a antropologia cristã e os valores morais", já que ela compartilha com a Igreja católica os fundamentos da doutrina dogmática e dos sacramentos.

"Nas dinâmicas do diálogo teológico entre católicos e ortodoxos, o patriarcado de Moscovo se posicionou de forma crítica no tocante às discussões recentes sobre o primado na Igreja, considerando o assunto ambíguo". Por outro lado, "a recente crise política que afectou as relações entre Rússia e Ucrânia está provocando tensões também interconfessionais: o patriarcado pede que o Vaticano tome posições mais claras na disputa entre as jurisdições eclesiásticas na Ucrânia, que afectam muito as relações entre os dois países e entre as próprias comunidades ucranianas. Roma mantém a prioridade da liberdade de consciência e a livre determinação dos povos e das comunidades religiosas". O professor do Pontifício Instituto Oriental considera que "o metropolita Hilarion vem para esclarecer, na medida do possível, estas questões".

Caprio falou também das iniciativas a ser implementadas num futuro imediato no caminho do ecumenismo. "A história do ecumenismo moderno tem resultados extraordinários no conhecimento mútuo e no respeito entre todas as confissões cristãs, mas, nos últimos vinte anos, o diálogo tem marcado o passo; a dimensão global do terceiro milénio complicou bastante as relações ecumênicas em vez de favorecê-las".

E explica: "No lugar dos grandes consensos e fóruns mundiais, agora existe a necessidade de mais impulso à colaboração directa local, no testemunho evangélico e na caridade vivida. Na Europa, é prioridade a fraternidade laboriosa entre a Igreja católica e as comunidades ortodoxas, que são uma realidade considerável das sociedades ocidentais".

"Isto, por um lado, favorece o conhecimento e a confiança recíproca, mas, pelo outro, cria problemáticas pastorais novas, que as estruturas católicas tradicionais nem sempre estão preparadas para enfrentar de modo uniforme".

Sem comentários:

Enviar um comentário