Stefano Caprio, professor do Pontifício Instituto Oriental, explica o encontro e diz que a fraternidade entre imigrantes ortodoxos e católicos favorece o ecumenismo de base
Cidade do Vaticano, 22 de Outubro de 2014 (Zenit.org) Rocio Lancho García
O papa Francisco recebeu na semana passada o presidente do
Departamento para as Relações Eclesiásticas Exteriores do Patriarcado de
Moscovo, o metropolita Hilarion, que transmitiu ao Santo Padre a
saudação do patriarca de Moscovo e de todas as Rússias, Kirill. Por sua
vez, o papa enviou as suas saudações ao patriarca.
A reunião dedicou grande atenção à dramática situação na Ucrânia,
onde há quase um ano os conflitos tiram milhares de vidas. Em
comunicado, o patriarcado informa que o metropolita "falou da situação
na Ucrânia oriental, onde três sacerdotes foram assassinados e cerca de
cinquenta igrejas foram completa ou parcialmente destruídas".
Também a dramática situação da população cristã no Oriente Médio foi
abordada. "As duas partes revelaram a necessidade de acções conjuntas das
Igrejas em defesa dos cristãos na região do Oriente Médio", diz o
comunicado. A propósito, o metropolita Hilarion informou ao papa sobre
as iniciativas da Igreja russa neste campo e lhe agradeceu pelo
constante compromisso em favor da paz.
Foram tocados ainda outros aspectos da cooperação católico-ortodoxa.
Hilarion expôs os progressos e resultados da XIII Sessão Plenária da
Comissão Mista para o Diálogo Teológico Católico-Ortodoxo, que aconteceu
de 15 a 22 de setembro em Amã, Jordânia.
O professor do Pontifício Instituto Oriental em Roma, pe. Stefano
Caprio, explicou a ZENIT que as relações entre a Igreja católica e o
patriarcado de Moscovo "têm sido muito cordiais e sem sombras" neste ano e
meio de pontificado de Francisco. "O patriarcado de Moscovo olha com
interesse para o primeiro papa não europeu, até porque a Rússia é um
país multiétnico e multicontinental, com fiéis dispersos por todo o
mundo e com um olhar universal para a missão da Igreja. Os gestos e
palavras de Francisco, que mostra querer dar ao serviço petrino uma
marca mais de comunhão e ecuménica, não podem deixar de contar com a
simpatia de todos os ortodoxos. Hilarion está em Roma com frequência e o
diálogo com a Sé Apostólica é construtivo".
Sobre o diálogo entre a Igreja católica e a Igreja ortodoxa russa, o
especialista afirmou que "nos últimos dez anos ele superou o fechamento
do fim dos anos noventa, voltando a ser mais franco e directo. A Igreja
russa pede que todos os cristãos testemunhem juntos a fidelidade aos
valores cristãos tradicionais perante os grandes desafios do mundo
contemporâneo, defendendo, sobretudo, a antropologia cristã e os valores
morais", já que ela compartilha com a Igreja católica os fundamentos da
doutrina dogmática e dos sacramentos.
"Nas dinâmicas do diálogo teológico entre católicos e ortodoxos, o
patriarcado de Moscovo se posicionou de forma crítica no tocante às
discussões recentes sobre o primado na Igreja, considerando o assunto
ambíguo". Por outro lado, "a recente crise política que afectou as
relações entre Rússia e Ucrânia está provocando tensões também
interconfessionais: o patriarcado pede que o Vaticano tome posições mais
claras na disputa entre as jurisdições eclesiásticas na Ucrânia, que
afectam muito as relações entre os dois países e entre as próprias
comunidades ucranianas. Roma mantém a prioridade da liberdade de
consciência e a livre determinação dos povos e das comunidades
religiosas". O professor do Pontifício Instituto Oriental considera que
"o metropolita Hilarion vem para esclarecer, na medida do possível,
estas questões".
Caprio falou também das iniciativas a ser implementadas num futuro
imediato no caminho do ecumenismo. "A história do ecumenismo moderno tem
resultados extraordinários no conhecimento mútuo e no respeito entre
todas as confissões cristãs, mas, nos últimos vinte anos, o diálogo tem
marcado o passo; a dimensão global do terceiro milénio complicou
bastante as relações ecumênicas em vez de favorecê-las".
E explica: "No lugar dos grandes consensos e fóruns mundiais, agora
existe a necessidade de mais impulso à colaboração directa local, no
testemunho evangélico e na caridade vivida. Na Europa, é prioridade a
fraternidade laboriosa entre a Igreja católica e as comunidades
ortodoxas, que são uma realidade considerável das sociedades
ocidentais".
"Isto, por um lado, favorece o conhecimento e a confiança recíproca,
mas, pelo outro, cria problemáticas pastorais novas, que as estruturas
católicas tradicionais nem sempre estão preparadas para enfrentar de
modo uniforme".
(22 de Outubro de 2014) © Innovative Media Inc.
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